Está em andamento um grande esforço internacional, com o objetivo de fazer da pobreza uma coisa do passado. Creio que estaremos muito mais próximos desse objetivo, quando erradicarmos os efeitos paralisantes de uma condição que empobrece nosso mundo: a culpa.
Em uma cultura de culpa, as pessoas ficam inclinadas a fechar os olhos para as soluções. Existe uma tendência a se acreditar que problemas sociais são causados por fatores externos, criados por outros, e que as pessoas não têm nenhum poder para efetuar mudanças.
Compreendi que, sempre que penso sobre as pessoas como vítimas de algo fora de seu controle, ou quando sou indulgente com a alienação, o desafeto e o cinismo, resisto à idéia de que existem soluções para os problemas da pobreza.
Quando eu era professora na grande cidade multicultural de Birmingham, na Inglaterra, as famílias das crianças para as quais eu dava aula haviam se mudado de casas pobres e inadequadas para grandes blocos de apartamentos.
Toda a comunidade fora dividida em pedaços
Contudo, elas não estavam felizes com a mudança. A rotina de fazer compras e de outras atividades regulares foram drasticamente alteradas. As pessoas foram separadas dos amigos com os quais haviam convivido muito estreitamente durante anos. A estrutura da comunidade fora desfeita e era difícil para elas encontrarem um senso de vizinhança no novo ambiente.
Isso afetava meu trabalho na sala de aula, porque as crianças dessas famílias começaram a se comportar mal em classe e o rendimento escolar também diminuiu. Levei algum tempo para compreender que eu estava usando a mudança de ambiente delas como uma desculpa para o baixo desempenho em classe. Pensava: “O que se pode esperar? É inevitável que elas se saiam mal na escola, uma vez que sua vida está em tal estado de convulsão”.
Havia aceitado que não havia nada que eu pudesse fazer para melhorar a situação. Contudo, importava-me bastante com as crianças e desejava ajudá-las.
Levei algum tempo para compreender que eu estava usando a mudança de ambiente de meus alunos como uma desculpa para o baixo desempenho em classe.
Precisava mudar meu pensamento
Estudava regularmente a Bíblia e Ciência e Saúde e recorria a esses livros para inspiração. Uma declaração eficaz da Sra. Eddy se sobressaiu: “A Ciência Cristã explica que toda causa e todo efeito são mentais, não físicos” (p. 114). Compreendi que, neese caso, precisava mudar meu pensamento. Mas como?
Então, aconteceu algo que me ajudou a focar no que precisava ser feito.
Um pai muito zangado entrou intempestivamente na sala de aula onde eu estava ensinando. Ele achava que eu era culpada pelo comportamento rebelde de seu filho em casa. Ele chegou até a mostrar seus punhos para me intimidar.
Permaneci muito calma e o pai finalmente saiu vociferando do recinto.
Enquanto orava a respeito da situação, reconhecendo que o Amor divino cuidava de mim, compreendi que, ao invés de culpá-lo por ser irracional e agressivo, precisava mudar meu conceito a respeito dele. Mais tarde, senti compaixão por aquele homem. Esse era um sinal de que meu pensamento estava mudando de direção.
Onde a bondade de Deus está, não existe nenhuma possibilidade de discórdia.
Volvi-me à atitude sanadora ensinada por Cristo Jesus: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:39). Não necessitava de nenhum pedido de desculpa do homem, precisava apenas de perdão em meu próprio coração. Compreendi, com grande alegria, que podia perdoar a mim mesma por ter aceitado mentalmente a crueldade daquela situação. A realidade espiritual que onde a minha consciência foi o fator sanador. Estava confiante de que onde a bondade de Deus está, e ela está em toda parte, não existe nenhuma possibilidade de discórdia de qualquer tipo.
Como resultado dessa oração, meu relacionamento com aquele pai mudou para uma atitude de cooperação. Houve uma melhora significativa na postura do homem e eu nunca mais tive qualquer problema com ele.
O desinteresse e a letargia na sala de aula foram substituídos, em um grau muito maior, pelo empenho e por atividades construtivas.
Algumas vezes, é difícil analisar uma evolução como essa, já que não houve nenhuma mudança concreta na situação habitacional dessas crianças. Entretanto, por meio da oração, conforme descrevi, atitudes pacíficas substituíram reações mentais inflamadas. Considerei isso como resultado da minha disposição em abrir mais o pensamento para a presença do Amor divino. As crianças e eu nos sentimos calmas e houve uma melhora nos níveis de concentração e de felicidade na sala de aula.
Por meio da oração, atitudes pacíficas substituíram reações mentais inflamadas. Considerei isso como resultado da minha disposição em abrir mais o pensamento para a presença do Amor divino.
Aprendi a obter domínio sobre a negatividade.
Estava aprendendo a não me sentir desafiada pela negatividade, mas, ao contrário, a obter domínio sobre ela. Consegui isso pelo reconhecimento do bem divino, ao invés da culpa, como a única influência possível em minha vida diária.
Quer o desafio seja em uma escola ou no mundo, é tão fácil dizer a nós mesmos: “É assim que as coisas são. As soluções estão além do meu controle. Não existe nada que eu possa fazer”. Contudo, conforme a experiência na sala de aula me ensinou, a oração é algo que está ao alcance de todos e que faz a diferença.
Então, como é que alguém ora a respeito de um problema tão grande como a pobreza? Não existe nenhuma fórmula. Sempre que oro, faço-o de uma maneira diferente. Uma coisa é certa: a oração nos ajuda a compreender Deus, e a obter um senso mais elevado do bem.
Compaixão, consentimento, convicção.
Gosto de trabalhar com estas três palavras que me ajudam a manter minhas orações centradas: compaixão, consentimento e convicção.
Compaixão: Sondo meu coração para me certificar de que sinto profunda compaixão por aqueles pelos quais oro. Sei que, sem esse amor, minha oração será de pouca utilidade. Eu acredito que o Amor divino seja a fonte da compaixão que sinto e essa é a razão pela qual esse amor tem poder.
A compaixão humana é importante, mas não é suficiente Para curar a pobreza do mundo. As coisas mudarão com a compreensão de que o Amor divino age universalmente. É uma grande aventura mental aceitar e assimilar esse Amor e isso começa com nossa recusa em tomar parte no jogo da culpa.
Consentimento: Afirmo que não darei meu consentimento a nada que tente me afastar do amor que sinto. Isso nem sempre é fácil, especialmente nos casos de desastres naturais, mas é necessário. Por exemplo, faz pouco tempo, vi fotografias horríveis de pessoas morrendo de fome, ao esperar por uma equipe de resgate para lhas trazer ajuda. De início, culpei a equipe de resgate, mas então compreendi que aqueles pensamentos culposos não ajudariam ninguém.
Dar o consentimento é tomar parte na tragédia, desculpar o mal. Ao invés disso, lembro-me de que o Amor divino tem todo o poder. Fico fora do problema e permaneço mentalmente forte, mantendo a compaixão e a confiança na veracidade do bem.
Convicção: Minha convicção é a de que o poder está com Deus, o Amor divino e não deixarei que qualquer sombra de dúvida dissipe essa confiança. Não me culparei por não fazer mais do que me sinto capaz de fazer. Meu trabalho é compreender mais sobre o poder do Amor divino, cuja voz pode ser ouvida por todos que estejam em aflição.
Confio nesta declaração de Ciência e Saúde: “O Amor divino sempre satisfez e sempre satisfará a toda necessidade humana” (p. 494). Na sala de aula e, em incontáveis vezes desde aquela ocasião, tenho vivenciado essa verdade.
O que descobri é que quando o bem, ao invés da culpa, está em primeiro lugar em nosso pensamento, a receptividade à influência divina é inevitável. O resultado de tal abertura ao bem é sempre belo e harmonioso para todos.
Quando o bem está em primeiro lugar no pensamento, somos receptivos à influência divina.
O Amor divino é muito mais do que a generosidade e o perdão humanos, apesar de serem fundamentais. É o poder que oblitera a crença errônea de que coisas, como a culpa, possam assumir o controle. O que descobri é que quando o bem, ao invés da culpa, está em primeiro lugar em nosso pensamento, a receptividade à influência divina é inevitável. O resultado de tal abertura ao bem é sempre belo e harmonioso para todos.
A sociedade seria grandemente enriquecida se a “culpa” fosse desconhecida. Estaríamos mais próximos de demonstrar o reino dos céus na terra.
A Sra. Eddy expressou o impacto dessa compreensão espiritual melhor do que eu. Ela escreveu: “Aprendamos do real e eterno, e preparemo-nos para o reino do Espírito, o reino dos céus — o reino e o governo da harmonia universal, que não pode ser perdido nem pode permanecer para sempre invisível” (Ciência e Saúde, p. 208).
No reino do Espírito, a culpa será desconhecida porque nossa vida real e eterna, como filhos de Deus cheios de amor, libertará a todos nós eternamente da culpa.
