Abrir mão do meu programa de trabalho não é fácil para mim; inclusive com relação à oração. Talvez você também se sinta do mesmo jeito. Por exemplo, uma vez, quando eu achei que estava de coração totalmente aberto ao voltar-me a Deus em busca de compreender o que significa fazer a vontade de Deus, eu percebi que minha oração era mais parecida com uma prece de múltipla escolha: “Seja feita a Tua vontade, Deus, desde que seja ou A, ou B, ou C, ou D”. Dei risada de mim mesma quando notei o que estava acontecendo, e foi então que verdadeiramente pude orar de modo genuíno: “Faze-me saber, Deus, que Tu és onipotente e controlas tudo o que Tu criaste”.
Portanto, para mim é muito importante poder voltar-me a Deus sem nenhum pré-requisito. E para isso, o que ajuda é uma coisa que venho adquirindo por meio de meu estudo da Ciência Cristã: é a compreensão profunda do que Deus é. Ao saber o que Deus é, posso confiar em Deus. E por saber que Deus é o bem onipotente, que amorosamente governa tudo e todos, posso estar certa de que não necessito convencer a Deus para que Ele faça alguma coisa. Nesse sentido, pode-se dizer que minhas orações são mais para mim do que para Deus. Em outras palavras, minhas orações não são um tipo de chute inicial dirigido a Deus, mas, em vez disso, me despertam, melhor dizendo, me tornam mais alerta, para perceber o amor e o poder de Deus, que estão sempre presentes e em ação.
Orando dessa forma espontânea e genuína ao longo dos anos, aprendi que uma das coisas mais úteis que posso fazer é estar de coração aberto ao me voltar a Deus; elevar-me rumo aos braços do Amor divino sem nenhum outro desejo a não ser o de estar consciente de que Deus é a perfeita causa única e una, e eu sou o perfeito efeito de Deus. E quanto mais abro meu coração para Deus em oração, mais poderosos são os resultados.
E por quê? Mary Baker Eddy esclarece esse ponto nesta declaração que se encontra em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “Um só Deus infinito, o bem... não deixa nada que possa pecar, sofrer, ser punido ou destruído” (p. 340). Assim, ao orar não necessitamos pré-estabelecer um roteiro, ou uma lista de requisitos, pois a infinitude de Deus, o bem, exclui tudo que não seja a semelhança do bem. Como pode existir o mal ou o sofrimento, quando o bem é infinito? Não pode. Mesmo um vislumbre do que significa a existência de Deus, o bem, infinito, uno e único, esse vislumbre tem poder suficiente para curar; o mesmo poder que a luz tem para dissipar as trevas com naturalidade e sem esforço.
Então, o que dizer das vezes em que temos dificuldade em abrir mão dos roteiros que pré-determinamos ao orar? Para mim, é reconfortante perceber que até mesmo Jesus também teve suas lutas. Ele ensinou aos discípulos a Oração do Senhor, afirmando que Deus é um e uno, e que Deus é Tudo, e então, com simplicidade, declarou que Deus conhece as nossas necessidades, e nos suprirá todos os dias com tudo o de que necessitamos. A Oração do Senhor pede a Deus para nos livrar das tentações do ego, e atribui a Deus o poder, a glória e o governo de todas as coisas. Essa é verdadeiramente a quintessência, o suprassumo da oração que nos leva a ceder, a render-nos a Deus.
Quanto mais abro meu coração para Deus em oração, mais poderosos são os resultados.
Ainda assim, no Getsêmani Jesus orou fervorosamente para ver se conseguia evitar a crucificação. Foi necessária uma profunda renúncia à sua própria vontade, até que finalmente ele conseguiu dizer: “Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres” (Mateus 26:39).
A palavra “todavia”, nesse contexto, é muito encorajadora. Mesmo quando achamos que não conseguimos abrir mão completamente dos roteiros que delineamos nas nossas orações, talvez possamos, como fez Jesus, pelo menos continuar a renunciar aos nossos planejamentos, até alcançarmos o ponto em que possamos dizer: “Todavia, mais do que qualquer outra coisa, eu quero sentir, saber e confiar que Tu, ó Pai, estás no controle e sempre cuidarás de mim”.
Aprendi também que é igualmente importante abster-me de fazer esboços de como é que Deus deve atender às minhas orações. Se eu estiver mais do que tudo falando com Deus, em vez de prestar atenção ao que Ele diz, isso significa que ainda tenho um roteiro delineado por mim, para que Deus o siga. Desse modo, provavelmente não ouvirei as respostas da inspiração espiritual, ou “anjos”, já presentes para me assegurar de que tudo realmente está bem.
Um dos hinos do Hinário da Ciência Cristã diz:
Os corações fiéis a Deus
Esperam sem temor.
Deus sabe quais os anjos Seus
Nos podem confortar
E logo os vai mandar
(Violet Hay, No. 9, trad. © CSBD).
Pense nisso! Deus não apenas sabe quais são as nossas necessidades, mas também sabe muito melhor do que nós quais são elas. Muitas vezes me aconteceu de ficar emocionada de surpresa porque as mensagens angelicais que me vêm de Deus parecem não ter relação com o problema que estou enfrentando, e apesar disso servem exatamente para revelar e corrigir o mal-entendido a respeito do fato de que Deus é infinito e é Tudo, mal-entendido esse que estava me atrelando a um senso limitado de saúde, suprimento, ou qualquer que fosse a dificuldade. Afinal, nosso problema, qualquer que seja, é sempre uma concepção errônea a respeito de Deus e do fato que Ele é Tudo, uma concepção errônea que necessitamos corrigir em nosso modo de pensar.
Por exemplo, durante uma viagem com minha família, comecei a sentir uma dorzinha nas costas sempre que fazia um certo movimento. Então, depois que preparei a mesa para nossa refeição, a dor se tornou constante. Assim, mesmo estando muito ocupada naquele dia, orei; declarei que Deus estava cuidando de mim com ternura, e assim pude manter a calma e completar tudo que necessitava ser feito. Mais tarde, porém, encontrei o momento para ficar quietinha em silêncio e prestar atenção humildemente ao que Deus teria a me dizer. Simplesmente me senti bem perto de Deus. Orei com simplicidade, sem palavras, com gratidão pelos momentos em que tive a plena convicção de que Deus é o Espírito e de que tudo o que Ele cria é espiritual e bom, inclusive eu mesma.
A mensagem angelical de Deus dessa vez não me veio sob a forma de palavras, mas sim fazendo-me sentir uma alegria imensa e um profundo amor; como se fosse um cobertor quentinho me aconchegando, e a certeza de que no universo inteiro não existe nenhum problema que não se resolva quando sentimos a onipresença do Amor. Naquele momento, a dor nas costas simplesmente desapareceu. De forma tão natural que não parecia um enorme “Viva!” mas algo inevitável justamente porque Deus, o Amor, é Tudo.
Na Bíblia, o livro de Isaías nos assegura de que, para nos confortar e cuidar de nós, Deus não necessita de nossa opinião: “...antes que clamem, eu responderei; estando eles ainda falando, eu os ouvirei” (65:24). A oração mais eficaz nos leva à comunhão com Deus e nos faz sentir o que já é verdadeiro para essa Mente infinita. Para mim, a “forma” para essa oração genuína e poderosa consiste em reconhecer e admitir que o bem está intacto e é completo, perfeito. Exatamente onde estamos. Sem necessidade de nenhum roteiro pré-determinado por nós.
