Minha amiga dizia: "Minha avó é teimosa! Ela sabe que não pode mais fazer esforço e cisma de varrer o quintal. Já levou um tombo e demorou um tempão para se recuperar. A gente tem de tomar conta dela como de uma criança". Outro amigo também se queixava da insistência de sua mãe, já idosa, em morar sozinha em seu apartamento, quando seria tão melhor morar com os filhos, para que cuidassem dela.
Ouvi e presenciei muitas histórias parecidas. Em 2000, comecei a trabalhar com idosos, utilizando uma técnica de preparação corporal que aprendi quando era bailarina. Essa técnica era bastante adequada, pois ao adaptá-la às condições das pessoas com mais idade, ajudava-as muito a manter a locomoção e, por conseguinte, a autonomia. Como eu atendia em domicílio, acabava conhecendo um pouco da vida daquelas pessoas e também de seus familiares. Percebi que não é fácil lidar com a perspectiva de que uma pessoa, que muitas vezes fora o esteio da família, precisará cada vez mais de cuidados e atenção. Os filhos, que em geral ainda estão ocupados com o trabalho, a carreira profissional, e focados na educação de seus próprios filhos, veem-se, muitas vezes, sobrecarregados com a tarefa de cuidar de pais idosos, com problemas de saúde e teimosos. Ouvi essa queixa de diversas formas e com diversos exemplos.
Aos poucos, fui percebendo que essa teimosia era, de certa forma, compreensível. Uma pessoa idosa sabe que já viveu a maior parte da sua vida e, mesmo sem saber quanto tempo lhe resta, crê-que que não é muito. Alguém que se considera no fim da vida, quer se agarrar ao que lhe parece ser a sua vida. Esse conceito é muito subjetivo, pois pode ser manifestado por um hábito, pelo sabor de um alimento, um lugar especial, pela sensação de autonomia, de tomar suas próprias decisões e de não receber ordens, seja de um filho ou de um médico. Na maioria das vezes, aparece como um sentimento de apego.
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