Algumas vezes, o Consolador nos fala sob a forma de um sussurro, não da forma ruidosa que esperamos. Será que estamos na expectativa de que o Espírito Santo sempre venha a nós com força e em alto volume como Lucas, o médico-jornalista do Novo Testamento, relata em Atos 2:2? Nesse versículo, ele testemunhou o aparecimento do Consolador no dia de Pentecostes, desta forma: "de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso".
Suave ou ruidosamente, como uma brisa gentil ou um vento impetuoso, o Espírito Santo sempre fala a nós. Seus modos de expressão são ilimitados; estou descobrindo que meus meios de reconhecimento precisam ser igualmente ilimitados.
Certa ocasião, consegui finalmente ouvir a mensagem do Consolador depois do que parecera uma longa espera, ou será que eu finalmente estava disposto a ouvir com o coração, ao invés de com a cabeça? Em meados de abril de 2000, uma dor incômoda apareceu no braço e no ombro. Havia confiado no tratamento da Ciência Cristã pela oração, para cuidar da saúde, desde que tinha idade suficiente para tomar minhas próprias decisões, portanto, foi natural que me volvesse à oração para tratar desse problema. Foi o que fiz, mas sem muita energia ou inspiração, e também sem nenhum efeito imediato.
Certo dia, enquanto falava ao telefone com meu irmão mais novo colocando nossos assuntos em dia, ele me perguntou como eu estava. Mencionei a dor e sua localização. Ele me disse algo mais ou menos assim: "Provavelmente é bursite. Tive isso e você precisa apenas se acostumar a ela". Acho que ele atribuía o problema a um determinado estágio da vida e aos anos praticando esportes que envolviam lançamento de bolas e uso de raquetes de tênis. Meu irmão se utiliza da medicina para tratar da saúde, mas respeita minhas escolhas. Por isso, ele não recomendou nenhum tipo de tratamento e passamos a falar de outras coisas.
Naturalmente, não sei se seu diagnóstico amadorista estava correto. A dor persistia, embora não piorasse. Tornou-se um tipo de voz fictícia que me dizia: "Você não pode se mexer dessa maneira...você não pode esticar o braço até ali".
A dor pode assumir uma identidade parecida com a de uma voz. Ela persistentemente diz: "Sei que você deseja conforto, mas isso está fora de questão e sempre estará". Trazendo a sugestão ilusória da voz de volta às suas origens, ela argumenta que somos essencialmente organismos físicos, matéria orgânica altamente ordenada, e que o corpo humano se desgasta e se desmorona. Uma linha de pensamento popular diz que as práticas espirituais podem ajudar as pessoas a tolerar a dor crônica, da mesma forma que acreditam que os remédios o fazem, mas que isso é o máximo que pode ser feito e que a cura completa não é possível.
Não é difícil aprender a conviver com uma dor de baixa intensidade. No meu caso, ela não alcançava aquele patamar em que o gatilho do medo dispara, portanto, minha oração se tornou uma busca casual por ideias metafísicas que achava poderiam trazer algum alívio. Não muito diferente de tomar um analgésico ocasionalmente.
Com o benefício de uma retrospectiva, percebo agora que o que eu precisava era de uma sede espiritual mais profunda, do tipo que faz com que busquemos a cura derrubando as barreiras mentais. Precisava deixar que o Espírito Santo fosse minha própria voz e impulso e aceitar plenamente que o "Espírito da verdade", que Jesus prometera ao mundo, já estava aqui na Ciência Cristã.
Meu caminho até ali veio, em parte, por meio de uma série de projetos de pesquisas e artigos escritos. Eles fizeram com que me concentrasse em duas questões: "O que é o Cristo para mim hoje e como ele age em minha vida? O que é a Ciência divina e como ela governa a minha vida"? Pesquisei a Bíblia e os escritos de Mary Baker Eddy, especialmente seu livro-texto companheiro da Bíblia, Ciência e Saúde. Além disso, o Evangelho de João no Novo Testamento se tornou a parte principal do meu mapa nessa jornada.
Promessa e descoberta
Sem o livro de João, teríamos somente registros breves da vida e das obras de Jesus em Mateus, Marcos e Lucas, evidência suficiente apenas de que o advento do Cristo em Jesus trouxe cura e salvação ao mundo há 2.000 anos. Contudo, não teríamos a mensagem de João, recebida de Jesus, sobre o Cristo sempre se revelando, sempre ativo na história humana. Com o Evangelho de João, especialmente dos capítulos 14 ao 17, o mundo ganhou a clara promessa de que o Cristo continuaria a aparecer como "outro Consolador", para consolar, confortar, encorajar e advogar pela libertação da humanidade sofredora.
A palavra traduzida como Consolador em João: Paraclete, da palavra grega parakletos, inclui todas essas quatro ações crísticas em sua série de significados. É da natureza do Espírito Santo vir a nós sob a forma que melhor promover nosso desenvolvimento espiritual. Quando crescemos espiritualmente, é o Espírito Santo que impele o progresso.
Se, em vez disso, estivermos nos sentindo angustiados com relação às nossas perspectivas na vida ou com o estado do nosso casamento, ou da nossa igreja, o Consolador já está aqui para nos acalmar o pensamento e revelar uma ideia melhor a fim de impelir o próximo passo de progresso. Se estivermos satisfeitos com a vida em uma zona de conforto, talvez estejamos ignorando o impulso animador para dar mais, para estarmos mais ativos à plena promessa da Vida. Se estivermos nos sentindo estagnados ou sem inspiração, é porque não percebemos plenamente o movimento do Encorajador dentro da consciência, sua disposição de ensinar e mostrar coisas novas. Também, se estivermos nos sentindo sem defesa ou cercados por todos os lados, existe uma saída: O Advogado está pronto a assumir o caso, insistir na defesa, reverter o julgamento e anular a condenação.
Não existe nada de vago ou distante sobre o Espírito Santo, sobre o que o Cristo é e faz em nossa vida hoje, quando sua legitimidade divina for compreendida.
Mary Baker Eddy descobriu que o Espírito Santo é a eterna “Ciência de Deus e do homem ... que revela e sustenta a harmonia intacta e eterna de ambos, Deus e o universo” (Unity of Good [Unidade do Bem], p. 52). Ele não está limitado a um evento de uma única vez no dia de Pentecostes, nem poderia o “Espírito da verdade” ficar reduzido a um conceito teológico de personalidade divina. Ao contrário, o Espírito Santo revela constantemente as mensagens de inteireza, propósito, libertação, alegria e ordem da parte de Deus, qualidades manifestadas em cada um de nós e no mundo em que habitamos. Ao usar nossos sentidos espirituais, podemos discernir a presença do Consolador e sentir seu governo.
O Espírito Santo pode desenvolver qualquer elemento de valor que jaz não desenvolvido dentro de nós, desde um talento até um ato de misericórdia, até a sua plena expressão. O estado mental chamado bloqueio do escritor, por exemplo, é somente o argumento falso de que a autoexpressão da Mente divina como consciência individualizada possa ficar paralisada ou frustrada. Um impasse em uma situação que envolve reféns exige a oração que percebe a ajuda sempre misericordiosa de Deus por meio do Advogado, e que leva todos os envolvidos rumo a uma resolução pacífica.
O que realmente está acontecendo, exatamente onde e quando a mente e o coração humanos (ou sistemas corpóreos, no que diz respeito a isso) necessitam de movimentos saudáveis, é a realidade poderosa que está embutida na definição de Espírito Santo, constante de Ciência e Saúde: “...o desenvolvimento da Vida, da Verdade e do Amor eternos” (p. 588). Em Sua vasta e bela criação, Deus, como Vida, desenvolve frescor perpétuo e energias divinas. A Verdade revela a integridade da criação espiritual, na qual nenhum elemento desintegrador está à espreita. O Amor faz florescer constantemente tanto a criatura como seu habitat; e somente a lei do Amor pode dissolver motivos ignorantes e maliciosamente exploradores e, em seu lugar, dar origem a desejos iluminados e benignos.
Como em qualquer experiência do poder sanador de Deus, a maior felicidade provém de nos descobrirmos mais próximos das revelações do Cristo. É a percepção de ser "um em nós".
Ilimitado e não definido pelo tempo
Em cinco lugares em João 14-16, Jesus falou sobre a vinda do Consolador. Essas promessas esperaram o devido tempo e se exteriorizaram na aceitação do cristianismo pela família humana global. Contudo, ele mesmo logo enfrentaria a crucificação, e a oração de Jesus em João 17 anteciparia tanto aquele evento como a disseminação de sua mensagem após sua ressurreição e ascensão. Ele iria para o Pai; o Espírito Santo continuaria a transmitir sua mensagem de cura aos corações receptivos e a trazer salvação dos males pessoais e sociais.
“Não rogo somente por estes”, disse Jesus, dirigindo-se aos seus discípulos presentes na ocasião, “mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós” (João 17:20, 21). Isso me leva a concluir que ele de fato não somente orou pelas pessoas de todas as épocas que aceitariam sua mensagem, mas que essa mensagem de amor teria um efeito de ligação e de unificação sobre as pessoas tocadas por ela. Estando ligados pelo amor fundamental de Pai-Filho, estaríamos também unificados em nossas comunidades de culto. Além disso, quando mais precisarmos desse amor, sem dúvida a humanidade sentirá a influência restauradora e reveladora do Espírito Santo.
Embora Jesus assegure a seus seguidores que o Espírito da verdade “vos anunciará as cousas que hão de vir” (João 16:13), ele também diz: “[o Espírito da verdade] vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (João 14:26). Ele lhes havia falado sobre a cura de lepra que um líder militar sírio tivera séculos antes, por meio da preconização, ou seja, do aconselhamento de uma jovem hebraica cativa e sobre o encorajamento restaurador de vida que Eliseu trouxera a uma viúva em Sidom, hoje a cidade portuária de Saida no Líbano (ver Lucas, capítulo 4).
As funções do Espírito Santo não são limitadas pelo tempo ou pela geografia. Os patriarcas e os profetas também sentiram e foram movidos pelo Consolador. Por meio de suas obras e visão espiritual, a compreensão pública a respeito de Deus se expandiu e uma nação prosperou por um período. Cerca de cinco séculos antes da época de Jesus, Neemias serviu como um consolador para os israelitas, encorajando um povo desalentado e pleiteando a reconstrução dos muros de Jerusalém. Fiel ao seu nome, pois Neemias significa “consolação do Senhor”, ele respondeu intrepidamente ao impulso do Consolador.
Os efeitos do Consolador
Há mais ou menos um ano, parei de orar especificamente para a dor no braço e ombro. Não desisti da oração; gradualmente cedi à realidade de que o Consolador verdadeiramente está aqui e sempre estará e está universalmente disponível pela Ciência divina ou leis do Amor. Essa, acho eu, foi sempre sua mensagem sussurrada a mim o tempo todo.
Certo dia, há uns quatro meses, notei que a dor se fora e que podia mover meu braço livremente. Não houve nenhum momento decisivo, apenas uma mudança gradual de pensamento, uma convicção mais profunda, um desejo ainda crescente por desenvolvimento espiritual.
Comprei uma nova raquete de tênis e comecei a jogar de novo. É maravilhoso mover o braço com alegria e estou certo de que rebater a bola por cima da rede, em vez de contra ela, virá com a prática.
Contudo, como em qualquer experiência do poder sanador de Deus, a maior felicidade provém de nos descobrirmos mais próximos das revelações do Cristo. É a percepção de ser “um em nós”. Em sua forma mais pura, a oração não é repetir palavras consoladoras com as quais estamos familiarizados. É a voz do Consolador, que serena ou impetuosamente se anuncia à consciência humana e reforça sua própria lei de perfeição e inteireza.
O Espírito Santo amplifica a promessa de Jesus: “Não vos deixarei sem consolo, voltarei para vós outros” (João 14:18 Bíblia King James).
 
    
