Uma das sugestões do magnetismo animal é a de romper amizades sadias. Em Provérbios, lemos: “O difamador separa os maiores amigos.” Prov. 16:28; Poucos termos há mais descritivos da sugestão mental malévola que o termo “difamador”.
Quais são algumas das difamações que tendem a causar divisão? Sentimentos magoados, orgulho, rivalidade — contam-se em legiões. Se tais mentiras forem aceitas, podem vir a corromper e destruir tudo quanto é nobre nas relações humanas.
A verdadeira amizade é sempre resiliente, isto é, capaz de agüentar choques. Quando se atira uma bola de borracha ao chão, há uma compressão momentânea na sua forma, mas quase instantaneamente ela ricocheta e reassume sua forma esférica natural. Da mesma maneira, podem verificar-se de vez em quando desentendimentos temporários nas relações humanas, mas se houver a elasticidade espiritual do amor cristão, haverá suficiente “ricochete” para os amigos resistirem a qualquer permanente dano à sua amizade.
Quando o orgulho ou a sensibilidade recebem rude golpe, há às vezes a tendência de, em protesto, ficarmos, por assim dizer, deitados no chão da mente mortal — completamente desfigurados pela autopiedade e a raiva. Esse comportamento não tem semelhança alguma com o homem que Deus criou à Sua imagem perfeita; e todas as pessoas têm a capacidade inata de rejeitar reações errôneas e de reassumir o modo crístico de pensar, que caracteriza sua verdadeira identidade. Então expressarão a ação unificadora do perdão, da paciência e do amor imutável. Um verdadeiro amigo ama sempre — talvez nem sempre compreenda, mas ama sempre — porque recusa-se a permitir que o sentido pessoal dite suas ações ou reações.
No seu livro Miscellaneous Writings a Sr.a Eddy trata diretamente da causa e da cura do desentendimento humano: “Quando é que o mundo cessará de julgar as causas, a partir de um sentido pessoal das coisas, conjetural e equivocado! Quando o pensamento habita em Deus — e não deveria, para a nossa consciência, habitar noutra parte — temos de abençoar ao que ocupa lugar em nossa memória, quer seja amigo ou inimigo, e cada um tem de partilhar o benefício dessa radiação. Essa felicidade e essa bênção individuais provém menos de um amor individual que de um amor universal; emitem luz porque a refletem; e, todos os que são receptivos, disso participam igualmente.” Mis., p. 290;
Por trás de toda amizade prejudicada há alguma fase das representações errôneas do sentido pessoal. Mas o remédio curativo está sempre presente, brilhando através das sombras: o amor universal do Amor, que aguarda apenas o reconhecimento de sua presença a fim de dar a bênção da harmonia. O magnetismo animal, o erro, não teria êxito de espécie alguma em alienar amigos ou parentes se ao menos uma das partes detectasse as murmurações separatistas do sentido pessoal, e as substituísse com o reflexo consciente do Amor divino, num amor universal e impessoal; as relações humanas são unificadas, purificadas e felizes, quando baseadas no caráter cristão desse amor.
Para a demonstração do amor universal é fundamental a compreensão da união do homem com Deus, a fonte divina do ser a da existência. Sem a consciência desse relacionamento ininterrupto é, às vezes, difícil a coexistência pacífica com povos de diferentes raças, origens, religiões, costumes e temperamentos. Mas se coerente e devotadamente procuramos uma compreensão melhor do homem real como a glória refletida e individualizada de Deus, eternamente de posse de suas habilidades oriundas de Deus, expressaremos inevitavelmente em maior plenitude e fidelidade as energias inexauríveis do amor espiritual. Essas energias destroem as reações carnais de impureza, ódio, cobiça ou ressentimento. Começaremos também a cooperar com tudo quanto seja bom nos outros, demonstrando a resiliência do amor não só ao perdoar indivíduos, mas também ao nos recusarmos a ensaiar ou mesmo relembrar circunstâncias infelizes do passado. O amor é senhor da discórdia, o que dissipa os desentendimentos; mantém na memória somente o bem e sua suprema naturalidade.
Um dos exemplos mais tocantes da amizade espiritualmente resiliente se encontra na narrativa de Mateus sobre a maneira pela qual Cristo Jesus recebeu Judas no Jardim de Getsêmani. Quando Judas o havia traído, denunciando-o às autoridades do templo, e havia levado os guardas até ele a fim de prendê-lo, o Mestre só fez esta pergunta a Judas: “Amigo, para que vieste?” Mateus 26:50; Uma afeição desprendida, terna, apta a perdoar, habilitou Jesus a enfrentar como vencedor e não como vítima o golpe de ódio que pretendia separá-los. Ele provou que na supremacia do amor espiritual estava a invulnerabilidade desse amor, sua imunidade absoluta à reação e seu inevitável triunfo sobre a mundanalidade. Quando Pedro golpeou cegamente em retaliação pessoal, ferindo um servo do sumo sacerdote, a irradiação do amor altruísta de Cristo Jesus capacitou-o a curar instantaneamente o ferido. Quando ficamos tentados a revidar mental ou verbalmente a alguma forma de injustiça ou maldade, lembremo-nos da responsabilidade que tem a amizade de refletir, sem justificação própria, os benefícios da radiação do amor tanto a amigos como a inimigos.
A união entre as pessoas é assegurada unicamente pelo amor crístico. Nele está a base de uma verdadeira comunhão de interesses, que propicia harmonia e felicidade não enfraquecida, porquanto dá incansável testemunho da origem e condição divinas do homem. Podem surgir diferenças de opinião entre amigos, mas elas não produzirão separação se cada um deles souber que o amor está sempre à altura de qualquer desafio apresentado pelo sentido pessoal. Na resiliência da afeição espiritual está a proteção contra irritação, sentimentos magoados, voluntariosidade ou qualquer outra sugestão da mente carnal. Nenhuma ação do raciocínio humano errôneo pode desviar o pensamento divinamente animado de constantemente refletir amor. Esta é a mensagem da Ciência Cristã.
A Sr.a Eddy resume, nas seguintes palavras, a condição e a recompensa do amor altruísta: “Quando os corações dos Cientistas Cristãos estiverem entrelaçados como o estão seus nomes na urdidura da história, a terra fará flutuar majestosamente a heráldica do céu, e repetirá o cântico dos anjos: «Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem».”Mis., p. 145.
