Durante os últimos anos do reinado de Saul, a inimizade deste para com Davi tornara-se cada vez mais amarga. Por isso o filho de Jessé fugiu para o deserto, ajuntando ao seu redor na caverna de Adulão, perto da fronteira com a Filístia, um bando de homens que haviam sido forçados a viver como foragidos. Logo ele despontou como líder inconteste de quatrocentos partidários leais (ver 1 Samuel 22:1, 2).
Como o desafio ao monarca reinante punha em situação perigosa sua família em Belém, Davi colocou seus pais sob a proteção do rei de Moabe, um passo sábio e lógico, uma vez que sua bisavó, Rute, fora moabita (ver vv. 3, 4).
Vários aspectos das experiências de Davi no deserto lançam luz sobre seu caráter. Mesmo com Saul fazendo todos os esforços para prendê-lo, Davi ignorou o risco pessoal e saiu pronta e corajosamente em socorro de seus amigos em Queila, cidade da Judéia que se defrontava com um feroz ataque dos filisteus. A coragem de Davi e sua liderança sobre seus homens fez a sorte da batalha pender para Queila, e os filisteus foram derrotados (ver 23:1–5).
Davi tinha pouca dificuldade em iludir Saul por entre os montes da Judéia, que lhe eram conhecidos desde os seus dias de pastor. Mas o fato de Davi ter entrado em Queila para protegê-la e salvar-lhe os habitantes foi encarado por Saul, não como missão de misericórdia para auxiliar os próprios súditos de Saul, mas como oportunidade de abater seu rival. Saul preparara-se para despachar um exército a fim de sitiar e capturar Queila, e, em particular, a Davi e seus seguidores. Sabedor desse plano, Davi volveu-se a Deus nessa hora extrema; então ele e seus homens, agora em número de quase seiscentos, escaparam novamente para seu baluarte nas montanhas (ver vv. 7–14).
As forças de Saul continuavam em seus esforços para cercar Davi e seu bando. Parecia ter chegado o momento de conseguir tal intento quando Davi foi salvo uma vez mais, pois Saul recebeu a mensagem urgente de proteger o país de uma inesperada invasão dos filisteus (ver vv. 26, 27).
O capítulo 24 do primeiro livro de Samuel esclarece mais um pouco da generosidade de Davi para com Saul. Sem dar-se conta da presença de Davi, Saul entrou na caverna em que o fugitivo se escondia. Aí estava, certamente, a oportunidade de Davi abater o rival, mas ele recusou-se até a tocá-lo. Contudo, para provar sua presença, Davi cortou a orla do manto real de Saul. Mas tarde mostrou o pedaço da orla ao rei, como prova do fato de que ele não tinha desejo de matá-lo. Por um momento Saul arrependeu-se, gritando em meio ao pranto: “É isto a tua voz, meu filho Davi?” (v. 16).
Uma evidente alternativa desse relato consta num trecho posterior (ver cap. 26), onde está dito que Davi aproximou-se de Saul, o qual estava rodeado de seus seguidores, quando todos dormiam profundamente. Segundo esse relato, Davi tomou a bilha de água da cabeceira de Saul, e também a grande lança, símbolo da autoridade real, que estava cravada no solo ao lado dele. Quando Davi, mais tarde, bradou do flanco oposto do vale ao assustado governante, Saul disse, como antes: “Não é a tua voz, meu filho Davi?” acrescentando as palavras de penitência: “Pequei; volta, meu filho Davi ...” (vv. 17, 21).
A resposta de Davi é significativa: “O Senhor te havia dado hoje na minha mão, porém eu não quis estendê-la contra o ungido do Senhor” (v. 23).
Bom e reto é o Senhor, por isso aponta
o caminho dos pecadores.
Guia os humildes na justiça, e ensina
aos mansos o seu caminho.
Todas as veredas do Senhor são misericórdia e verdade
para os que guardam a sua aliança
e os seus testemunhos.
Salmos 25:8–10