Eu era artista, poeta, matemática e... mulher. O que me fez pensar que deveria ir para uma escola de engenharia? No final da década de 1970, engenharia era considerada um “clube do bolinha”, um reduto masculino muito bem protegido.
Para começar, minha mãe, ela mesma uma artista, já havia desencorajado minha vocação artística, uma vez que, de acordo com a experiência dela, sendo mulher, eu teria poucas oportunidades (se eu soubesse, naquela época, o que sei hoje sobre desafiar limitações, talvez tivesse contestado essa sugestão). Encorajada pelos meus pais e professores como tendo um talento especial para a matemática, talento esse que poderia ser usado como um meio de subsistência futura, candidatei-me a uma escola de engenharia de muito prestígio e fui aceita. Minhas notas altas impediram a escola de me recusar abertamente, portanto, me convidaram para uma entrevista, onde disseram “à garota” que ela não se enquadraria de maneira nenhuma no programa. Muito embora tenha me retirado em lágrimas, a entrevista me estimulou ainda mais e me matriculei na faculdade.
Bem, eles estavam certos. A escola de engenharia estava cheia de enormes obstáculos. Não somente me encontrei em um ambiente totalmente masculino, mas a maioria dos estudantes não era sequer de origem americana, portanto, juntamente com os preconceitos da minha própria cultura, enfrentava os globais, também. Tentei ser uma “garota” com a tarefa de fazer um projeto em equipe com rapazes de culturas em que era simplesmente inaceitável que um homem sequer olhasse uma mulher nos olhos!
Contudo, uma coisa boa aconteceu durante esse período. Descobri a Ciência Cristã. Trabalhando no departamento de física com uma grande experiência sobre a decomposição do próton, comecei a realmente duvidar da existência da matéria. À medida que mergulhava, cada vez mais fundo, na física quântica, investigando a matéria sob um ponto de vista científico, literalmente não encontrei nada de concreto ou substancial ali. Exames mais rigorosos repetidamente apresentavam a mesma conclusão. Ora, até aquela ocasião havia entretido dúvidas veementes com relação à existência de Deus, embasada em uma simples lógica: não acreditava que tanto a matéria como Deus pudessem existir, já que eram contraditórios. Uma vez que cada um deles era a antítese do outro, raciocinei que ambos não poderiam co-existir, porque um negava o outro. Sempre aceitara que a matéria fosse real, uma vez que ela parecia obviamente a mais substancial dos dois. Mas agora, para mim, a matéria estava sendo comprovadamente o elemento insubstancial quando comparado ao outro; portanto, resolvi encontrar uma resposta satisfatória para a realidade. Ao adquirir meu primeiro exemplar de Ciência e Saúde em uma palestra que assisti no campus, fiquei encantada pela maravilhosa mistura de poesia e lógica. Desde que o encontrei, nunca mais consegui deixá-lo. Havia descoberto a resposta científica e metafísicsa para a minha busca.
Comecei a compreender que meu motivo para trabalhar e me desenvolver em um campo anteriormente reservado para homens devia ser um motivo justo, uma vez que tudo repentinamente começou a florescer.
No livro, Mary Baker Eddy escreveu que um motivo justo tem sua recompensa (ver p. 453). Comecei a compreender que meu motivo para trabalhar e me desenvolver em um campo anteriormente reservado para homens devia ser um motivo justo, uma vez que tudo repentinamente começou a florescer. Passei do ressentimento de ser a única mulher na escola, a ser procurada e, algumas vezes, preferida no mercado de trabalho. Contudo, sentia que era porque as empresas estavam procurando preencher cotas referentes a sexo e isso não me dava o progresso individual que procurava. Ainda ansiava por ser aceita e valorizada pelos meus próprios méritos.
Decidi aceitar um emprego em um projeto de obras públicas em Nova Iorque e me foram designados 40 edifícios públicos, como também 40 milhões de dólares, para fazer todas as renovações que julgasse prioritárias. Imediatamente apareceram as facções homens contra mulheres, com a exceção de que, nessa equação, eu era a única mulher! Meus chefes, que eram nomeados pelo governo ou eleitos para seus cargos, tinham somente uma agenda política, ou seja, aplacar seus eleitores com promessas de alocação de numerário para fazer andar as obras. Esses chefes delegaram o processo inteiro a mim, sem qualquer apoio prático ou expectativas honestas com relação ao trabalho a ser efetivamente realizado. A equipe pela qual eu era responsável, as empreiteiras contratadas e seus operários resistiam ao meu entusiasmo e comprometimento em entregar um trabalho bem-feito, uma vez que as empreiteiras estavam acostumadas a receber o pagamento, trabalhando o menos possível.
O típico modelo masculino com o qual tinha de me defrontar regularmente era aquele no qual quem tivesse o maior ego e fosse o melhor no uso de sua influência no ambiente de trabalho, era o vencedor. Esperavam que eu fosse falar abertamente o que pensava, mas sabia que entrar em uma confrontação direta com meus colegas homens não era a solução. Como resultado do meu estudo cada vez mais profundo da Ciência Cristã, sabia que minha orientação tinha de vir de uma fonte mais elevada, o que significava ver toda a situação de uma forma radicalmente diferente. Contudo, tinha pesadelos com enormes operários me empurrando de arranha-céus em construção. Eu acordava em plena queda livre.
Li no primeiro capítulo da Bíblia que “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gênesis 1:27). A Sra. Eddy declarou em Ciência e Saúde: “A união das qualidades masculinas com as femininas constitui inteireza” (p. 57). Se isso era verdadeiro, podia saber que Deus criara meus chefes, os operários e eu, todos nós, com qualidades tanto masculinas como femininas. Deus certamente expressa a gama completa de Suas qualidades e atributos, portanto, também nós o fazemos, como Seus filhos criados à Sua imagem.
À medida que reduzia as pessoas às suas qualidades essenciais (da forma como costumamos fazer com as partículas na física), compreendia as similaridades inerentes que estavam presentes em cada pessoa.
Compreendi que todos nós possuíamos as qualidades masculinas de força e coragem, ao mesmo tempo em que cada um de nós expressava igualmente as qualidades de ternura, usualmente atribuídas às mulheres. À medida que reduzia as pessoas às suas qualidades essenciais (da forma como costumamos fazer com as partículas na física), compreendia as similaridades inerentes que estavam presentes em cada pessoa. A lista completa, das qualidades derivadas de Deus presentes em uma mulher era muito semelhante à do homem. Também idênticas eram as listas para chefe e empregado. Minha compreensão, cada vez maior dessa igualdade divina, passou por um longo caminho até chegar à eliminação do conceito de competição, quando me comparava aos outros, ou baseava minha autoestima na opinião dos outros.
Transformar aparências exteriores em qualidades derivadas de Deus foi totalmente libertador, porque agora compreendia que todos manifestamos o conjunto completo dos atributos de Deus, não por causa de nossas próprias virtudes, mas porque Deus está refletindo essas qualidades em cada pessoa. Comecei uma caça ao tesouro para reconhecer cada partícula dessa verdade, onde conseguisse encontrar.
Chegava ao canteiro de obras, a cada dia, determinada a ver Sua imagem e semelhança em ação, ao invés de uma equipe beligerante. Conseguia reconhecer e acalentar as mesmas qualidades, tanto no operário como no cliente, as quais também me esforçava por reconhecer em mim mesma. Todos nós éramos igualmente capazes, pacientes, justos e fortes. As idéias que aprendia na Ciência Cristã me ajudavam a cultivar um ambiente de amor e cuidado genuínos, o qual me era retribuído de inúmeras maneiras práticas. Os operários começaram a antecipar meus pedidos de como melhorar o trabalho deles, como também a gostar de demonstrar sua aprovação por eu fazer mais do que me era exigido. Um empreiteiro até desenhou umas alças de proteção especiais para mim, do tipo usado por alpinistas, a fim de que eu pudesse subir com segurança nos andaimes móveis quando estava grávida, para espanto dos pedestres boquiabertos lá em baixo na rua.
O benefício adicional de me identificar com essa igualdade divina foi descobrir que todos nós temos vastos recursos e atributos que são dons de Deus, recursos esses que vão além de qualquer conjetura humana e aos quais temos acesso a todo o momento. À medida que acessamos uma gama maior desses dons, não somente os percebemos em nós mesmos, mas os ampliamos nos outros. Como resultado, os empreiteiros passaram a competir afoitamente entre eles para obter os contratos de trabalho com os quais eu estava envolvida, porque perceberam que seus operários trabalhavam além do que eles acreditavam fosse a capacidade máxima deles. Isso, em troca, produziu clientes satisfeitos, uma vez que seus projetos eram entregues dentro do prazo e abaixo do orçamento, o que é raro na indústria da construção.
Enquanto terminava projeto após projeto, por fim dirigindo minha própria firma, descobri que a Ciência Cristã é sempre de grande ajuda em meu trabalho de levantar arranha-céus na cidade de Nova Iorque. Quando as pessoas estão em busca de excelência, não importa a elas de qual gênero, se masculino ou feminino, essa qualidade irá surgir. Ironicamente, foram as qualidades que nós tradicionalmente rotulamos como femininas que, de forma irresistível, mais contribuíram para meu sucesso. Prosperei em minha profissão porque trabalhei para pôr em prática todos os atributos de Deus, não apenas os tipicamente masculinos, em um “mundo de homens”.
Comparava a engenharia com o que chamava de meu “playground” da Ciência Cristã. Havia sempre oportunidades de resolver problemas, dos quais muito poucos tinham, remotamente, qualquer coisa a ver com engenharia e tudo a ver com Ciência Cristã. Comecei a me especializar em edifícios históricos, legalmente designados como marcos, e descobri que a burocracia renitente que acompanhava esse tipo de trabalho se dissolvia rapidamente, por meio da oração. As comissões me contratavam como engenheira somente para depois descobrirem que, de maneira mais significativa, a harmonia era trazida às partes em litígio em suas cooperativas. Tornei-me uma “caçadora de vazamentos” (uma atividade relacionada com aço corroído) ao seguir a orientação infalível da Mente. Mesmo quando fisicamente não podíamos ver a solução, sabia que a resposta estava ali, uma vez que a Mente divina a incluía e, sempre, a solução era revelada. Em uma cidade conhecida pela corrupção no setor da construção, meu estudo espiritual sustentava minha posição pela integridade, que ia muito além dos limites de gênero.
Por fim, o estudo da Ciência Cristã simplesmente ultrapassou a engenharia e passei a me dedicar à prática pública da cura pela Ciência Cristã. Não olhei para trás. Testemunhar o poder de Deus de renovar vidas é muito mais recompensador do que minha carreira anterior de renovar aço. Se a engenharia começou como uma busca por teoria aplicada de forma prática, descobri a Ciência Cristã como o resumo da teoria, aplicada de maneira prática. Ela também é uma arte jubilosa e poética.
Contudo, o mais importante é que passei a conhecer a mim mesma, não como uma mulher ou uma profissional, mas como a amada idéia de Deus, muito além do estereótipo ou limitação, completa, com todas as qualidades de Deus de compaixão, força e humildade. Descobri que tinha méritos porque Deus me criara assim.
