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Matéria de capa

O valor da compreensão espiritual ao cuidar de idosos

Da edição de outubro de 2010 dO Arauto da Ciência Cristã


Minha amiga dizia: "Minha avó é teimosa! Ela sabe que não pode mais fazer esforço e cisma de varrer o quintal. Já levou um tombo e demorou um tempão para se recuperar. A gente tem de tomar conta dela como de uma criança". Outro amigo também se queixava da insistência de sua mãe, já idosa, em morar sozinha em seu apartamento, quando seria tão melhor morar com os filhos, para que cuidassem dela.

Ouvi e presenciei muitas histórias parecidas. Em 2000, comecei a trabalhar com idosos, utilizando uma técnica de preparação corporal que aprendi quando era bailarina. Essa técnica era bastante adequada, pois ao adaptá-la às condições das pessoas com mais idade, ajudava-as muito a manter a locomoção e, por conseguinte, a autonomia. Como eu atendia em domicílio, acabava conhecendo um pouco da vida daquelas pessoas e também de seus familiares. Percebi que não é fácil lidar com a perspectiva de que uma pessoa, que muitas vezes fora o esteio da família, precisará cada vez mais de cuidados e atenção. Os filhos, que em geral ainda estão ocupados com o trabalho, a carreira profissional, e focados na educação de seus próprios filhos, veem-se, muitas vezes, sobrecarregados com a tarefa de cuidar de pais idosos, com problemas de saúde e teimosos. Ouvi essa queixa de diversas formas e com diversos exemplos.

Aos poucos, fui percebendo que essa teimosia era, de certa forma, compreensível. Uma pessoa idosa sabe que já viveu a maior parte da sua vida e, mesmo sem saber quanto tempo lhe resta, crê-que que não é muito. Alguém que se considera no fim da vida, quer se agarrar ao que lhe parece ser a sua vida. Esse conceito é muito subjetivo, pois pode ser manifestado por um hábito, pelo sabor de um alimento, um lugar especial, pela sensação de autonomia, de tomar suas próprias decisões e de não receber ordens, seja de um filho ou de um médico. Na maioria das vezes, aparece como um sentimento de apego.

Lidar com a situação somente pelo lado prático pode gerar conflitos. Se o parente e o médico enxergarem a vida somente pelas funções fisiológicas, não lhes será possível compreender por que o idoso teima em comer tal alimento proibido ou em realizar alguma tarefa que force a coluna. Cuidar da saúde e do bem-estar dos idosos e preservar seu direito à autonomia parece, às vezes, uma tarefa irreconciliável.

Desde que comecei a estudar a Ciência Cristã, procuro espiritualizar o pensamento sempre que me deparo com conflitos aparentemente sem solução.Isso significa me perguntar em que estou fundamentando meus conceitos. Nos casos descritos anteriormente, considerar a vida apenas como uma experiência humana, que começa no nascimento e termina na morte, não oferece solução para as situações de conflito. Muitas vezes, são exigidas grandes doses de sacrifício e paciência no cotidiano e, por mais que os familiares se amem, nem sempre conseguem evitar cobranças. Discussões e palavras ríspidas trazem um sentimento amargo de remorso e tristeza. Todos têm razão, ou cada um tem a sua razão, mas ninguém sai ganhando. Para sair do conflito é necessário espiritualizar o conceito de vida.

Jesus prometeu a vida eterna aos que o seguissem; ele colocou a vida como um direito inalienável do homem como filho de Deus. Ele disse: "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:16). Ele também declarou: "...eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (João 10:10). Em concordância com suas palavras, curou diversas doenças que limitavam as capacidades das pessoas, dentre elas paralisia, cegueira e hemorragia. À senhora que "andava encurvada", ele não perguntou sua idade. Ele a libertou do cativeiro em que "satanás a trazia presa" (ver Lucas 13:16) e todos glorificaram a Deus.

Esse cativeiro é justamente o conceito material de vida, subjugada às leis materiais e suas limitações. Quando compreendemos o homem, termo que inclui todos os homens, mulheres e crianças, como a imagem e semelhança de Deus, que é Espírito, não podemos pensar no homem como sendo material e com uma história que começa no dia do seu nascimento e termina no de sua morte.

Entretanto, somente crer que a vida não termina com a morte do corpo, muitas vezes não é suficiente para consolar os que sofrem com problemas de saúde ou limitações relativas à idade. Para os que acreditam que a morte é a libertação do sofrimento, não há sentido em preservar a vida. Eles também não têm critério para definir quanto tempo uma pessoa deveria sofrer para finalmente descansar? Além disso, não saber o que esperar dessa "vida", que a pessoa crê que começa após a morte, traz insegurança e medo. Todas essas incertezas me levam à conclusão de que é preciso compreender metafisicamente as palavras de Jesus, as quais prometem vida em abundância.

O estudo da Ciência Cristã tem me ajudado a ampliar o conceito de vida e o de homem. Em Ciência e Saúde, Mary Baker Eddy escreveu: "O homem é imperecível, espiritual. Está acima do pecado ou da fraqueza. Ele não atravessa as barreiras do tempo para entrar na vasta eternidade da Vida, mas coexiste com Deus e o universo" (p. 266). Pensar dessa maneira sobre mim mesma, e sobre todas as pessoas que conheço, muda muito o valor que dou ao tempo presente e me faz perceber o que é imperecível no homem: suas qualidades espirituais.

Certa vez, uma amiga se queixava de que, com a menopausa, havia ganhado peso e aumentado em um número seu manequim. Com sinceridade, respondi que ficava muito feliz em saber que nenhuma de suas qualidades dependia do peso de seu corpo ou do tamanho de suas roupas. Sua beleza transpareceria muito mais pelo amor que ela expressava em suas amizades.

Podemos nos aproveitar de cada manifestação dessas qualidades, por menores que pareçam ser, e ampliar nosso conceito de vida. Apreciar o altruísmo de quem se ocupa do bem-estar de outros, a gratidão de quem se beneficia desse cuidado, reconhecer a gentileza de um desconhecido na rua ou a eficiência de quem nos atende em diversos serviços do cotidiano são maneiras de identificar a presença do Amor divino, que não depende de idade para se expressar. As ações humanas podem passar, mas as qualidades que as motivaram são eternas, pertencem para sempre ao homem criado à imagem e semelhança de Deus. Essa é, a meu ver, uma forma de seguir o ensinamento de Ciência e Saúde: "O homem compreende a existência espiritual na proporção em que aumentam seus tesouros de Verdade e de Amor. Os mortais têm de gravitar rumo a Deus e espiritualizar suas afeições e seus objetivos – têm de se aproximar das interpretações mais amplas do ser e conseguir algum conceito apropriado acerca do infinito – a fim de poderem despojar-se do pecado e da mortalidade" (p. 265).

Houve um momento em que precisei aprofundar meu conceito sobre vida. Minha mãe já tinha mais de 80 anos e se mantinha tão ativa e independente que minhas irmãs e eu mal nos lembrávamos de sua idade. Ela estava sempre pronta a nos ajudar em tarefas diversas, e era muito animada para passeios e qualquer forma de lazer. Gostava de teatro, cinema e, principalmente, de música.

Entretanto, durante o feriado de Ano Novo de 2004, minha mãe adoeceu e precisou ser internada, aparentemente com um problema no fígado. Ela não estudava a Ciência Cristã e preferiu se cuidar pela medicina. Após diversos exames, os médicos nos disseram que não havia a menor chance de cura. Qualquer tratamento seria apenas para melhorar as condições de sobrevida; o mais indicado naquele momento era uma cirurgia para retirada de um tumor.

Recebi essa notícia como um grande impacto, mas imediatamente comecei a me defender mentalmente do que parecia ser uma condenação sem recursos. Comecei a orar enquanto o médico falava, negando aquelas informações e me apoiando na verdade de que o homem criado por Deus é espiritual e eterno, e de que a vida não está restrita ao corpo material.

Essa oração inicial me ajudou muito a ter calma e a não assustar minha mãe. Eu e minhas irmãs, que também estudam a Ciência Cristã, procuramos manter um círculo de tranquilidade em torno dela, para que ela pudesse tomar as decisões sobre o que devia ser feito. Confiávamos em que Deus a estava protegendo e orientando amorosamente.

Um pensamento que me ajudou muito a enfrentar o medo aos diagnósticos foi a seguinte analogia: se me dissessem que minha mãe tinha roubado alguém, eu não acreditaria porque a conheço e não tenho nenhuma dúvida sobre sua honestidade; essa acusação não iria me assustar. Eu precisaria apenas dar meu apoio a ela para que pudesse provar a falsidade de tal acusação. Da mesma forma eu sabia que, na realidade divina, minha mãe é uma ideia espiritual de Deus, perfeita e harmoniosa, e que "...não tem uma só qualidade que não derive da Divindade..." (Ciência e Saúde, p. 475). Portanto, os diagnósticos médicos soavam para mim como falsas acusações sobre a verdadeira identidade de minha mãe. Eu não precisava acreditar nas sugestões de sofrimento e decadência, nem me assustar com elas, mas dar todo o meu apoio para enxergar sua verdadeira identidade sob a luz divina.

Uma conversa que minha mãe teve com uma Praticista da Ciência Cristã, ajudou-a a lidar com o medo. Mesmo assim, ela decidiu se submeter à cirurgia e a continuar o tratamento médico.

Saber que sua verdadeira identidade, como criação espiritual de Deus, não era material e estaria para sempre intacta, auxiliou-me bastante a alicerçar meus pensamentos na Verdade e a apoiar minha mãe.

Após a cirurgia, ela começou a ler regularmente a Lição Bíblica Semanal da Ciência Cristã. Ao contrário das previsões pessimistas, ela se recuperou da cirurgia, voltou a morar em sua própria casa e retomou suas atividades. Suas qualidades de dinamismo, alegria, gratidão, inteligência e fé, entre outras, não foram afetadas. Pelo contrário, se desenvolveram muito e ela dedicou todo o seu tempo para viver em abundância, isto é, ampliar seu conceito de vida e sobre si mesma, reconhecer inúmeras manifestações do Amor divino e crescer espiritualmente.

Saber que sua verdadeira identidade, como criação espiritual de Deus, não era material e estaria para sempre intacta, auxiliou-me bastante a alicerçar meus pensamentos na Verdade e a apoiar minha mãe em todas as suas necessidades, inclusive no cuidado com o corpo.

Quase dois anos após a cirurgia relatada anteriormente, a promessa de vida eterna como uma decorrência lógica do Amor divino me ajudou a enfrentar o momento em que ela faleceu, por compreender que minha mãe, como ideia espiritual, continua viva, amada e preservada por Deus, assim como toda Sua criação. Também percebi que meu amor por ela não precisa ser medido pelo sofrimento por sua falta. Pelo contrário, em toda essa experiência, o pesar deu lugar a um importante crescimento espiritual e a bênçãos maravilhosas.

Ciência e Saúde explica: " 'A vida eterna é esta', diz Jesus – diz que é, e não que será; e em seguida define a vida eterna como conhecimento atual acerca de seu Pai e de si mesmo – o conhecimento do Amor, da Verdade e da Vida" (p. 410). Esse trecho se encontra no capítulo intitulado A Prática da Ciência Cristã, em que o método de cura pela oração metafísica cristã é descrito com profundidade. A necessidade de estudo e compreensão para aplicar esse método é recompensada pela eficácia na solução dos problemas, já que a experiência que vivemos é o resultado dos pensamentos que abrigamos em nossa consciência. Aproveitemos, então, toda e qualquer oportunidade para apreender melhor o conceito de Deus como Vida e Amor, e, assim, vivenciar a paz e a alegria que tal entendimento traz.

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