Jesus fez várias exigências aos seus discípulos. Uma das principais foi a de curar doentes. Ele falou sobre a colheita como sendo abundante, mas os trabalhadores poucos (ver Mateus 9: 37, 38), sugerindo que, para nós, os discípulos da era moderna, sua incumbência não mudou. É nossa a missão de curar, também!
Por mais que desejemos agir conforme Jesus nos instruiu, essa missão pode, às vezes, parecer difícil ou impossível. Pode ocorrer de decidirmos, com toda a determinação do mundo, ser sanadores eficazes, e percebermos somente mais tarde que essa missão talvez não seja tão fácil quanto pensávamos. Podemos ficar desapontados com o fato de que as curas talvez não venham tão prontamente como esperávamos. Podemos até chegar à conclusão de que aquilo que parecia natural para Jesus não é tão acessível para nós. Ou, talvez, acreditemos que algumas pessoas têm talento para a cura, mas nós simplesmente não fomos abençoados com essa habilidade “especial”.
Às vezes, milhares de argumentos nos vêm à mente como se fossem para nos convencer de que não podemos curar como Jesus. Se não percebermos a ação sutil desses argumentos em nosso pensamento, pode ocorrer uma argumentação mental mais contrária do que a favor da cura.
Essa tendência está claramente ilustrada em uma conhecida história bíblica, sobre um homem paralítico que jazia junto ao tanque de Betesda (ver João 5:2–9). O tanque tinha cinco pavilhões, onde aqueles afligidos por doenças físicas e mentais entravam em busca de cura. A crença popular aceitava que um anjo periodicamente descia ao tanque, anunciando sua presença com o agitar das águas, semelhantemente ao que vemos quando uma brisa sopra sobre uma lagoa. A primeira pessoa que entrasse no tanque quando o anjo chegava supostamente ficaria curada.
Podemos imaginar a atração que isso teria exercido sobre aqueles que estavam oprimidos por longos surtos de dor, doença, ou com algum outro transtorno. Os pavilhões estavam indubitavelmente cheios de pessoas em busca de alívio, cada uma delas esperando que, algum dia, ela seria a pessoa privilegiada.
A Bíblia nos traz o relato de um homem que estava junto ao tanque há 38 anos, esperando sua vez de ser curado. Apesar de toda sua perseverança, estava incapacitado para poder entrar na água antes dos outros. Repetidas vezes ele fora relegado a esperar pela próxima visita do anjo, enquanto outros eram curados de seus problemas. Imaginem a enorme frustração que ele sentia!
O infortúnio do homem paralítico parecia destinado a continuar indefinidamente, até que um dia Jesus chegou ao tanque e o escolheu. De maneira singular, entre todas as pessoas que lotavam os pavilhões, Jesus deve ter percebido algo nesse homem que mereceu sua amorosa atenção. Jesus se aproximou dele e perguntou: “Queres ser curado?” (João 5:6).
Como o homem respondeu? Como deveríamos responder à oferta de sermos curados depois de 38 anos de tentativas desanimadoras e fracassos? A maioria das pessoas agarraria essa oportunidade e exclamaria: “Estou pronto, cura-me”! Mas, o que o homem paralítico diz? Ele não disse sim. Ao contrário, ele repetiu todas as razões pelas quais não conseguia ser curado. Imaginem isso! Trinta e oito anos tentando e, quando finalmente surge a oportunidade, ao invés de agarrá-la, ele argumentou contra o que mais desejava.
Orei para reconhecer que a cura é tão natural como respirar, quando estamos conscientes do amor sempre presente de Deus
Jesus, sabendo do direito espiritual inato do homem como o amado filho de Deus e sem se impressionar com os argumentos contrários do paralítico, interrompeu cabalmente todo aquele palavreado e, com convicção, mandou que o paralítico se levantasse e andasse. Foi isso exatamente o que o homem fez, ficando fisicamente curado e eternamente liberto.
Ao estudar esse relato, descobri-me pensando: “Eu fui esse homem”! Quantas vezes eu orei para curar um problema, que resistia obstinadamente, só para ver mais um dia passar sem qualquer melhora?
Certa vez, enquanto eu estava me esforçando para erguer alguma coisa pesada, inesperadamente uma dor lancinante percorreu um dos meus braços. Quase não conseguia movê-lo. Toda vez que eu tentava, a dor era tão intensa que eu quase gritava. Não só ela era desconfortável, mas limitava seriamente muitas das minhas atividades diárias.
Como estudante de Ciência Cristã, imediatamente comecei a orar pela cura. Durante semanas a fio, orava diariamente, mas não havia nenhuma melhora. Uma vez que havia pouco progresso orando sozinho, solicitei ajuda em oração a um Praticista da Ciência Cristã. Juntos, esse praticista e eu oramos durante várias semanas, mas, ainda assim, obtive pouco progresso. Tentei ser otimista o máximo que pude, mas, na verdade, a melhora era extremamente lenta.
Ao continuar orando, percebi que estava entretendo muitos pensamentos que estavam argumentando contra a cura e minando meus esforços para obtê-la. Tal como o homem no tanque de Betesda, a cura estava batendo à minha porta o tempo todo, mas eu estava repetindo uma ladainha de razões pelas quais essa cura não estava ocorrendo.
Por exemplo, muitas vezes pensava comigo mesmo: “Em primeiro lugar, como é que surgiu esse problema”? Mas não conseguia identificar a causa. Tinha de compreender que, como um filho da criação de Deus, não havia nenhuma causa ou acontecimento real que pudesse pôr em risco a minha liberdade ou que me tentasse a argumentar a favor de sua presença em minha experiência. Atribuir uma causa à dor daria legitimidade a algo que não tinha nenhuma origem na criação de Deus.
Havia outras desculpas que eu também precisava erradicar. Há alguns anos, meu irmão teve um problema em seu braço, o qual parecia assustadoramente igual ao meu. Ele buscou a ajuda de especialistas para curar o braço e somente depois de dolorosas cirurgias encontrou alívio. Sua experiência continuava em minha mente. Tinha de superar esses pensamentos assustadores e substituí-los pela convicção de que eu não era um ser físico frágil, mas o filho abençoado do Criador perfeito, Deus, que mantém meu bem-estar.
Lutava também contra a frustração sobre o passar do tempo, pois já fazia quase um ano que eu estava sofrendo com esse problema. Fui tentado a pensar que a Ciência Cristã não tinha poder para curar. Um pensamento recorrente foi o de que se eu não conseguisse curar o problema mediante a oração, com o tempo ele com certeza melhoraria por si só. Precisava compreender mais claramente que a Ciência Cristã é a exposição dos ensinamentos de Jesus, explanação essa que fora impelida por Deus todo-poderoso e, portanto, não poderia ser desafiada ou subjugada. Orei para reconhecer que a cura é tão natural como respirar, quando estamos conscientes do amor sempre presente de Deus.
Havia outro pensamento sutil com o qual eu precisava lidar. Percebi, no meu esperançoso otimismo, que eu estava delineando como a cura ocorreria. Quando orava, lembranças de outras curas pela Ciência Cristã sobre as quais havia ouvido ou lido a respeito, vinham-me à mente, como uma de ossos quebrados que de repente, “em um estalo” voltaram ao seu lugar. Pensei comigo mesmo: “Qualquer dia vou ouvir um estalo, sentir um ajuste repentino, meu braço vai voltar ao normal e eu terei um maravilhoso testemunho de cura para compartilhar com os outros”. Estava sugerindo a Deus como a cura poderia ocorrer, quando Deus, que enche todo espaço e é inteiramente bom, jamais poderia sequer ter conhecimento de um problema físico.
Embora a presença sanadora do Cristo estivesse sempre presente à porta do meu pensamento, perguntando: “Queres ser curado?”, eu não estava respondendo sim. Mas o Cristo sempre estivera à minha procura, oferecendo-me uma saída desse cativeiro. Uma vez que eu erradicasse do meu pensamento cada uma dessas desculpas contra a cura, e compreendesse que meu verdadeiro status como a expressão perfeita e harmoniosa de Deus nunca havia sido invadida e jamais o seria, eu me sentiria livre.
Nunca esquecerei do dia em que fui para o ginásio de esportes e consegui jogar basquete novamente, com completa liberdade de movimentos. A família inteira se regozijou comigo. Entretanto, mesmo naquele momento, percebi que ainda precisava destruir mais um pensamento errado, o de que após um ano de atividades limitadas, ainda demoraria algum tempo até que meu braço se recuperasse totalmente.
Quando fiquei pendurado pelo meu braço em uma parede de pedra na academia, reconheci a total impossibilidade dessa crença ser verdadeira em um universo governado por um Deus todo-amoroso e todo-poderoso. Então, ergui-me e fiquei suspenso sobre uma saliência, exatamente como fizera no ano anterior, antes de o problema relatado ter começado. Minha família praticamente comemorou com alegria e gratidão aquilo que eles estavam testemunhando.
As curas que demoram a acontecer podem nos oferecer uma ampla oportunidade de desafiar crenças tenazes, de longa data, que minam nossa capacidade de curar. Precisamos estar alerta para não acrescentar a esses desafios muitas explicações ou pensamentos que argumentem contra o resultado que verdadeiramente desejamos alcançar. Podemos insistir na eterna presença da perfeição de Deus (e da nossa), mesmo quando os fatos físicos estão gritando exatamente o contrário. Devemos seguir esta enfática instrução de Mary Baker Eddy: “Cidadãos do mundo, aceitai a ‘liberdade da glória dos filhos de Deus’, e sede livres! Esse é vosso direito divino” (Ciência e Saúde, p. 227).
A cura está sempre à nossa porta. Quando vier a pergunta: “Queres ser curado?”, como vamos responder? *
Artigo publicado originalmente na edição de dezembro de 2011 de The Christian Science Journal.
 
    
