Estudei recentemente o relato que consta do Evangelho de Lucas sobre o encontro de Jesus com dois de seus discípulos no caminho para Emaús, logo após a ressurreição. Fiquei impressionado com este comentário feito por um deles, e com quem Jesus acabara de falar: "...Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?" (Lucas 24:32).
Pense nisso! Aparentemente esses discípulos não se deram conta, no início, de que o homem com quem falavam era Jesus, mas sentiram de forma tão penetrante a força espiritual do Cristo em suas palavras, que seus corações "arderam" dentro deles!
Será que alguma vez você teve uma experiência na qual vivenciou tal regozijo e inspiração, que sentiu seu coração "arder"? Atletas, artistas e músicos frequentemente dedicam infinitas horas de prática a fim de cultivar uma habilidade ou exercer um ofício, sem se queixar, porque seus corações anseiam por conhecer a fundo aquilo que fazem. Enquanto crescia, determinados cursos na escola eram tão empolgantes para mim, que sentia um ardente desejo de me dedicar a eles. Quando jovem adulto, foi entusiasmante e jubiloso trabalhar com jovens em um acampamento de verão. Da mesma forma, após a faculdade, quando tirei doze dias para fazer o Curso Primário de Ciência Cristã, lembro-me de me sentir tão elevado com o que aprendia sobre Deus, que caminhava por toda parte com um sorriso no rosto, pensando comigo mesmo: "Sim, é isso aí"! Quando o coração de alguém arde por algo, qualquer sacrifício para alcançar esse algo não é, em realidade, nenhum sacrifício.
Como Cientistas Cristãos, será que nossos corações ardem com fervor espiritual, quando ouvimos os ensinamentos de Jesus? Como pensam os Cientistas Cristãos sobre Cristo Jesus hoje em dia? Se você perguntar a cem pessoas, talvez você obtenha cem respostas levemente diferentes. Alguns provavelmente usariam estas reverentes denominações que Mary Baker Eddy emprega em seus escritos: "Mestre; Professor; Modelo; Guia". Ou talvez possam ecoar estas descrições que ela usa: "o melhor homem que já pisou este planeta", e "o homem mais científico que já palmilhou a terra" (Ciência e Saúde, pp. 364 e 313). Essas palavras tocam a essência da maneira terna e respeitosa com a qual os seguidores de Cristo Jesus o veem, tanto na Bíblia quanto nos tempos atuais.
Apesar de, naturalmente, valorizarmos os ensinamentos de Jesus, podemos realmente dizer que nossos corações correspondem hoje aos sentimentos poderosos daqueles dois discípulos que caminharam com o Mestre ao longo da estrada para Emaús? Muitas coisas talvez se interponham a fim de nos distanciar de tal sentimento profundo, desde nossas próprias agendas apertadas e cheias de compromissos até o ceticismo hipnótico de uma sociedade materialista.
Mas Mary Baker Eddy esperava que os Cientistas Cristãos amassem a Cristo Jesus de todo o coração, até o ponto em que eles obedecessem ao mandamento de curar como ele o fazia, por meio da totalidade de Deus. Ela explica o relacionamento entre Jesus e o Cristo, definindo Jesus como o homem e Cristo como a expressão divina da natureza espiritual e eterna de Deus. Cristo, ela escreve: "faz alusão à espiritualidade que é ensinada, exemplificada e demonstrada na vida da qual Cristo Jesus foi corporificação" (Ciência e Saúde, p. 333).
Essas explanações ajudaram tanto a mim como a milhares de Cientistas Cristãos a eliminar qualquer senso de distanciamento de Cristo Jesus, que a vida contemporânea tenta impor. Quando compreendemos que o mesmo Cristo, que impulsionava Jesus, está aqui conosco hoje, sempre presente na consciência, descobrimos que podemos nos valer desse poder, sendo receptivos e permitindo que esse Cristo preencha toda nossa experiência.
Mary Baker Eddy nos estimula a dar um passo além, com esta notável declaração: "Somos Cientistas Cristãos apenas quando abandonamos nossa confiança no que é falso, e nos apercebemos do que é verdadeiro" (Ciência e Saúde, p. 192). Então, o que é que precisamos abandonar a fim de "deixar tudo pelo Cristo"?
O discípulo Pedro deixou tudo pelo Cristo, quando deixou de ser um pescador e se tornou um "pescador de homens". A Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã também deixou tudo pelo Cristo, quando se afastou da sociedade durante três anos, a fim de escrever o livro Ciência e Saúde e então, mais tarde, fechou sua faculdade de ensino no auge de sua prosperidade, com o intuito de se concentrar na revisão dessa obra inovadora.
De uma forma mais ampla, deixar tudo pelo Cristo significa deixar para trás quaisquer pensamentos dessemelhantes de Deus que possam anuviar nossa mente ou nos impedir de seguir Cristo, a Verdade, da maneira designada por Deus. Isso pode significar o abandono de traços evidentemente negativos, tais como: bisbilhotice, ressentimento ou inveja. Também pode exigir a renúncia de coisas que alguns acham mais difíceis de deixar, tais como vícios morais ou culto ao corpo. Em alguns casos, compreendemos que é necessário libertar nosso apego a coisas que parecem comuns, ou mesmo acalentadas, tais como um emprego confortável mas sem perspectivas de progresso, a rotina de eventos sociais, vício por televisão ou padrões habituais, como desperdicar o tempo navegando na Internet.
O que dizer se o caminho não estiver tão claro e tivermos dificuldade em deixar para trás os costumes humanos e materiais? Podemos orar para reconhecer o Cristo mais claramente em nossos corações, até que ele arda dentro de nós de tal forma que não vamos querer nos ater a nada que possa limitar a bondade de Deus por nós. O próprio Cristo, como "a idéia verdadeira que proclama o bem" (Ciência e Saúde, p. 332), fala à nossa consciência humana e nos mostra o caminho.
No início da minha carreira como advogado, captei um vislumbre dessa orientação espiritual do Cristo, quando me achei insatisfeito com meu emprego em uma firma de advocacia e, ainda pior, a empresa estava insatisfeita comigo. Tornou-se cada vez mais difícil dar o melhor de mim a disputas acaloradas que envolviam uma quantidade relativamente pequena de dinheiro ou propriedade, e que caracterizavam a maioria dos casos nos quais estava trabalhando. Em uma conversa com um membro da família, queixei-me: "Não gosto de conflitos. Particularmente não ligo para dinheiro. Por conseguinte, é claro que não gosto de conflitos que envolvem dinheiro"! O membro da família riu e respondeu: "Posso até não ser um conselheiro de carreiras, mas talvez você esteja no ramo errado"!
Embora eu temesse ter cometido um erro na escolha da minha carreira, confiei na suprema orientação de Deus e estava disposto a deixar tudo para trás se necessário. Durante uma conversa com uma Praticista da Ciência Cristã, fiquei impressionado com sua ênfase no fato de que, como filho de Deus, minha procura por um novo emprego poderia "começar no topo", porque somente o melhor estava reservado para mim. Bem no meu íntimo, sempre havia sentido um ardente desejo de servir à Causa da Ciência Cristã, e me sobreveio uma sensação estimulante quando compreendi que o "ápice" do emprego como advogado para mim seria trabalhar em A Igreja Mãe. Fui particularmente atraído à provisão no Manual de A Igreja Mãe, Artigo VIII, parágrafo 15, intitulado: "As organizações da Igreja bastam", o qual afirma em parte: "Deus exige de nós todo o nosso coração, e Ele proporciona, dentro dos amplos canais de A Igreja Mãe, ocupações e deveres suficientes a todos os seus membros" (p. 45).
Podemos orar para reconhecer o Cristo mais claramente em nossos corações, até que ele arda dentro de nós de tal forma que não vamos querer nos ater a nada que possa limitar a bondade de Deus por nós.
Embora eu tivesse recebido uma proposta de emprego de um conceituado escritório de advocacia em minha cidade, com muita gratidão aceitei a oferta do Departamento Jurídico de A Igreja Mãe para que fizesse parte dele. Amigos e colegas questionaram essa decisão e me alertaram para o fato de que minha carreira, a longo prazo, sofreria por essa tomada de posição, mas eu jamais duvidei de minha escolha! Agora, vários anos depois, eu ainda amo o meu trabalho e tenho o privilégio de servir a Igreja como Gerente Geral do Departamento Jurídico, e também na qualidade de Praticista da Ciência Cristã.
Quer alguém trabalhe para A Igreja Mãe ou simplesmente atue como um Cientista Cristão genuíno em qualquer atividade, deixar tudo pelo Cristo nos coloca no mesmo caminho daqueles primeiros cristãos que estavam capacitados a curar. Como escreve Mary Baker Eddy: "A fidelidade aos preceitos e à prática [de Cristo Jesus] é o único passaporte para alcançar seu poder; além disso, o caminho da bondade e da grandeza é parte integrante dos modos e métodos de Deus" (Miscellaneous Writings 1883-1896, p. 270). Esse poder é o influxo do mesmo espírito que aqueles discípulos devem ter sentido quando seus corações arderam após falarem com Cristo Jesus na estrada para Emaús, ou ao que os apóstolos devem ter sentido no Dia de Pentecostes. Portanto, quando nos embebemos desse espírito, nos tornamos seguidores do Cristo e ansiamos por continuar a missão de cura iniciada pelos primeiros cristãos. Esse mesmo Cristo que os capacitou a curar, também nos capacita hoje a curar e a amar a humanidade o suficiente para mostrarmos aos outros como curar. Com esse poder do espírito do Cristo, nossos corações podem arder com a possibilidade de grandes curas ocorrerem durante os cultos de nossas igrejas. Isso trará harmonia aos relacionamentos, prosperidade aos negócios e elevará o mundo para fora de todos os notórios dilemas da guerra, da economia e do meio ambiente.
Como Cientistas Cristãos, ou aqueles que reconhecem o Cristo e o vivem, somos a continuidade do Cristo. A missão da história cristã continua por meio de cada um de nós. A majestade do Cristo acena aos nossos corações ardentes para que deixemos tudo e sigamos por esse caminho, porque "... a majestade da Ciência Cristã ensina a majestade do homem" (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Vários Escritos] p. 188).
