Beto e Zeca defrontaram-se cara a cara. Suas vozes elevaram-se no entardecer silencioso. Tornaram-se agudas e tensas.
De repente, uma janela no segundo andar do edifício mais próximo abriuse. Uma voz gritou: “Parem com esse barulho aí em baixo! Beto, suba aqui!” Era o pai de Beto. Isso interrompeu a briga.
Beto deu meia volta e foi para casa. Zeca seguiu-o. Na escada, lutaram. Ambos praticavam esportes, mas Beto era o mais forte. Deu um empurrão em Zeca e subiu correndo as escadas. Irrompeu no apartamento, bateu a porta e encostou-se nela. Lágrimas de vergonha surgiram em seus olhos. “Eu não pude bater nele! Tentei, mas não pude bater nele!”
O pai ficou parado, em silêncio, a alguns passos. Beto pensou que ele devia ter ouvido a luta na escada. Achou que o Pai estivera orando. Parecia tão calmo.
Então o Pai pôs-lhe o braço nos ombros. “Não fique envergonhado, filho. Fique grato. Você reflete Deus, o Amor divino. Você tem o dom da ternura. Isso é força e não, fraqueza.” O Pai sentou-se para conversar com ele, e a Mãe se reuniu a eles. Ela sabia o que acontecera. Beto viu que ela estava condoída por ele. Quando surgiam problemas, eles costumavam debatê-los juntos.
Falaram sobre como os rapazes e homens pensam que devem expressar somente as qualidades chamadas “masculinas”, como força, coragem, capacidade de dar proteção e determinação. “Devido a que um pai traz essas qualidades para a família, elas são chamadas qualidades paternais,” disse o Pai.
A Mãe concordou que a ternura, o perdão e o consolo são primariamente qualidades maternais. “Mas, na realidade”, acrescentou, “são essas qualidades combinadas o que constitui uma pessoa.”
“Certo”, disse o Pai, “é uma combinação. Há ocasiões em que sua Mãe tem que tomar decisões por todos nós. E ela exige que você se comporte quando estou ausente. É nessas horas que ela precisa expressar qualidades paternais.” Para surpresa de Beto, seu Pai, oficial do Exército, contou como as primeiras promoções dele resultaram do amor e da compreensão que ele havia demonstrado para com seus homens, qualidades essas que podem parecer mais maternais do que paternais.
“Você não precisa ser uma menina para expressar gentileza e perdão. E, por outro lado, Mamãe nunca teve de agir como homem, não importa quão firme ela possa ter sido.”
Às vezes, a confusão entre qualidades que maridos e mulheres deveriam expressar, conduz a problemas. A Mãe e o Pai contaram a Beto como os próprios pais deles discutiam. Beto sabia que seus avós paternos haviam se divorcido. “Eu tinha quinze anos”, disse o Pai, “e foi duro para mim.”
Beto ficou a se imaginar a razão por que ele nunca tinha ouvido seus pais trocarem palavras ásperas. “Quando nossas opiniões diferem”, disse a Mãe, “nosso amor e a consciência que temos de partilhar das qualidades provenientes de Deus, ajudam-nos a evitar pontos de vista limitados e egoístas. E nós dois vimos o que as discussões fazem às famílias.”
“Você vê”, o Pai continuou, “Deus é o nosso Pai-Mãe divino. Ele é tanto Pai como Mãe para nós. Mesmo se os pais humanos nos falham, de algum modo, as qualidades de Deus chegam até nós. Deus supre nossas necessidades. Mais do que isso, somos todos Seus filhos e temos tudo o que Ele nos dá. Você sabe disso.”
Beto sabia. Tinha aprendido isso em casa e na Escola Dominical da Ciência Cristã. Contudo, jamais havia pensado numa combinação das verdadeiras qualidades masculinas e femininas.
Mamãe abriu seu Ciência e Saúde na página 16 e alcançou-o a Beto, apontando onde a Sr.a Eddy cita a primeira linha da Oração do Senhor. Essa oração, ensinada por Cristo Jesus, aparece na Bíblia. V. Mateus 6:9–13; No livro-texto da Ciência Cristã, a Sr.a Eddy repete-a linha por linha, dando o significado espiritual de cada frase.
Beto leu em voz alta a primeira linha: “Pai nosso que estás nos céus.” E então leu o que a Sr.a Eddy diz: “Nosso Pai-Mãe Deus, todo-harmonioso.” Ciência e Saúde, p. 16.
Ele já a tinha ouvido muitas vezes, mas desta vez parou para pensar no que ela significava. Por que teria a Sr.a Eddy acrescentado “Mãe”? Como se tivesse lido seus pensamentos, o Pai disse: “Cristo Jesus sempre se referia a Deus como o Pai. Naquela época, as pessoas não falavam muito nas mães. No entanto, as qualidades maternais apareciam através de sua gentileza e do seu perdão. Apareciam através de seu zelo para com sua própria mãe, até mesmo quando ele estava preso à cruz.
Beto estava olhando para as palavras: “que estás nos céus.” Ele havia aprendido que o céu, em vez de ser uma localidade física, é a presença de Deus em nossos pensamentos — é ser governado por Deus. Aos poucos, viu ele que o céu é a atmosfera espiritual onde a paternidade e a maternidade de Deus se combinam em perfeita harmonia.
Beto sentiu-se em paz. Ele estava realmente alegre por não ter batido em Zeca. Agora sabia que sua força não se mostrava em violência. Ele era mais homem sem violência.
Tal compreensão permaneceu com ele. Ajudou-o, anos mais tarde, quando seguiu a carreira militar como seu pai. E, quando teve sua própria família, essa compreensão acerca da paternidade e maternidade ajudou-o ainda mais.