Durante anos tive a curiosidade de saber a razão de haver dor. Que é que a causa? Como livrar-se dela? E como podia S. Paulo sensatamente sentir prazer nas fraquezas, nas injúrias e nas perseguições? (Ver 2 Cor., cap. 12.) Como pode haver qualquer proveito naquilo que provém da dor?
Felizmente, mediante o estudo da Ciência Cristã e pela luz que ela projeta sobre as Escrituras veio-me resposta satisfatória a todas essas perguntas.
Que é que causa dor? A ilusão de ser o homem um mortal físico, constituído de matéria inteligente, tal como o cérebro, o sangue, os tecidos, e assim por diante. Ora, o homem de Deus, o verdadeiro eu de cada um, é feito à imagem de Deus. Ele se origina no Espírito e reflete o Espírito. Portanto, na verdade absoluta, a verdadeira identidade (ou corpo) do homem é inteiramente espiritual e está intata; sua vida, inteligência e substância não são de matéria, não estão na matéria e não estão sujeitas à discórdia.
O físico, então, na realidade não tem mente, é inerte. Não é outra coisa senão uma imagem de pensamento falível. Segue-se que a dor física também é ilusória, mesmérica na sua natureza. Ela nunca está onde afirma estar, nunca está fazendo aquilo que afirma estar fazendo. Então, que é ela? Onde está? Tal como o corpo que ela afirma estar habitando, ela é apenas uma imagem de pensamento numa assim chamada mente mortal.
Em outras palavras, a dor é sempre uma crença; nunca sai fora da falsa mentalidade que nela crê, não tem forma a tomar, nem carreira a seguir, a não ser a que a contrafação da mente mortal delineia. Por exemplo, se você sonha que está caindo, não ficará machucado no sonho a menos que sonhe ter-se machucado. O sonho e o sonhador, a crença e o crente, formam uma só coisa.
Que belo engodo é a dor, quando faz com que você fixe o pensamento no seu corpo e em suas mazelas! Aí então você não estará apto para reconhecer a irrealidade da dor e das características mortais que talvez, segundo a crença, a produzem — como a raiva, o ressentimento, a voluntariosidade, a impaciência. Segundo a crença, a doença, o acidente, a tensão e suas dores são muitas vezes a manifestação dessas ou de outras tendências egoístas, às vezes muito bem escondidas. Mas podemos saber que somente o sentido espiritual, ou seja, a sensação real, que provém da Alma, é inerente no homem real. Este inclui somente as idéias e características do Amor divino, Deus, a quem reflete.
E novamente, que é que causa dor física? Às vezes é ela produzida por uma crença intensa de haver vida na matéria, o que mantém o indivíduo num estado em que constantemente tem medo do corpo. Crendo na ação involuntária, o indivíduo talvez imagine que sem seu conhecimento alguma coisa desarmoniosa esteja se desenvolvendo fisicamente. Toda ação primeiramente tem de ser motivada, e toda verdadeira consciência é boa, procedente de Deus, a Mente perfeita, única, que é a causa e a condição de toda ação real.
Outra causa aparente é posta em destaque quando aprendemos que as palavras inglesas “pain” e “penalty”, que em português significam “dor” e “penalidade”, derivam da mesma palavra latina “poena”, que significa “penalidade”. A dor pode, segundo a crença, ser a conseqüência da mente mortal que farisaicamente argumenta em favor da culpa e do castigo, afirmando que o homem está amaldiçoado. Mas nenhum filho de Deus jamais foi vítima dessa pretensão. Podemos ajudar a nós mesmos ao darmo-nos conta de que o homem de Deus, o verdadeiro eu de cada um de nós, é inocente, isento de pecado.
E o corpo não pode pecar. A carne não conhece o bem nem o mal. A assim chamada mente carnal é que acredita no pecado e supõe que o homem esteja sujeito a qualidades de pensamento materialistas tais como as paixões, os falsos apetites, a cobiça, a inveja — todas elas enraizadas na crença de que a felicidade possa ser encontrada na matéria. A condescendência para com essa crença resulta inevitavelmente numa crença de sofrimento, pois os prazeres dos sentidos e as dores dos sentidos são inseparáveis.
Como ficar livre da dor? Cristo Jesus disse: “O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita.” João 6:63; Cada vivificação efetuada pelo Espírito, ou seja, todo toque do Cristo, a Verdade, revela um pouco mais do nosso verdadeiro ser, que já é harmonioso, o qual não pode ficar escondido pelas sugestões mesméricas e sem poder, da dor. Com a vinda do Cristo, a Verdade, ao pensamento humano, a ilusão da discórdia se dissolve.
Quando correspondemos à verdade de que o homem é a idéia da Mente, ou sua expressão, podemos expulsar mentiras tais como um falso sentido de responsabilidade e uma impressão de se estar carregando um fardo, impressões essas que são muitas vezes, segundo a crença, a causa da tensão, da doença e da dor. Ao reconhecer que o homem é o reflexo de Deus — é efeito, não causa — podemos descartar-nos da crença opressora de uma vontade própria falível, e nos regozijarmos pelo fato de que não somos mais responsáveis pelas ações ordeiras da Mente, do que os raios do sol são responsáveis pela luz e pelo calor do sol.
Em certo sentido, a dor pode ser um alarme, prevenindo-nos de que temos de corrigir alguma falha de caráter ou condição errônea de pensamento. Conseqüentemente, eliminar apenas temporariamente a dor é algo parecido com desligar o alarme contra roubo, enquanto não se toma conhecimento do assaltante.
Se permitirmos, porém, que a compreensão espiritual elimine ou diminua a crença na matéria, em orgulho, medo, inveja, ou o que quer que esteja ocasionando a dor e a desordem, a dor terá sido enfrentada com eficácia. A espiritualização dos pensamentos e dos desejos é o único remédio seguro. Em outras palavras, quando você cura a mente, cura o corpo.
Como era possível que S. Paulo sentisse prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas perseguições? De acordo com a Bíblia, S. Paulo tinha certo problema físico, ou “um espinho na carne”. Pensava nisso como sendo um “mensageiro de Satanás” para mantê-lo com os pés no chão, evitar que fosse tomado de orgulho pessoal por uma notável visão exaltadora que teve. Não obstante, orou três vezes para que esse “espinho” lhe fosse tirado. Então, conforme se lê, o Senhor respondeu: “A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.” Aparentemente o anseio de S. Paulo, e talvez a sua tristeza, se desvaneceram, pois declarou: “De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo.” 2 Cor. 12:7, 9;
E quantas vezes “o poder de Cristo” repousou sobre ele! Embora não saibamos se alguma vez foi curado desse “espinho” especial na “carne”, a graça de Deus era suficiente para S. Paulo até mesmo em situações perigosas. Ele provou que as provações podem ser a disciplina do Senhor, bênçãos disfarçadas que aumentam nossa espiritualidade, nossa dependência de Deus, e a eficácia em auxiliar a humanidade.
A Sra. Eddy, estribada em sua própria experiência, escreve: “Os cristãos de hoje deveriam ser capazes de dizer, com a doce sinceridade do apóstolo, ‘de boa vontade ... me gloriarei nas fraquezas’ — tenho prazer no toque da fraqueza, da dor, e de todo sofrimento da carne, porque isso me obriga a procurar-lhe o remédio e a achar felicidade, fora dos sentidos pessoais.” Miscellaneous Writings, p. 200;
Como é que pode haver qualquer coisa de bom na dor? Vencemos a materialidade somente quando nos elevamos acima da crença de haver dor e prazer na matéria, mas a mente mortal tentaria oferecer resistência contra sua própria destruição, induzindo-nos a lutar para ficarmos livres da dor, ao passo que nos apegamos tenazmente ao prazer. O sofrimento na carne só traz proveito ao indivíduo se o força a procurar uma saída — para fora do sonho de haver vida na matéria — por volver-se de todo coração ao Cristo, a Verdade, em que tudo é espiritual e harmonioso. Assim o sofrimento pode ser, a justo título, considerado o castigo do Amor. Em Ciência e Saúde a Sra. Eddy escreve: “Causar sofrimento como resultado do pecado é o meio de destruir o pecado. Todo suposto prazer no pecado nos dará mais do que seu equivalente em dor, até que a crença na vida material e no pecado seja destruída.” Ciência e Saúde, p. 6;
Tal qual acontece com qualquer lucro legítimo, o proveito oriundo de se vencer o sofrimento resulta de trabalho. A lei do Amor requer de nós, no decorrer de nossa jornada, que nos qualifiquemos divinamente, que mereçamos os anjos, mereçamos as verdades curativas em meio aos ordálios. Assim, ao procurar vencer a carne, ficamos fortalecidos pela promessa em Ciência e Saúde que garante: “Se formos bastante bons para tirar proveito do cálice das aflições terrenas de Jesus, Deus nos sustentará nessas aflições.” ibid., p. 10.
Criemos ânimo! Podemos beber do cálice do Mestre, confiar em que a Verdade triunfa sobre o erro, tirar proveito dos males carnais, e provar por fim que a vida e a dor na matéria são irreais. Rejubilemo-nos! Quando amamos a Deus, todas as coisas cooperam para o bem (ver Romanos 8:28). Cada um de nós pode declarar com convicção que, quando estamos exercendo nosso domínio, todas as coisas que vêm a nós nos fazem bem.
Vamos adiante! Provar nossa superioridade sobre a dor é um feito meritório. Como podemos prová-la? Espiritualizando o pensamento a fim de perceber a perfeição sempre presente do ser espiritual, real, do homem intocado pelo sonho da existência material com suas doenças, seus agravos, sua exaustão e outros malefícios. Quando compreendemos a natureza inteiramente harmoniosa, abençoada, de nosso verdadeiro eu, cada um de nós pode viver acima das sugestões mentais errôneas que, segundo a crença, fazem surgir a dor, e aniquilar essas sugestões. É isso o que significa despir-se do velho homem e revestir-se do novo.
Louvado seja Deus! Cometer pecado e passar por sofrimentos são experiências irreais, que não têm origem nem causa real, pois a matéria não tem presença nem poder. O Espírito, o único criador, é a presença única. O poder da Mente, do Amor, é supremo.
