O mundo parece estar repleto de problemas: raciais, religiosos, políticos, domésticos, antigos e novos. É como se houvesse inimigos por todos os cantos. para se adquirir uma visão mais espiritual do mundo e alguma esperança de cura verdadeira, precisamos primeiro redefinir nosso conceito do que significa derrotar um inimigo.
O estudo da Ciência Cristã me ensinou que o exemplo de Jesus é a única maneira de livrar-se de um inimigo, uma vez que, no ato de amá-lo, mudamos a definição de inimigo. Podemos amar somente quando vemos os outros como dignos de serem amados.
Pensemos no exemplo de Jesus Cristo, que na noite anterior à sua crucificação não permitiu que seus discípulos pegassem em armas contra os soldados que vieram prendê-lo. Mais tarde, ele pediu o perdão de Deus para seus acusadores, dizendo: "porque não sabem o que fazem" (ver Lucas 23:34). Ele não tratou a nenhum daqueles homens como seus inimigos. Em vez disso, ensinou que devemos amar os nossos inimigos de forma inequívoca, perdoá-los e abençoá-los, mesmo que seus comportamentos pareçam injustos ou desleais.
Fiquei maravilhada. Gostei do vigor, da alegria, da nítida ternura e cuidado que tinham um pelo outro
Em um artigo intitulado "Amai os vossos inimigos", Mary Baker Eddy, a Fundadora e Descobridora da Ciência Cristã, pergunta: "Quem é teu inimigo, para que devas amálo? Acaso é uma criatura ou alguma coisa fora da tua própria criação?" Ela continua: "Porventura podes ver um inimigo, a não ser que primeiro o concebas e depois contemples o objeto de tua própria concepção? O que é que te causa dano? Pode a altura, ou a profundidade, ou qualquer outra criatura separar-te do Amor que é o bem onipresente,–que abençoa infinitamente a um e a todos?" (Miscellaneous Writings 1883–1896, p. 8). Viver de acordo com esse padrão talvez não seja uma tarefa fácil, mas quão importante é não ver um inimigo, mas, em vez disso, ver o filho amado e amoroso de Deus. Isso é o suficiente!
Recentemente, em um voo de Los Angeles para São Francisco, sentei-me me ao lado de um casal que retornava de um período de férias na América do Sul. Eles compartilharam comigo histórias da família e falaram que conheceram pessoas maravilhosas do mundo inteiro. De vez em quando, eles enriqueciam os relatos um do outro. Fiquei maravilhada. Gostei do vigor, da alegria, da ternura e do cuidado que tinham um pelo outro. Algumas de suas histórias apontavam para o fato de que acreditavam na bondade inata das pessoas, algo que eu havia aprendido pelo estudo da Ciência Cristã.
A conexão com a Ciência Cristã surgiu em nossa conversa, e eles ficaram muito interessados no que eu estava compartilhando. O marido estava fazendo o curso de doutorado e pesquisando como a raça e o ambiente cultural podem influenciar o crime sob determinadas circunstâncias. Seu foco, se é que compreendi corretamente, era sobre o que fazer depois que um crime é cometido. Ele realmente esperava descobrir como salvar pessoas que, em realidade, são boas, do tormento resultante de danos que causaram aos outros, como também encontrar formas de restaurar, tanto na vítima como no criminoso, o senso de que a bondade e a paz são possíveis para todos. Ele pediu-me para explicar mais sobre o que eu aprendera com o estudo da Ciência Cristã.
Percebi que a cura não estava completa. Havia mais trabalho a ser feito
Comecei com o conceito, ensinado na Ciência Cristã, de que um Princípio divino governa o universo, e que esse Princípio é o Amor, ambos sinônimos de Deus. Contei-lhes que fora criada por pais que se dedicavam ao ministério da Ciência Cristã em prisões, e como eles ensinavam para aqueles que estavam atrás das grades o quão valiosos eram para Deus, e que eram originalmente inocentes e nutridos pelo Amor. Meus pais mostravam aos prisioneiros como o conhecimento espiritual poderia ajudá-los a se redefinirem como verdadeiramente preciosos, livres da raiva, do medo e da vingança, e capazes de deixar para trás a identificação que tinham sobre eles mesmos como criminosos e, portanto, como inimigos de alguém.
Meus novos amigos no avião se identificaram de forma natural com essas ideias. Aparentemente, em sua própria experiência, já haviam constatado como o pensamento restaurador havia ajudado a quebrar um ciclo de reincidência em alguém que eles conheciam. Mas, eles queriam ouvir mais. Por isso, expliquei-lhes como eu orava pela paz nas famílias, na vizinhança, e em todo o mundo. Sugeri que, devido a todas as notícias de crime, guerra, ódio, até mesmo de desacordos políticos, com frequência parece que o mundo está cheio de algozes e vítimas. Mesmo quando os perpetradores são apanhados e julgados, as vítimas têm de carregar a mágoa com elas. Elas se tornam vítimas para sempre.
Compartilhei o que havia aprendido de uma experiência assustadora e ameaçadora pela qual passara quando adolescente, e outras duas experiências que tive na faculdade. Elas haviam me deixado temerosa, constrangida e bastante preocupada com minha segurança. Fiquei convencida de que não estava mais segura, e que poderia ser vitimada, a qualquer momento. Meu medo crescia e, um dia, confundi um amigo que entrava em meu apartamento com um invasor. No estado em que me encontrava, completamente apavorada, quase atirei uma faca nele. Depois, percebi como havia deixado que as experiências passadas dominassem meu pensamento e compreendi que precisava orar pela cura. Desejava reverter o medo e a expectativa de que havia inimigos em cada esquina. Almejava compreender que Deus estava sempre comigo. Orei para sentir a presença protetora do Amor divino, onde quer que eu estivesse, o que realmente me ajudou. Logo parei de me sentir tão inquieta e insegura, e comecei a me expressar mais calma na rua e em meio a multidões. Entretanto, embora me sentisse como se estivesse em um casulo, resguardado por Deus, ainda assim acreditava que havia perigo fora dessa proteção. Percebi que a cura não estava completa. Havia mais trabalho a ser feito.
Precisava parar de pensar que havia pessoas más no mundo, das quais as pessoas boas precisavam se proteger. Tanto a vítima como o agressor necessitavam de minha oração
À medida que orava para compreender mais sobre a natureza divina do Amor, comecei a perceber que tinha de parar de pensar que havia pessoas más no mundo, das quais as pessoas boas precisavam se proteger. Precisava ver a todos, independentemente de suas açōes, como parte da criação do Amor. Isso significava que tanto a vítima como o agressor necessitavam de minha oração. Para que não existam vítimas, é impossível que existam algozes.
O casal gostou tanto do que compartilhei com eles, que decidiram comprar um exemplar de Ciência e Saúde, quando chegassem, para que pudessem aprender mais sobre as perspectivas que a autora tinha a respeito da vida e da obra de Jesus. Eles me agradeceram por conversar com eles, e ainda falavam animadamente enquanto desembarcavam. Eles também me inspiraram. Seu entusiasmo e receptividade me incentivaram a me empenhar ainda mais profundamente a seguir o exemplo de Jesus, e a ver o amado filho de Deus em toda parte, não importando as circunstâncias.
Ao longo dos anos, tenho ouvido vários relatos de pessoas que, quando ameaçadas por alguém, oraram em defesa do seu agressor, além de orarem por sua própria proteçāo. Tal oração resultou não apenas em uma solução pacífica, mas levou o transgressor à reforma.
A menos que todos comecem a amar da maneira como Jesus ensinou, continuaremos a ver o perigo em potencial nos outros
O que diríamos se todos nós começássemos a orar dessa maneira? E se nós nos recusássemos a ver os colegas de trabalho como insensatos, os membros da família como rudes, as figuras políticas como evidentemente corruptas, e as pessoas na rua como capazes de nos fazer mal? Em vez disso, como seria bom se todos nós nos empenhássemos em ver o bem em todas as pessoas à nossa volta, em ver a magnífica luz de Deus refletida em todos. Comprovaríamos que, pouco a pouco, nosso ambiente pessoal melhoraria e nossa capacidade de ver o bem no mundo desabrocharia.
Jesus disse que havia dois mandamentos primordiais: Amar a Deus, e amar uns aos outros (ver Marcos 12:30,31). Seguir essas duas regras simples é realmente a única maneira de erradicar um inimigo. Os indivíduos, em toda parte, merecem reconhecer a si mesmos como filhos de Deus, saber que estão a salvo de pensamentos e açōes agressivos e nocivos. Não importa se forem tentados a fazer tais coisas ou se forem prejudicados por elas. A menos que todos comecem a amar da maneira como Jesus ensinou, continuaremos a ver o perigo em potencial nos outros, e nossa experiência será afetada. Entretanto, quando estivermos inspirados pela mensagem atemporal de Jesus, quanto mais amor podemos ajudar a disponibilizar aos outros, e quanta cura pode resultar dessa maneira de pensar!
