O homem é, na verdade, uma idéia espiritual, a expressão individualizada da única consciência divina. Portanto, toda mentira da mente mortal, quer seja sob a forma de um mortal doente quer de um pecador, é de fato uma mentira a respeito da consciência, a respeito daquilo que o homem conhece. O que aparece sob a forma de um mortal doente é uma manifestação da crença de que o homem tenha uma mente separada da Mente única, Deus; que ele decaiu da consciência de sua inteireza dada por Deus e acredita-se doente. O pecado originase, também, da crença de que o homem tenha uma mente sua, separada de Deus; de que ele se tenha desgarrado do Princípio divino.
Talvez seja necessário que levantemos algumas perguntas, tais como: Que é que o homem conhece de fato? Qual é a fonte, ou o Pai, da consciência que o homem tem? As respostas encontram-se na Bíblia e nas obras de autoria da Sra. Eddy. Há uma só Mente infinita e a consciência do homem é a emanação, a própria manifestação, da Mente divina. O homem só conhece o bem.
Enquanto identificarmos o pecado ou a doença com uma pessoa, estaremos trabalhando de um ponto de vista errado, e não nos chegaremos a conscientizar de que o crente não é o homem, mas uma crença errônea. Assim sendo, talvez achemos necessário fazer mudar alguém ou persuadir alguém a mudar. No livro Ciência e Saúde a Sra. Eddy escreve: “Uma crença errônea é ao mesmo tempo o tentador e o tentado, o pecado e o pecador, a moléstia e sua causa.” Ciência e Saúde, p. 393; Sabendo disto, repreendemos a crença em doença ou pecado, não as pessoas. Jesus deu-nos um exemplo no caso do menino possesso de um mau espírito. Disse ele: “Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai deste jovem e nunca mais tornes a ele.” Marcos 9:25; Quando a crença foi destruída e o jovem ficou curado, deixou de existir alguém que nela acreditava. Para essa pessoa a crença fora tudo quanto existia.
O que se faz necessário nesse trabalho de cura, e onde se realiza ele? É preciso inspiração espiritual, luz espiritual. O trabalho dá-se em nossa própria consciência.
Nada a não ser a compreensão espiritual pode revelar o status verdadeiro do homem como a idéia da Mente. Não há outro jeito de penetrar o mais sutil disfarce que o erro toma, isto é, o de crente. Tendo a compreensão como meta, expulsamos de nossa consciência tudo que nos impediria de ver o que o homem já é, o que já sabe como reflexo de Deus. Essa espiritualização prepara-nos para ajudar a outros.
Certa noite, ao ser despertada, constatei que um membro da família estava muito mal com o que mais tarde fiquei sabendo tratar-se de intoxicação alimentar. O sentimento de que qualquer ajuda física seria inútil forçou-me a pôr de lado a evidência material e a voltar-me para a realidade espiritual. Não existe nenhuma crença de doença, pensei — e não há ninguém que nela creia.
Meu ponto de vista mudou inteiramente. Vi que não havia coisa alguma a ser normalizada. Havia realmente só a consciência da presença de Deus. Tive um vislumbre do homem criado por Deus, consciente de sua perfeição dada por Deus. Dentro de dois ou três minutos tudo estava calmo. Não foi senão vários dias mais tarde que meu parente lembrou-se da rapidez com que o problema cessara.
Quando Cristo Jesus curou um homem cego de nascença ver João 9;, este deixou de estar cego; só restou um homem capaz de ver. Que houve com a crença em cegueira? A cegueira não tem identidade. Nem a doença, nem o ódio, nem a desonestidade. São ilusões do sentido material. Na proporção em que a compreensão espiritual ilumina a consciência humana, a crença e o crente desaparecem. São substituídos por uma visão melhor do homem, a que se chama cura. Vemos que o crente não é uma pessoa, mas faz parte da crença.
Às vezes parece haver uma relutância em se ver que o crente não é pessoa alguma, como se a nossa própria identidade, ou a de outrem, pudessem se perder. Parte da resposta que a Sra. Eddy dá à pergunta: “Quem ou o que é que crê?” diz: “O crente e a crença são uma e a mesma coisa, e são mortais.” Ciência e Saúde, p. 487; Tudo o que pode ser dito a respeito da crença, portanto, pode ser dito a respeito do crente; nenhum dos dois é o homem; nenhum dos dois é real.
Por vezes, parece mais difícil discernir o disfarce do pecado que o da doença. De novo, porém, é a crença no pecado, e não uma pessoa, que é a pecadora. Quando curou o menino possesso de um mau espírito, “Jesus, tomando-o pela mão, o ergueu, e ele se levantou” Marcos 9:27;. Quando se separa a crença do indivíduo — e ela é vista como nada, como carecendo de individualidade — e quando o pecado é repreendido impessoalmente, tal ação levanta o indivíduo, livra-o em vez de condená-lo.
Conheci um homem que era alcoólatra. A esposa vira os efeitos curativos da Ciência Cristã na vida de outros membros da família, mas pensava que o marido era quem necessitava da Ciência, e se ele não a aceitasse nada mais lhe restava a fazer. Mas quando as coisas pioraram, decidiu-se a estudar Ciência Cristã, na esperança de que pudesse ser curada do que quer que houvesse em seu pensamento e em suas atitudes que pudesse contribuir para o problema do marido.
O homem recorda-se que, depois de algum tempo, deu-se conta de que ocorrera uma mudança em sua mulher de modo que não mais podia culpá-la pelo seu vício de beber. Viu que tinha de enfrentar o problema direta e honestamente. E o fez. Nunca mais bebeu nem teve desejo de beber. A vida desse casal mudou completamente.
O que aconteceu? A crença de que o homem, o reflexo de Deus, possa agir independentemente de seu Princípio divino e violar a lei de Deus havia sido o pecador. A luz cristã do amor abnegado e da honestidade revelaram a nulidade do pecado. Então a crença deu lugar à verdade, à lei de Deus a atuar na consciência humana. Já não havia um pecador. A esposa contou-me haver aprendido que o pecado não faz parte do verdadeiro eu de seu marido. Ela conseguira traspassar a crença e o crente.
A Sra. Eddy assevera-nos: “O pecado é o pecador, e vice-versa, pois tal é a unidade do mal; e juntos, tanto o pecador como o pecado serão destruídos pela supremacia do bem. Isso, no entanto, não aniquila o homem, pois apagar o pecado, aliás, o pecador, traz à luz, torna visível, o homem real, ou seja, a ‘imagem e semelhança’ de Deus.” Retrospecção e Introspecção, p. 64.
Nunca precisamos ter medo de perder nossa identidade ou a de outrem ao vermos a irrealidade da crença e do crente, do pecado e do pecador. Nada perdemos, e ganhamos uma visão mais clara do homem como ele realmente é.
