Lembro-me de muitos momentos de inspiração em minha vida. Confiar na presença onipotente de Deus, na hora da necessidade, trouxe muitas curas e bênçãos.
Uma delas, em particular, continua a se revelar com uma beleza mais resplandecente e mais profunda, trazendo-me uma compreensão mais clara de Deus. Aconteceu há anos, quando eu ainda era iniciante no estudo da Ciência Cristã.
Certa vez, eu estava lendo a Lição Bíblica semanal, contida no Livrete Trimestral da Ciência Cristã, quando uma afirmação chamou minha atenção: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mateus 5:8). Fiquei me perguntando: “O que significa ser limpo de coração? O que significa ver a Deus?”
Durante toda a semana seguinte, essas perguntas não me saíam do pensamento. A resposta veio de maneira inesperada.
Uma amiga e eu saímos para comprar presentes de Natal, no centro da Cidade do México. Já estava escuro, ao voltarmos de carro para casa, e nos perdemos em um bairro que tinha a fama de ser perigoso.
Minha amiga estava extremamente nervosa, quase chorando. Eu tentava acalmá-la, enquanto a afirmação “bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” continuava insistente em meu pensamento.
Quando estávamos prestes a entrar em uma rua movimentada que nos levaria para casa, dois jovens — um deles portando uma arma — começaram a bater no vidro do carro, um de cada lado. Apavorada, minha amiga abriu a porta e saiu correndo.
Pelo espelho retrovisor, pude vê-la fugindo do rapaz armado, gritando e pedindo ajuda. Mas as pessoas nos carros atrás do nosso não ajudaram. Elas simplesmente desviaram o próprio carro, aparentemente assustadas demais para se envolver.
Parecia cena de filme de terror, mas mesmo assim eu continuei muito calma. A Bíblia diz: “No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo” (1 João 4:18). Eu havia aprendido, com o estudo da Ciência Cristã, que Deus é o Amor e está presente em todo lugar, portanto, apesar do que estava acontecendo, eu sabia que não havia nada a temer. O Amor infinito cria e governa tudo e não inclui nada que possa ser prejudicial.
O rapaz do meu lado bateu novamente no vidro e gritou para eu abrir a porta. Achei que eles entrariam no carro e me fariam dirigir até um caixa eletrônico para sacar dinheiro da minha conta; depois me deixariam em algum lugar distante e pegariam meu carro. É o que geralmente acontece nessas situações. Mas eu não estava com medo.
Abri a porta e vi que o assaltante era um adolescente. Pensei: “Ele poderia ser meu primo”. Eu sabia que, na realidade, ele era filho de Deus, o reflexo do Amor divino e a única coisa que eu senti por esse jovem foi amor e compaixão.
Disse-lhe calmamente: “Tudo bem. Pegue o que quiser, só não machuque minha amiga”. Ele entrou no carro e disse: “Passa os brincos e o relógio”. Respondi que não tinha nenhum dos dois.
No México, é comum achar que é pior, quando não temos nada para ser roubado, pois se não dermos algo, os ladrões serão mais agressivos. Mas esse rapaz parecia surpreso com o que estava acontecendo, como se estivesse se perguntando: “O que estou fazendo?”
Enquanto eu olhava novamente pelo retrovisor, tentando encontrar minha amiga, ele simplesmente saiu do carro sem levar nada — nem mesmo minha carteira ou os presentes.
Saí do carro admirada com o que havia acontecido. O pensamento que me veio naquele momento foi: “Eu vi a Deus!” Havia visto a evidência de que Deus, o bem, é de fato a única presença, a única realidade.
Procurei ver onde estava minha amiga e vi que ela estava parada na esquina. Ela estava bem e não havia sinal do outro rapaz. Chamei-a e ela correu de volta para o carro e entrou rapidamente. Em pouco tempo, já estávamos em segurança a caminho de casa.
Compreender, em minha oração, que estávamos na presença do Amor infinito trouxe uma conclusão harmoniosa para nós dois.
Muitas vezes refleti sobre esse acontecimento e sempre encontro nova inspiração. Fica cada vez mais claro para mim que o que vivenciei está diretamente ligado ao meu estado de consciência. Estou mais consciente da necessidade de escolher o que aceito como real — ou as ameaças do mal, ou a presença de Deus, a presença da Verdade, com seu poder .
Essa experiência me lembra que Deus é o Amor e que podemos comprovar essa verdade em nosso dia a dia. Ver o rapaz como filho de Deus — como meu “irmão”, não como um ladrão — ajudou a trazer à tona o bem nele. Isso explicaria a expressão de espanto que vi em seu rosto. Tenho confiança absoluta de que esse evento transformou a vida dele, assim como transformou a minha.
Há alguns dias, eu estava refletindo sobre uma afirmação de Mary Baker Eddy em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “Se o Cientista alcança o paciente por meio do Amor divino, o trabalho de cura se realiza em uma só visita, e a doença desaparece, voltando ao seu nada original, como desaparece o orvalho sob o sol da manhã” (p. 365). Logicamente, o rapaz não era meu paciente, mas ficou claro para mim que não foi um amor pessoal pelo próximo que trouxe cura à situação. Aparentemente, a influência do puro amor de Deus, a qual eu estava reconhecendo em minha oração, foi sentida por esse rapaz que quase me assaltou. O homem é a expressão espiritual do Amor, e reflete todas as qualidades puras e perfeitas de Deus. Compreender, em minha oração, que estávamos na presença do Amor infinito trouxe uma conclusão harmoniosa para nós dois.
Quando comecei a escrever a versão em inglês deste artigo, tive outra compreensão. Deus está sempre ouvindo! Ele estava ouvindo, quando perguntei “O que significa ver a Deus?” O Amor respondeu à minha pergunta de maneira maravilhosa.
