Assim que o policial gritou comigo, pensei, "não deixá-lo cometer esse engano".
Ele havia mandado encostar meu carro, quando eu trafegava por um bairro de classe média alta de maioria branca nos Estados Unidos, porque estava dirigindo com os faróis apagados. Havia me esquecido de acendê-los, e presumi que o policia me daria apenas uma advertência. Contudo, quando ele se aproximou, disse-me que ele havia farejado drogas e que iria revistar o carro. (Não havia nenhuma droga no carro).
Infelizmente, essa é uma cena comum nas interações entre um policial branco e um cidadão negro. Ao longo dos anos, fui parado muitas vezes, sob pretextos semelhantes. Para mim, um afro-americano, isso é racismo, ou, como é chamado aqui, perfil racial (um perfil criado a partir de características raciais ou étnicas para determinar se uma pessoa é considerada com possibilidades de cometer um determinado tipo de crime ou ato ilegal, ou comportar-se de maneira previsível, [Wikepedia.org]).
Sentia-me humilhado e agredido com esses incidentes
No passado, ficava muito zangado quando algo assim acontecia. Sentia-me humilhado e agredido; entretanto, dessa vez foi diferente. Fiquei calmo.
Por quê? Em primeiro lugar, porque eu sabia que não havia nenhuma droga no meu carro. Segundo, porque eu voltava para casa, após inspiradora reunião de testemunhos na igreja. O tema da reunião fora sobre a identidade espiritual do filho de Deus.
Quando sugeri ao policial que ele podia estar enganado, ele começou a gritar comigo e disse: "Você está me chamando de mentiroso? Se não tem nenhuma droga, deixeme revistar seu carro"!
Foi quando me volvi a Deus em oração e me veio o pensamento de fazer a minha parte para ajudar o policial a não cometer esse erro.
Foi uma mensagem de paz interior
Não foi um pensamento de revide à agressividade. Foi uma mensagem de paz interior, assegurando-me de que Deus estava presente e de que minhas orações estavam sendo atendidas. Quando o policial gritou, olhei para ele. Não olhei para sua atitude beligerante, mas para um concidadão, um irmão meu.
Na ocasião, eu servia no Americorps (um programa do governo federal americano de voluntários que servem em áreas que vão desde educação pública até limpeza ambiental, também conhecido como VISTA [Wikepedia.org]). Trabalhava com organizações comunitárias que visavam a melhorar a vida das pessoas na comunidade. Como voluntário do VISTA, eu estava seguro de que servia minha comunidade.
Olhando para aquele policial, compreendi que ele provavelmente sentia-se da mesma maneira em relação ao seu trabalho, ou seja, que ele trabalhava diligentemente para sua comunidade. Fiquei grato por essa compreensão e isso me assegurou que ele também podia reconhecer a honestidade e a verdade.
Disse ao policial que eu consentiria na busca, se ele chamasse um outro policial para servir de testemunha. Ele não gostou do que eu disse e pediu que eu saísse do carro. Alguns minutos mais tarde, um outro policial chegou e disse que eu tinha duas escolhas: ou eu permitiria que eles revistassem o carro, ou eles ligariam para um juiz e obteriam uma autorização de busca. "De qualquer maneira, vamos revistar seu carro", disse ele. Eles me deram um tempo para pensar nessa proposta.
Estava ainda mais grato por não ter ficado zangado
Ative-me às ideias espirituais de minhas orações, que fizeram com que me sentisse confiante e reconfortado nessa situação. Contudo, estava ainda mais grato por não ter ficado zangado. Na verdade, achava que estava ajudando os policiais a fazerem a coisa certa. Ao incluí-los em minhas orações, sabia que Deus envolvia a todos nós, proporcionava-nos as ideias corretas e mostrava o curso correto de ação a ser tomado.
Foi nesse momento que pensei em irmãos de uma forma espiritual.
Tenho três irmãos e, apesar de termos tido nossa quota de brigas, nos amamos muito. Sou testamunha desse amor expresso no respeito e no cuidado que temos com a vida uns dos outros. Compreendi que aqueles policiais também eram meus irmãos, com um único Pai-Mãe Deus como nosso Criador.
Enquanto orava, percebi uma mudança na atitude do primeiro policial. Toda sua maneira de proceder mudou. Ele se aproximou de mim e, com voz educada, disse: "Senhor, vou ter de multá-lo por dirigir com os faróis dianteiros apagados". Respondi-lhe que compreendia, agradeci, entrei no carro e parti.
Na manhã seguinte, contei para minha diretora de projeto o que havia acontecido. Ela ficou comovida com a história e pediu que eu compartilhasse com outros jovens aquilo que me ajudou a não ficar zangado.
Ao escrever minha história, espero estar fazendo exatamente isso. Minhas orações ajudaram a mim e aos policiais. Aprendi que nem sempre tenho de me sentir impotente diante de qualquer tipo de injustiça. Agora, considero a oração como uma maneira proativa de lidar com situações tensas.
