O emprego que acabavam de me oferecer, como secretária administrativa, exigiria uma considerável responsabilidade. Eu estava entusiasmada. Após trabalhar durante quase um mês com a pessoa que deixaria o posto, estava certa de que, levando em conta que todos os aspectos do trabalho me satisfaziam, Deus havia realmente me guiado ao lugar ideal.
Dois dias antes do final do período de um mês de experiência, tive uma reunião com a diretoria, ocasião em que fui informada que seria admitida como funcionária registrada da empresa e, ao mesmo tempo, revelaram-me a parte oculta de meu trabalho administrativo, referente às contas sociais e financeiras secretas. Fui então informada sobre meu salário real... e o fictício, para que parte da remuneração não fosse declarada ao fisco! Expressei minha surpresa ao saber disso somente dois dias antes do final do meu periodo de experiência, mas, como gostava das minhas novas funções, disse-lhes que daria uma resposta no dia seguinte.
O que deveria fazer? Teria Deus me colocado em tal situação? Realmente, precisava ponderar e orar sobre o assunto.
Era um grande dilema pra mim. Precisava manter meu emprego, pois era responsável pelo sustento de meu filho. Além disso, havia, recentemente, conhecido a Christian Science e isso despertara em mim a necessidade do estrito cumprimento da lei moral no dia-a-dia. A prática desonesta com relação às leis humanas não reflete o governo de Deus, que é todo verdade, todo clareza. Tinha agora um forte desejo de viver de acordo com minha verdadeíra identidade espiritual, que é o reflexo puro e reto de Deus. No Prefácio de Ciência e Saúde, Mary Baker Eddy escreveu: "...para alcançar as alturas da Ciência Cristã, o homem tem de viver em obediência ao Princípio divino dessa Ciência" (p. viii). Uma coisa ficou clara para mim: a aplicação dos princípios da lei divina implica respeito às leis humanas. Passei a maior parte da noite em oração e isso me deu a certeza de que minha prioridade era ser obediente ao Princípio divino. Minha escolha foi viver em harmonia com as leis divinas, expressando retidão e honestidade e decidi informar meu diretor de que aceitaria aquele cargo sob a condição de ter total liberdade para colocar a situação financeira da firma em ordem.
Na manhã seguinte, tive uma reunião com meu diretor. Confirmei meu desejo de continuar no emprego, ao qual eu me adequava muito bem, mas somente poderia seguir em frente, sob a condição de que ele aceitasse colocar certos pontos do negócio, a que ele se referira no dia anterior, de acordo com a lei. Ele respondeu que era o chefe da empresa e que o sistema de remuneração fora estabelecido havia muito tempo, de acordo com o desejo de alguns clientes e empregados. A pessoa que estava deixando o posto havia, de fato, trabalhado daquela maneira por muitos anos. Durante toda a reunião, continuei a orar a Deus pedindo ajuda. Estava muito ansiosa para não perder o emprego, mas, ao mesmo tempo, sabia que não poderia trabalhar ilegalmente. A seu pedido, expliquei-lhe as razões para minha atitude. Disse-lhe que, embora eu quisesse assumir aquelas responsabilidades, também desejava trabalhar dentro da estrutura das leis sociais e fiscais e não participar de nenhuma infração à lei. Isso seria contrário aos meus princípios morais e religiosos. Houve um momento de silêncio, que pareceu uma eternidade. Ele, então, me disse que isso aumentaria enormemente os custos da companhia e arriscaria colocá-la em perigo. Respondi-lhe que, viver de acordo com a lei, parecia-me ser a prioridade e que ao contrário, o perigo poderia surgir de uma auditoria fiscal que detectaria as ilegalidades.
Minha escolha foi viver em harmonia com as leis divinas, expressando retidão e honestidade
Durante a reunião, senti meu corpo todo tremendo, mas permaneci firme e confiante. Mantive estas verdades espirituais no pensamento: Deus é Amor, portanto, Ele não poderia me abandonar nessa situação; Deus é luz: Ele estava iluminando tanto a mim como ao meu empregador para fazermos o que fosse certo; Deus é Verdade: nenhuma situação falsa poderia existir entre os filhos de Deus, que em realidade somos nós. A conversa continuou de forma calma. Finalmente, ouvi meu empregador perguntar como eu procederia, caso ele concordasse com meu ponto de vista. Havíamos chegado a um novo patamar. Dando graças ao Amor divino, a lei do Bem que é toda a presença e todo o poder e quem guia a todos nós, expliquei como pretendia seguir adiante com esse projeto. Após breve negociação, concordamos a respeito do tempo necessário a fum de implementar o projeto. Disse-lhe que, como eu ainda não havia sido incluída na folha de pagamento da empresa, seria bom alterar essa situação para começar sobre um fundamento correto. Ele aceitou. Para mim, não havia mais nenhuma questão sobre um salário real e outro fictício. Eu estava cheia de gratidão a Deus, por dar-me a coragem de me manter firme às minhas convicções de que essa futura nova forma de administração da empresa provaria ser uma bênção para todos os envolvidos.
Em Ciência e Saúde, Mary Baker Eddy escreveu: “A honestidade é poder espiritual. A desonestidade é fraqueza humana, que perde o direito à ajuda divina” (P. 453). Para mim, isso foi comprovado durante todos os anos em que trabalhei naquela empresa. O diretor tinha completa confiança em mim e deixava todos os encargos administrativos, bem como outros trabalhos, sob minha responsabilidade. Tinha excelentes relações com todos, desde diretores, empregados e clientes, fundamentadas na integridade, correção e honestidade. Não era nenhum segredo que eu confiava na oração para resolver as situações difíceis que surgiam em meu trabalho, como também falava abertamente sobre minha religião com aqueles que eu desejava conhecer melhor. A Bíblia e um exemplar de Ciência e Saúde sobre minha mesa, arrancavam sorrisos daqueles que os viam pela primeira vez, mas também respeito. Frases desses livros, que eu deixava bem à vista sobre minha mesa, extraídas do meu trabalho espiritual matinal, algumas vezes, davam margem a comentários por parte de meus colegas, mas sempre de natureza gentil. Tive inúmeras oportunidades de ouvir e ajudar vários deles e de lhes dar exemplares do Arauto e de Ciência e Saúde. Algumas dessas pessoas continuam a estudar a Christian Science, até hoje.
Cerca de uns oito anos após ter entrado para aquela empresa, fomos informados de que haveria duas auditorias, uma fiscal e outra trabalhista. A diretoria e eu aguardamos serenamente pela conclusão dessas auditorias, que se estenderam por vários meses. Uma auditoria nunca é fácil, mas eu sabia que, salvo quaisquer erros que eu pudesse ter cometido inadvertidamente, não havia nenhuma infração voluntária da lei. Essa era minha força. Ela estava fundamentada na lei divina, que eu tentava praticar em minha vida pessoal e no meu trabalho. Respondi a muitas perguntas e apresentei todos os documentos solicitados pelos auditores, que ocuparam meu escritório por dias a fio. Um clima de confiança foi estabelecido e tudo correu muito bem. Nenhuma conseqüência embaraçosa surgiu para perturbar a intensa atividade da empresa, que empregava 100 pessoas. Antes de terminar o trabalho na empresa, um dos auditores solicitou uma reunião privada comigo. Legalmente, a auditoria poderia cobrir somente os últimos cinco anos, mas acho que ele suspeitava dos anos anteriores. Perguntoume diretamente se as contas da empresa haviam sempre sido administradas da forma que o eram atualmente. Ele me olhou direto nos olhos. Orei a Deus para que me guiasse. Ouvi-me dizendo que poderia responder somente pelo que eu mesma havia feito e que meu desejo havia sido e era o de agir com a maior integridade e honestidade possível, com relação a todos. Ele me disse que estava convencido disso e que era justamente por essa razão que ele não havia solicitado uma ordem de derrogação a seus superiores para proceder a investigações sobre as contas anteriores da empresa. Isso foi para mim uma confirmação de que a atitude a que fui levada a assumir, embasada em minha nova compreensão de Deus e do homem íntegro que Ele criou, havia abençoado a todos nós.
Aqueles foram anos muito ricos em minha prática da Christian Science. Tenho sido muito feliz no estudo espiritual necessário para me estabelecer firmemente no Princípio divino. Tenho tido inúmeras ocasiões para constatar a confirmação destas palavras de Mary Baker Eddy: “A fidelidade encontra recompensa e força no propósito elevado. Procurar não é suficiente para se chegar aos resultados da Ciência: precisas esforçar-te; e a glória do esforço vem da honestidade e da humildade” (Miscellaneous Writings [Escritos Diversos], p. 341).
