Ao longo de toda a história humana, tem havido escolas de pensamento que parecem competir entre si sobre como realizar o maior bem para a sociedade. Às vezes, o que observamos é uma luta entre a “justiça” e a “misericórdia”, e temos a impressão de que há um choque entre a obediência a regras e padrões estabelecidos e a preferência pela compaixão e pelo perdão.
Há, hoje em dia, uma grande polarização sobre essas duas maneiras de encarar as situações, uma competindo contra a outra. Mas será de fato necessária essa polarização? Será que optar pela justiça significa sacrificar a compaixão, e vice-versa? A Fundadora e Líder do movimento da Ciência Cristã, Mary Baker Eddy, descobriu a Ciência divina do Cristianismo, ou seja, a Lei de Deus, e essa Ciência revela que o Princípio e o Amor não competem entre si, porque ambos definem a natureza do único Deus que existe. Não só Deus é Amor, como a Bíblia declara especificamente (ver 1 João 4:16), como Deus é também o Princípio divino.
Embora a palavra moderna “princípio” não seja diretamente usada na Bíblia, o conceito de lei divina constante aparece ao longo da Bíblia inteira. A correlação entre a justiça de Deus e Seu amor resplandece na seguinte passagem: “Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram” (Salmos 85:10). Por meio da compreensão espiritual da mensagem da Bíblia, vemos que a graça e a paz — atributos do terno Amor — unem-se com a verdade e a justiça como atributos do Princípio perfeito.
Jesus claramente demonstrou essa união perfeita ao não condenar uma mulher por seu comportamento adúltero e ao perdoá-la por tal comportamento. A autoridade da lei mosaica sentenciava à morte essa mulher, pega em flagrante adultério. Mas ao recusar-se a participar da execução da sentença, embora também tenha repreendido o ato do adultério com sua ordem, “não peques mais”, Jesus perdoou a mulher e mostrou-lhe a necessidade de uma mudança de comportamento. A expressão de Amor e de Princípio, por parte de Jesus, definia a natureza de um Deus único (ver João 8:3–11).
Compreender a Deus como Amor e Princípio traz um sentimento de ternura e amor à nossa obediência ao Princípio, além de trazer força e autoridade à nossa expressão do Amor. Essa compreensão também elimina todo senso meramente humano e falível de um amor ou de uma lei que oscile e que acabe trazendo desapontamento. Como o Amor e o Princípio são um, o Amor não é Amor a menos que seja justo e o Princípio não é Princípio a menos que seja misericordioso.
Em um pequeno artigo intitulado “Amor”, em seu livro Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883–1896, Mary Baker Eddy escreve: “Exijo muito do amor, exijo sólidas evidências que o comprovem, e espero nobres sacrifícios e grandes realizações como resultado. Sem tais provas, repudio essa palavra como impostura e falsificação, desprovida do vibrante tinido do metal genuíno” (p. 250). Fica claro que qualquer expressão verdadeira do Princípio que é o Amor precisa ser divina, porque só há verdadeiramente um Princípio e um Amor, que é Deus.
Há alguns anos, testemunhei a praticabilidade dessa compreensão espiritual na época em que eu era capelão do Exército dos Estados Unidos. Um jovem soldado foi designado como meu assistente. Acontece que ele havia cometido uma série de infrações e, em vez de responsabilizá-lo e fazê-lo cumprir as regras, o exército decidiu transferi-lo para a minha unidade. Depois de alguns meses trabalhando juntos, percebi alguns sinais de comportamento antiético que violavam o padrão militar. Como estudante da Ciência Cristã, treinado para compreender a unidade do Princípio e do Amor, eu sabia que precisava vê-lo e amá-lo como o homem perfeito que Deus criou, ao mesmo tempo que o fazia seguir as regras e os padrões militares. Como o Princípio e o Amor são um, eu sabia que não estaria expressando o Amor divino, se permitisse o comportamento antiético desse soldado e seu baixo padrão. Eu também sabia que não poderia expressar o Princípio divino sem amá-lo genuinamente como filho puro e perfeito de Deus, como descrito na história espiritual da criação (ver Gênesis 1:26, 27, 31).
Quando elevamos nossa compreensão do humano para o divino, vemos a harmonia e o poder que a natureza divina traz à nossa vida.
Abordei o problema diretamente com ele, apontando o comportamento que ele pensava haver ocultado, e ao mesmo tempo expressei minha confiança em suas capacidades, inclusive em sua habilidade de corrigir esse comportamento. No início, ele reagiu de forma desafiadora e com teimosia, mas isso rapidamente mudou para uma aceitação silenciosa, quando ele percebeu que eu só agiria com amor sincero por ele. Ele confessou as infrações e aceitou de boa vontade as repercussões.
Daquele momento em diante, seu comportamento mudou completamente. Durante os dois anos seguintes em que trabalhamos juntos não percebi nada do comportamento anterior e ele se tornou mentor de outros soldados que lutavam contra problemas parecidos. Nossa relação de trabalho tornou-se de total confiança, respeito e amizade.
Quando compreendemos que o Princípio e o Amor não competem entre si, encontramos liberdade para expressar genuinamente a unidade da natureza divina em nossa vida. Nós, de fato, constatamos que as tentativas anteriores de expressar um sem o outro acabavam, na realidade, nos privando de ambos, porque faltava a completude e a autoridade de um Princípio divino, o Amor.
Quando elevamos nossa compreensão do humano para o divino, vemos a harmonia e o poder que a natureza divina traz à nossa vida. As posições polarizadas, que parecem tão reais, se dissipam à medida que abandonamos o falso senso a respeito do Princípio e do Amor, e o substituímos pela verdade divina. Podemos ser eternamente gratos a Cristo Jesus e a Mary Baker Eddy por revelarem a união eterna do Princípio e do Amor.
