Quando o novo presidente da empresa onde eu havia trabalhado por 29 anos me chamou ao seu escritório, em uma terça-feira de manhã, juntamente com o diretor de Recursos Humanos, seu comunicado veio sem nenhum rodeio. Ele abriu sua pasta e disse de forma muito objetiva: “Estamos planejando um almoço de aposentadoria para você nesta sexta-feira e pensamos em preparar a lista de executivos que você gostaria de convidar”.
Como redatora da revista de viagens da empresa, a qual eu fundei há aproximadamente 20 anos, eu havia recebido muitos relatórios com elogios, e minha competência sempre havia sido reconhecida. Como ele podia fazer isso comigo? Mas, bem no fundo, sabia que, com 78 anos de idade e um alto salário em um período de estresse econômico, eu poderia facilmente ser substituída por uma pessoa mais jovem com um salário menor.
Meus colegas de trabalho se apressaram em me parabenizar, enquanto eu limpava minha mesa. Eles diziam: “Mal podemos esperar até que cheguemos aos 65 e possamos sair daqui”!
“Fácil para vocês dizerem isso”, pensei. Eu não estava preparada para me aposentar. Amava meu trabalho: coletar informações sobre lugares interessantes, participar de viagens inaugurais de navios de cruzeiro, atravessar o mundo para coletar histórias de interesse jornalístico. Onde eu poderia achar outro emprego como esse? Quem iria contratar uma redatora de 78 anos?
O homem, como o reflexo de Deus, possui capacidades infinitas, oportunidades ilimitadas e atividade incessante
Tentei anular meus pensamentos desesperadores. Havia sido abençoada durante todos aqueles generosos anos. Havia sempre considerado que estava cuidando do trabalho de Deus. Será que eu havia dedicado tempo suficiente para agradecer a Deus pela carreira longa e bem sucedida que havia desfrutado? Havia sido realmente grata?
À medida que, embora tardiamente, contava minhas bênçãos, lembrei-me de uma afirmação que a Professora de Ciência Cristã da minha mãe costumava citar para ela: “o homem, como o reflexo de Deus, possui capacidades infinitas, oportunidades ilimitadas e atividade incessante”. A idade não fazia parte daquela citação. Se eu refletia a Deus, será que as minhas capacidades estavam reduzidas porque tinha 78 anos? Eu só precisava saber que tinha inteligência infinita, ideias ilimitadas e a oportunidade certa apareceria.
Mas, e o ditado que diz: “Deus ajuda a quem se ajuda”? Sabia que não podia simplesmente ficar sentada em casa reclamando, esperando que a oportunidade batesse à porta. Os empregos para redatores eram poucos e distantes da área central da Flórida, onde eu morava na ocasião, por isso eu não poderia entrar no carro e sair procurando emprego. Por que não entrar na Internet e procurar por oportunidades como escritora? Havia uma abundância de ofertas de emprego, mas a maioria em Nova Iorque.
Mary Baker Eddy tinha 87 anos quando fundou o journal The Christian Science Monitor
Enquanto examinava os anúncios, as dúvidas surgiram de novo. Minha idade estava contra mim, com certeza.
Então, veio-me o pensamento: “Será mesmo”? Meus anos de viagens, juntamente com minha experiência de redação, não serviam para nada? Eu não seria enganada a aceitar a crença de que eu havia sobrevivido à minha utilidade. Minha mente estava tão ativa como sempre esteve. Pensei em uma citação que Mary Baker Eddy escreveu em Ciência e Saúde: “A Vida e suas faculdades não se medem por calendários” (p. 246). Nas páginas seguintes, ela escreveu: “Sintamos a energia divina do Espírito, que nos leva à renovação da vida e que não reconhece poder algum, mortal ou material, como capaz de praticar alguma destruição” (p. 249). Enquanto orava, ocorreu-me que a Sra. Eddy tinha 87 anos quando fundou o jornal The Christian Science Monitor.
Com aquele pensamento, retornei à Internet e comecei de novo a procurar emprego. Como se fosse um plano divino, havia um anúncio procurando por um escritor de viagens em São Petersburgo. Perfeito! Poderia escrever de casa e o empregador nunca precisaria saber minha idade. Rapidamente enviei uma carta para o editor contando-lhe minha história de viagens, como havia andado em camelos no Egito e em elefantes na Índia, viajado de balão na França e feito trilhas no Nepal. Agora, eu estava pronta para ser escritora free-lancer de viagens. Estaria ele interessado?
A idade não poderia me impedir
Não precisei esperar muito por uma resposta. O editor estava surpreso com minha experiência, e me perguntou se eu poderia ir ao seu escritório para uma entrevista.
Fiquei desanimada. Não esperava ter de conhecê-lo pessoalmente. Eu não era uma senhora de cabelos grisalhos envolta em um xale, mas também não era uma jovenzinha. Sabia, contudo, que o importante era deixá-lo ver que eu tinha ideias novas, inspiradas por Deus, e o sentimento de fazer acompanhando essas ideias.
Subi as escadas até o segundo andar do escritório, entrei na sala de espera a passos largos e me apresentei. O editor era jovem e bem-apessoado, obviamente, empreendedor e, surpreendentemente, interessado. Na hora que se passou enquanto conversávamos, expus minhas ideias, entretive-o com histórias sobre minhas aventuras e continuei a orar para saber que minha idade não poderia me impedir de escrever alguns artigos como freelancer para ele.
Na eterna presença de Deus, os empregos não são somente ilimitados, eles são isentos de idade e atemporais
Quando terminei minha apresentação, ele recostou-se em sua poltrona, cruzou os dedos sobre o peito e permaneceu pensativo. Em seguida, disse: “Acho que você é exatamente a pessoa que eu estava procurando. Gostaria que você fosse a redatora de minha revista. Você poderia começar imediatamente”?
Se eu podia? Além de me tornar redatora de uma nova e excitante revista de viagens, pude escrever sobre viagens a locais exóticos como Mumbai, Dubai, Xangai e outros destinos que antes eu havia apenas sonhado em visitar. O que compreendo agora é que na eterna presença de Deus os empregos são ilimitados, não consideram a idade e são atemporais. A compreensão desse fato caminha lado a lado com a atividade incessante. *
Artigo publicado originalmente na edição de 3 de outubro de 211 do Christian Science Sentinel.
 
    
