Uma das primeiras curas significativas que eu tive, já adulta, foi quando aprendi a importância de compreender o verdadeiro senso de sacramento. Até aquele momento, nunca havia apreciado a Lição Bíblica “O Sacramento”, que consta no Livrete Trimestral da Ciência Cristã. Eu a achava pesada e triste, porque quase sempre trazia o relato da crucificação de Cristo Jesus, e para mim isso significava martírio, sacrifício e perda. Contudo, minha visão mudou.
Casada e mãe de dois filhos pequenos, minha menstruação passou a ser contínua, deixando de ter os intervalos regulares entre um ciclo e outro. Eu não sentia dor, mas estava com medo, porque sabia que isso não era normal. Eu havia feito o Curso Primário da Ciência Cristã, alguns anos antes, e estava me esforçando para dar a mim mesma o tratamento pela Ciência Cristã, como havia aprendido no curso. Isso significava afirmar a plenitude e a onipotência de Deus, o Espírito, e negar que o oposto do Espírito, a matéria, tivesse algum poder para causar a doença. Orei para compreender que o sangue não é a fonte vital da vida, porque a Vida é Deus. Mas o sangramento não parava.
Então em um sábado, pedi a meu marido que tomasse conta das crianças, para que eu pudesse dedicar um tempo a orar, com mais profundidade, por mim mesma. Também telefonei para minha professora da Ciência Cristã para pedir que orasse por mim. Quando expliquei o que estava acontecendo, ela me fez uma pergunta inusitada: “Por que você acha que está sendo ‘crucificada’?” Ela não tentou responder a essa pergunta, nem mergulhou em nenhuma sondagem psicológica sobre o que estava acontecendo em minha vida, mas concordou em orar por mim, e me pediu que estudasse a Lição Bíblica daquela semana, cujo tema era “O Sacramento”, para espiritualizar o conceito que eu tinha de sacrifício.
Eu vinha me sentindo sobrecarregada com muitas coisas relacionadas ao casamento, ao lar e à maternidade. Parecia que minhas responsabilidades não tinham fim, e que eu dedicava todo meu tempo e esforço aos outros, sem nunca ter tempo para mim mesma. Acho que pensava que era eu aquela que estava sendo sacrificada. A pergunta de minha professora me ajudou a trazer à luz a mais básica das falsas alegações, o disfarce mental da maternidade como martírio, e isso fez com que eu parasse de orar a respeito dos sintomas físicos. Fui guiada a ouvir a Deus, para que me fosse mostrado que essa mentira básica não era de maneira alguma uma causa, porque Deus é a causa única e o único Criador, o Pai-Mãe de Seu universo espiritual e de todos os filhos e filhas que nele habitam. Não cabia a mim manter o controle de tudo.
Ao estudar com calma, ponderar e orar com as ideias da Lição Bíblica “O Sacramento”, deparei-me com esta passagem de Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy, que eu já havia lido muitas vezes antes, mas que de repente me chamou a atenção: “Na Roma antiga exigia-se que o soldado prestasse juramento de fidelidade a seu general. A palavra latina para esse juramento era sacramentum, e a nossa palavra sacramento dela deriva” (p. 32). Uau! Ocorreu-me que o problema não era o que os outros exigiam de mim, mas sim a questão: ao quê eu estava sendo fiel? Senti alívio imediato ao vislumbrar o fato de que é feita ao homem uma única exigência — a plena fidelidade ao Deus todo-poderoso, o Amor — e que somente isso permite que nos dediquemos aos outros, sem nos sentirmos sobrecarregados e martirizados. O Amor divino nunca exige nada de nós, sem nos dar, de imediato, a capacidade de atender a essa exigência.
O sangramento parou enquanto eu lia a Lição naquela manhã, e em seguida eu já estava alegremente preparando o almoço para minha família.
Desde essa cura, passei a apreciar muito a Lição sobre “O Sacramento”, quando aparece duas vezes por ano, e aceitei a ideia de sacrifício, porque compreendi que o que está realmente sendo exigido é que abandonemos o senso pessoal de ego, para acolhermos nossa verdadeira individualidade espiritual em Deus, a qual inclui liberdade em vez de martírio. No livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde, lemos: “A purificação do senso humano e do ego é uma prova de progresso. ‘Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus’ ” (p. 324).
Contudo, embora eu tenha aprendido a apreciar o sacramentum, como uma oportunidade para renovar meu juramento de total fidelidade a Deus, isso não significa que eu não precise trabalhar para me desprender do ego. A permanente insistência dos cinco sentidos físicos em alegar que somos materiais, que temos uma vida pessoal, um corpo pessoal, familiares pessoais, problemas pessoais e responsabilidades pessoais, fica martelando em todos nós. A origem desse pensamento é aquilo que Cristo Jesus chamou de “valente”, a mente carnal que tem de ser amarrada, antes de podermos ficar livres de nos considerar mártires, e sintamos a paz em reconhecer que a Mente divina, Deus, é a causa única. Jesus disse francamente: “Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; e só então lhe saqueará a casa” (Marcos 3:27).
A Sra. Eddy dá uma importante orientação a respeito de sentir um falso senso de preocupação e responsabilidade pelos outros, em um artigo intitulado “Uma alegoria”, em seu livro Escritos Diversos 1883–1896 (pp. 323–328). Pensando sobre a alegoria deduzi que “um Forasteiro” representa o pensamento mais elevado, o Cristo, a Verdade, que entra na experiência humana assim como o sol brilha sobre tudo e todos. O Cristo entra em todas as fases do senso mortal de vida, e desmascara todos os seus atrativos pecaminosos, inebriantes, e todas as formas mesméricas de doença e angústia, que nos manteriam fascinados e presos a um senso pessoal errôneo de vida.
Aqueles que estão cansados dessas dores e prazeres limitadores, começam a despertar e a lentamente seguir a orientação do Cristo, até atingir pontos de vista mentais mais elevados apesar de, muitas vezes, continuar querendo carregar a bagagem das coisas que lhes prometem satisfação. Isso não só lhes atrapalha o progresso, como causa ainda mais sofrimento e confusão quanto ao porquê de a jornada parecer tão difícil.
Na alegoria, algumas pessoas prontamente abandonam seus fardos, e avançam rapidamente em direção ao ápice da consciência espiritual, mas então são tentadas pelo senso egotista de ser pessoalmente a origem das soluções, o que é diferente de nutrir o desejo sincero de fazer o que é melhor para os outros. Essa passagem, em particular, diz o seguinte: “Então, aquele que não tem bagagem volta para trás e delicadamente põe bandagens em seus ferimentos [dos outros], limpa-lhes as manchas de sangue e se mostra disposto a ajudá-los a seguir em frente; mas, de repente, o Forasteiro grita: ‘Deixa-os, eles precisam aprender com o sofrimento. Segue teu próprio caminho; e se te extraviares, atenta ao toque da corneta e esta te chamará de volta ao caminho que leva para o alto’ ” (pp. 327–328).
Cada um de nós pode, e deve, fazer a própria escalada espiritual, porque ninguém mais pode realizar por nós a vitória sobre o ego, ou fazer por nós aquele juramento especial de fidelidade a Deus. Também estou constatando que é útil controlar a ansiedade quanto à dificuldade da subida, e honestamente enfrentar as tentações, que ainda parecem sedutoras, angustiantes e por isso nos compelem a que nos apeguemos à bagagem do ego pessoal.
Como indica a alegoria, a tentação mais sutil pode ser a de assumir o fardo dos outros como se fosse nosso, no esforço de ajudá-los a carregar os fardos de sua história mortal, em vez de ajudá-los a ver sua própria imortalidade, e abandonar completamente a história mortal. Contudo, parece que, quando nos vemos acuados diante da incapacidade de fazer algo por nosso próprio esforço, tendemos a abandonar mais completamente as preocupações. Uma experiência recente me ensinou essa lição.
Uma forte tempestade de inverno deixou uma camada de 45 centímetros de neve, no bairro onde eu morava. Eu tinha acabado de me mudar para um pequeno condomínio, e havia depositado no porão “tudo o que [eu tinha] de terrenal” (ver Ciência e Saúde, p. 55). Ao ver que o veículo que tirava a neve do meio da rua a deixava acumulada cada vez mais na frente da porta do porão, fiquei preocupada com a possibilidade de inundação, quando ela começasse a derreter. Todos os esforços para que a administração do condomínio interviesse foram em vão. Então, nos dois dias seguintes, a temperatura subiu e vieram fortes chuvas. No meio da noite, a água começou a escorrer pela escada.
Eu estivera acordada para monitorar a situação, então comecei a rapidamente colocar os itens ali armazenados em lugares mais altos. Usei toalhas, e um aspirador de água para tentar impedir que o nível da água subisse. Também tentei orar, mas sinceramente, eu estava me sentindo bastante angustiada. Finalmente, por volta das três da manhã, era óbvio que eu não conseguiria impedir o fluxo da água, e que precisava confiar totalmente em Deus.
Voltei para o andar de cima e recorri à Lição Bíblica em busca de inspiração. Não se tratava de desistir e deixar a água tomar conta; foi um render-se à oração para entregar a Deus “tudo o que [eu tinha] de terrenal”. Não era tanto para obter a ajuda de Deus a respeito dessa situação, mas orava para sentir que Deus era, é, e sempre será minha única “situação”.
Orei, até que toda preocupação se dissipou, e senti um tranquilo senso de que a Vida é Deus, e então fui dormir por algumas horas. Quando verifiquei o porão pela manhã, a toalha, que eu havia deixado enrolada para absorver a água, estava levemente úmida. O fluxo de água escorrendo pela parede estava diminuindo e logo parou. Em poucas horas, um ventilador secou toda a área, e a água não chegou nem perto dos itens armazenados.
É muito poderoso reconhecer que a causa única, o Pai-Mãe Deus, governa Seu universo infinito. Desistir de tentar ser a causa de qualquer coisa, não significa sacrificar algo verdadeiramente bom, mas significa libertar-se de todo fardo. Um hino de que gosto muito resume o que continuo aprendendo a fazer:
“Nas mãos de Deus me entregarei,
Por fim vou triunfar.
De hoje em diante buscarei
Louvar-Te sem cessar”.
(John Ryland, Hinário da Ciência Cristã, 224, trad. e adapt. © CSBD)
Deus é Tudo-em-tudo e totalmente bom e, à medida que adotamos o verdadeiro senso de sacramento, vemos que as limitações da existência humana recuam, diante do Deus único e infinito.