Cada um de nós sente-se atraído pela inocência. É um impulso espiritual natural. Talvez não o reconheçamos plenamente. Talvez até lhe ofereçamos resistência — e nos sintamos um tanto confusos nesse processo. Mas o desejo de ser inocente está sempre presente. Às vezes a relutância em corresponder a uma inocênica que nos é inerente surge de um medo sutil de sermos tidos por ingênuos. Embora às vezes a inocência seja igualada à ingenuidade, há uma importante diferença. A verdadeira inocência é dádiva especial da Alma. É atributo espiritual que faz com que nos sintamos puros e bons.
Ingenuidade muitas vezes sugere ignorância acerca do mundo e falta de habilidade em lidar com ele. Na realidade, a inocência genuína habilita-nos a ser melhor sucedidos ao lidar com os desafios mundanos, enquanto que alguém mergulhado numa vida sensual irá, a longo prazo, encontrar-se insuficientemente equipado para contender com seu mundo. Não precisamos ser ingênuos acerca do mundo enquanto nos empenhamos por desenvolver o pleno reconhecimento de nossa verdadeira inocência.
Em realidade Deus mantém nossa pureza original, não contaminada por conceitos mundanos. A presença sustentadora de Deus eleva nossa natureza eterna, sem pecado. O conceito humano de termos decaído da graça é uma mentira. Que somos vitimados pelo pecado original é uma falácia. Que somos corruptos é uma distorção da Verdade. Nossa verdadeira natureza é livre de culpa porque Deus é livre de culpa. Somente Deus é a causa única, e Ele é bom. Cada um de nós sente um anelo profundamente arraigado para que este fato seja plenamente conhecido e sentido, e esse anelo inevitavelmente floresce. Quando nutrimos esse anelo, abrigamo-lo e permitimos que ele dirija nosso pensamento, descobrimos que nossa inocência está sendo ininterruptamente trazida para a luz.
Mas se temos a impressão de ter perdido a inocência, que fazer então? O que Deus nos deu nunca pode estar perdido, nunca pode ser destruído, nunca pode ser renegado. As pretensões da licenciosidade ou da violência nunca podem roubar-nos a inteireza e pureza que Deus nos outorgou. No entanto, podemos concretizar efetivamente nossa inocência somente quando somos suficientemente honestos e suficientemente destemidos para abandonar tudo quanto possa empaná-la.
A inocência de uma criança, seu amor, sua alegria, sua bondade, dão exemplo de uma naturalidade que pertence a cada um de nós e que não desaparece com a idade. Cristo Jesus ensinou: “Quem não receber o reino de Deus como uma criança, de maneira alguma entrará nele.” Lucas 18:17;
Jesus certamente compreendia que uma receptividade ao bem — tal como a que as crianças manifestam — uma inocência e uma isenção do mal — era essencial à satisfação verdadeira. O próprio Jesus foi um exemplo não igualado de inocência — na mais lata acepção da palavra. E sua inocência lhe deu a capacidade de amar o seu próximo da maneira mais profunda e mais significativa. Mas nisso não havia traço algum de ingenuidade.
“O autor do Apocalipse se refere a Jesus como o Cordeiro de Deus, e ao dragão como o que guerreia a inocência” Ciência e Saúde, p. 564;, é o que a Sra. Eddy escreve da visão de S. João. Referindo-se ao dragão e aos seus anjos, isto é, suas mensagens, ela explica: “A besta e os falsos profetas são a luxúria e a hipocrisia. Esses lobos vestidos como ovelhas são descobertos e mortos pela inocência, o Cordeiro do Amor.
“A Ciência divina mostra como o Cordeiro mata o lobo. A inocência e a Verdade vencem o crime e o erro.” ibid., 567–568;
O amor que dedicamos à inocência e a plena aceitação dela porque pertence ao nosso eu real tira a máscara a essas sugestões dragontinas que se nos oferecem como se fossem os nossos próprios pensamentos. O Cordeiro, essa idéia espiritual de Deus, é para nós uma força protetora no contato com o mundo.
O ódio que procura matar nosso amor, a sensulidade que tenta destruir nossa pureza, o intelectualismo que busca obstruir nossa receptividade infantil — todos eles recuam em presença do Cordeiro. Nossa identidade genuína provém da Alma, Deus. Ela é a expressão de Deus. É evidência dEle. É abençoada, preservada e sustentada por Ele.
Mas será que nossa inocência nos leva a uma atitude simplista, tornando-nos desapercebidos das necessidades que nossos amigos sentem — esquecidos das paixões e das pressões que se lhes defrontam? Será que ela conduz à ingenuidade? A Ciência Cristã mostra-nos como a verdadeira inocência eleva e sustenta uma sensitividade honesta para com os sentimentos, desejos e preocupações de outras pessoas.
Tal inocência dá-nos realmente compreensão e percepção espirituais. Habilita-nos a nos alinharmos com aquelas atividades que enriquecerão e abençoarão nossa vida. Dá-nos a força espiritual e a coragem moral de rejeitar as sendas que conduzem a um beco sem saída. A inocência está inseparavelmente ligada à alegria. Não podemos ter uma sem ter também a outra. A pessoa que fecha os olhos a essa inocência inerente é aquela que é terrivelmente ingênua acerca da verdadeira existência.
Nenhum de nós realmente deseja fomentar um erro que poderia encobrir nossa inocência. Nem é direito deixar passar o erro — seja em nós mesmos ou em outros. Temos de vencê-lo. E podemos vencê-lo quando confiamos que a Alma é o único poder em nossa vida e reconhecemos que o mal nunca pode fazer parte de nosso verdadeiro ser. Se dedicarmos nosso cuidado nesse sentido não só a nós mesmos mas também a nossos amigos, estaremos vivendo nossa inocência, porque somente nesta base podemos ver claramente a pureza e a inteireza de toda a criação de Deus.
Certa ocasião a Sra. Eddy disse aos seus seguidores: “Meus queridos, o mundo necessita de vós — mais como crianças do que como homens e mulheres: necessita de vossa inocência, de vosso desprendimento, de vossa afeição leal e vida incontaminada. Vós também precisais vigiar e orar para preservar imaculadas essas virtudes, e não perdê-las no contato com o mundo. Haverá ambição mais sublime do que essa de manter em vós aquilo que Jesus amava, e de saber que o vosso exemplo, mais do que as palavras, estabelece o padrão moral para a humanidade?” Miscellaneous Writings, p. 110.