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Matéria de capa

As bênçãos de um Natal no exterior

Da edição de dezembro de 2010 dO Arauto da Ciência Cristã


"A mais nova na equipe? Você vai fazer parte do pessoal que vai dar plantão na embaixada durante o Natal, mas poderá tirar uma folga no ano que vem!"

Como funcionária novata no serviço diplomático em minha primeira missão no exterior, meu coração ficou apertado quando ouvi essas palavras de meu chefe. De certa forma, a grande expectativa que a época natalina sempre traz não me pareceu tão grande assim quando compreendi que estaria sozinha em um país estrangeiro, tentando falar um idioma que ainda não dominava, e no qual sequer tivera tempo de fazer amigos. Embora soubesse que minhas atribuições na embaixada exigiriam sacrifícios, essa exigência de ficar na retaguarda não era algo que eu realmente antecipara. Como ficaria minha pequena família, ou seja, como meus pais e meu irmão se sentiriam lá no Canadá, quando nosso quarteto, frequentemente tão unido, ficasse reduzido a três, nessa data tão importante do ano?

Recorri aos "amigos" que realmente tinha, minha Bíblia e Ciência e Saúde. Como precisava de consolo, tentaria encontrá-lo volvendo-me a Deus em oração, exatamente como fizera a cada desafio que surgira até então. Com as concordâncias, um dicionário, e aqueles dois livros em mãos, resolvi me concentrar para aprender, muito mais profundamente do que jamais havia feito, o que verdadeiramente significava o Natal. Em meu coração, eu nutria a sensação de que essa descoberta espiritual, por si só, responderia aos anseios e preencheria o vazio que eu temia estivesse na iminência de arruinar meu Natal solitário.

Enquanto ponderava sobre os relatos bíblicos a respeito do nascimento de Jesus, dei-me conta de que, em essência, a história do Natal era uma história do Amor. O amor de Deus pela humanidade se manifestou de uma forma muito tangível, sob a forma de um presente, de um bebê crístico. Na história original do Natal, não houve nenhuma pré-condiçāo geográfica, de tradição, monetária ou cultural, para que esse amor fosse expresso por Deus. Da mesma forma, não poderia haver nenhuma pré-condiçāo para que ele não fosse sentido agora. Eu deveria ter a expectativa de ser guiada até aquele "bebê", àquela ideia do Amor, por intermédio de qualquer tipo de "estrela" ou inspiração que eu pudesse reconhecer. Precisava manter os olhos, os ouvidos e o coração abertos para a evidência daquele bem, exatamente como os reis magos e os pastores o fizeram.

Poucos dias antes do Natal, voltava para casa de carro em um domingo à tarde, quando notei na calçada um grupo de meninos de rua conhecidos por sua habilidade como "batedores de carteira", preparando-se para furtar alguns turistas que liam distraidamente mapas de viagem. Inspirada pelo estudo da Lição Bíblica da Ciência Cristã daquela manhã, afirmei mentalmente: "Não! Os filhos de Deus são inocentes e inofensivos"! Impossibilitada de parar no trânsito, continuei minha oração com determinação, e insisti no fato de que todos os filhos de Deus foram criados justos por Ele, são alimentados corretamente, nunca carecem de nada para satisfazer suas necessidades e, certamente, não possuem nenhum instinto desonesto. Do canto do olho, pude ver aliviada que a situação se resolvera muito naturalmente.

Cinco minutos depois, dirigia pela pista da direita de uma ponte que atravessa um grande rio que corta a cidade. Assistia com curiosidade a uma cena que se desenrolava no acostamento, um pouco adiante de onde eu estava, até que compreendi, horrorizada, que uma senhora havia atirado sua bolsa do alto da ponte e estava prestes a também se atirar nas águas profundas do rio gelado. Novamente, afirmei mentalmente: "Não"! Desta vez, pude pisar no freio, sair do carro e correr ao longo do acostamento da ponte a tempo de agarrar aquela senhora pelos tornozelos, antes que pulasse. Outro motorista nos alcançou alguns segundos depois. Embora eu tivesse pouca expectativa de que aquela senhora, totalmente descontrolada, pudesse me compreender devido à barreira do idioma, comecei a lhe dizer, com firmeza e insistentemente, que ela era amada por Deus, seu Criador, que o suicídio não era a solução, que nós cuidaríamos dela e que ela deveria descer do parapeito. Momentos depois, um policial apareceu, vindo do outro lado da ponte, e levou essa senhora embora.

Mais tarde, retornei ao meu apartamento e desabei em lágrimas. Esse evento perturbador, juntamente com a tentativa de furto que presenciara antes, deixaram-me abalada. Onde estava a paz do Natal que eu tão ansiosamente procurava? Por que eu havia presenciado aquelas cenas? A resposta que me veio, de maneira calma, mas firme, foi uma que já havia ouvido em outros momentos difíceis, quando perguntei a Deus: "Por que eu"? Parei imediatamente de chorar. A mensagem divina foi suave: "Por que não você? Se não fosse você, então quem"?

Percebi com muita tranquilidade que começava a aprender uma importante lição de Natal: Prepare-se para ajudar, e as oportunidades surgirão. O Natal tem a ver com o presente do amor de Deus, mesmo sob as mais improváveis circunstâncias. Então, como eu poderia ficar perturbada por ter a oportunidade de colocar em prática todas as verdades espirituais que estivera aprendendo?

Aquele Natal foi um marco para mim. Uma vez que estava livre do frenesi habitual de compras, organização e planejamento, senti-me cercada por um senso profundo e muito importante do significado espiritual, cheio de alegria, desta época, o qual muitas vezes deixamos de lado em meio ao afã de inúmeras atividades. Oportunidades inesperadas proporcionaram maneiras para que eu participasse de um inspirado musical de véspera de Natal em uma igreja local, desfrutasse de uma ceia de Natal com novos amigos e aprendesse novos costumes, novas maneiras de comemorar a data nesta terra em que me encontrava, longe de casa.

Alguns anos mais tarde, encontrava-me em uma nova cidade, em um novo país, que viveu, durante anos, uma política estatal oficial de ateísmo. Eu era novamente a funcionária de plantão no Natal, do outro lado do mundo, distante da família. Havia enviado presentes para o Canadá alguns meses antes, para garantir que chegassem e, inspirada pela experiência do meu Natal solitário mencionada anteriormente, preparei-me, uma vez mais, para renovar meu apreço pela época natalina.

Na manhã de Natal, fui despertada pelo telefonema de um colega, natural do país, convidando-me para patinar em um parque da cidade. Enquanto caminhava apressada juntamente com outros pedestres pela calçada, à medida que prestava atenção nas cenas ao meu redor, a sensação de alegria que sentia pelo significado espiritual daquele dia começava a desaparecer. Cidadãos idosos, mal agasalhados, tremiam de frio, pedindo esmolas em um ponto de ônibus, enquanto a neve caía. Os carros freavam cantando pneus ao pararem junto aos pequenos quiosques nas calçadas, nas quais os motoristas podiam beber alguns goles de bebida alcoólica, antes de retornarem aos seus carros e saírem em disparada. Cachorros vira-latas esfomeados se aproximavam de mim em busca de migalhas de comida. Um bêbado cambaleando caiu sobre mim no vagão do metrô.

Àquela altura, começava a me sentir arrasada. "Ó meu Deus", murmurie, "como posso ficar alegre neste lugar? Para todos esses cidadãos, 25 de dezembro é apenas mais um dia de trabalho". Antes mesmo de acabar de formular a pergunta, veio-me a resposta angelical: "Não foi o primeiro Natal, o Natal original, apenas um dia humilde de trabalho"?

Fiquei admirada com a simplicidade da mensagem. O homem, que estava ao meu lado no metrô, de repente se endireitou, quando mentalmente reconheci seu valor como filho de Deus. Também pensei sobre um artigo que um amigo havia escrito, em que falava em ativamente amar e abençoar com persistência tudo o que ele via (Pierre Pradervand, "A delicada arte de abençoar", Christian Science Sentinel, 20 de dezembro de 1999). Resolvi fazer o mesmo.

Naquela manhã de Natal, abençoei silenciosamente as pessoas idosas que retiravam a neve caída nos caminhos do parque, pelos quais patinávamos, grata pelo trabalho que elas faziam, ao invés de lamentar o fato de que necessitavam fazer tal trabalho. Orei pelo povo daquele país e os abençoei por sua persistência e esperança, em vez de criticar pensando que as coisas nunca mudariam para eles. Abençoei os animais abandonados, sabendo que cada um deles era precioso aos olhos do Criador.

Também abençoei o colega que me convidara para o passeio na neve, e reconheci que, se eu tivesse ficado dormindo, passaria o dia solitário, e talvez não tivesse ficado atenta para atender, com orações, às diversas necessidades vitais da comunidade, e que cruzaram meu caminho. Sim, pela segunda vez em minha vida, longe dos familiares queridos, amigos e tradições, vivenciei mais uma vez um Natal tipo "no topo do monte", repleto de alegria e de um sentimento de proximidade com toda a criação de Deus. Esse dia ainda está nítido em minha memória, apesar dos muitos quilômetros e meses que se passaram.

No ano passado, enquanto planejava mais um Natal longe do Canadá, "meu lar e terra natal", posso dizer com confiança que espero que ele seja mais uma ocasião inesquecível. Aprendi que realmente não importa onde possamos estar em uma determinada situação especial. Cada um de nós é a filha amada ou o filho amado de Deus, o Amor divino, e temos o direito de nos sentir confortados e acompanhados, onde quer que estejamos. A solidão, o medo ou o isolamento cultural não podem interferir quando banidos do nosso pensamento pela compreensão espiritual da mensagem de amor do Natal.

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