Eu estava tentando, de todas as maneiras, libertar uma borboleta que se agarrava firmemente ao painel superior da porta de tela. Talvez ela instintivamente achasse que ali seria o lugar mais próximo para chegar à liberdade, contudo, sua fuga só seria possível através da porta aberta — isso se eu conseguisse um jeito de fazê-la descer.
Finalmente, polvilhei açúcar nas cerdas de uma vassoura e ergui-a até aquela linda criatura. Com o açúcar, eu atingi meu objetivo, pois a borboleta subiu nos fios adocicados. Lentamente, baixei a vassoura até a porta aberta e observei as asas laranja e pretas tremularem e subirem no cintilante céu azul de verão. Meu coração se encheu de alegria ao ver o delicado inseto voar livremente até desaparecer.
Quantas vezes já me perguntei se eu estava sendo teimosa, presa a alguma ideia que eu decidira ser a certa? Quantas vezes recusei-me a ouvir qualquer pessoa que tentasse me ajudar a ver as coisas de forma diferente, e continuei com a atitude obstinada que me mantinha confinada a uma prisão mental?
No entanto, por ter tantas vezes me voltado humildemente à oração, ao longo da minha vida, eu aprendi que realmente só preciso ceder à inteligência amorosa que chamamos Deus, e me deixar ser guiada por Ele. Sempre que faço isso, encontro o caminho espiritual que leva à solução de qualquer problema que eu esteja enfrentando.
Agarrar-nos obstinadamente a um plano que achamos ser o certo, confiando totalmente em nossas convicções pessoais, geralmente nos traz problemas. Essa atitude mental, quando encontra oposição, pode gerar ressentimento, raiva e a presunção de uma retidão pessoal. Talvez nos apeguemos à desculpa de que não somos compreendidos, sentimo-nos justificados em nosso sofrimento e até mesmo nos consideramos vítimas. Mas esses sentimentos apenas nos impedem de encontrar a paz e a harmonia puras que verdadeiramente queremos.
O personagem bíblico Naamã enfrentou essas atitudes que aprisionam, em um momento crítico de sua vida (ver 2 Reis 5:1–14). Respeitado capitão do exército do rei da Síria, ele sofria de lepra. Uma jovem escrava, originária de Israel, sugeriu que ele poderia ser curado pelo profeta Eliseu. Com cavalos e carros, Naamã foi visitá-lo. É provável que estivesse esperando chegar à porta de Eliseu e ser recebido com as honras e a reverência com as quais um homem de seu status estava acostumado. Mas Eliseu nem mesmo saiu ao seu encontro. Em vez disso, enviou um mensageiro, com a ordem de que se lavasse sete vezes nas águas calmas do rio Jordão, que Naamã considerou inferior aos caudalosos rios de Damasco.
Naamã ficou furioso e decidiu voltar para casa. Imagino que seu ego e seu orgulho estivessem feridos. Mas seus servos aproximaram-se dele com afeto. A Bíblia relata que “...chegaram a ele os seus oficiais e lhe disseram: Meu pai, se te houvesse dito o profeta alguma coisa difícil, acaso, não a farias? Quanto mais, já que apenas te disse: Lava-te e ficarás limpo”.
Em resposta, talvez, ao amor expressado por seus leais oficiais, Naamã conseguiu libertar-se de sua teimosia. Com humildade, seguiu a orientação de Eliseu, e foi curado da lepra. Ele deixou de se apegar ao próprio senso pessoal do que era certo e, obedientemente, se deixou guiar por Deus. A cura estava ali, esperando ser recebida por sua mansidão e humildade.
A Bíblia nos assegura: “Somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coherdeiros com Cristo” (Romanos 8:16, 17). Precisamos nos libertar daquilo que parece lógico, mas que se baseia em um senso limitado e material de nós mesmos e do bem, e temos de estar dispostos a deixar que Deus nos revele a verdade do nosso verdadeiro existir como Seus filhos, herdeiros de Seu infinito bem. Ver a nós mesmos nessa luz pode ser muito libertador! Como diz um dos meus hinos favoritos:
Não feches teu pensar
À luz de Deus, o bem,
Mas abre, deixa o Verbo entrar.
O Amor te nutrirá.
Da servidão livrar,
Sim, a Verdade vem.
A liberdade ela traz
Ao pensamento teu.
. . . . .
Então abre o pensar
À Luz e ao Amor,
E saberás: com Cristo, em Deus,
Tua vida oculta está.
(Charles Parsons, Christian Science Hymnal, 201, trad. © CSBD)
Constatei em minha experiência que, quando coloco aquelas circunstâncias materiais, que aparentemente se encaixam no meu plano, à frente do senso de existir centrado em Deus, surgem problemas. Mas, quando deixo de lado minhas próprias conclusões e soluções, e coloco minha vida sob o controle amoroso de Deus, percebo que muitas coisas maravilhosas ocorrem. Fui muitas vezes recompensada com a paz e a liberdade maravilhosas vindas de Deus.
No livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, Mary Baker Eddy escreve: “O pensamento humano tem de se libertar da materialidade e da escravidão que ele mesmo se impôs” (p. 191). Quando nossa vida está em alguma situação em que temos decisões a tomar, ou estamos buscando nos libertar de qualquer tipo de desarmonia, a Ciência Cristã nos mostra que há uma porta aberta para a cura. Não é algo que temos de fazer; é algo que podemos descobrir. Todos os dias temos a oportunidade de deixar de lado nossa visão limitada e aprender mais sobre nossa identidade pura, criada por Deus. À medida que cedemos ao amor e à sabedoria de Deus, como fez Naamã, podemos ter a confiança de que a Verdade nos guiará a uma visão mais elevada e mais espiritual que nos liberta e cura.
