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Servir ao eu ou servir a Deus?

Da edição de maio de 1980 dO Arauto da Ciência Cristã


A Sra. Eddy vai diretamente ao coração de um dos assuntos capitais de nossa época quando escreve em Ciência e Saúde: “Absorvidos no eu material, discernimos e refletimos só tenuemente a substância da Vida ou da Mente. Negar o eu material ajuda a discernir a individualidade espiritual e eterna do homem, e destrói o conhecimento errôneo obtido da matéria ou através daquilo que se chamam sentidos materiais.” Ciência e Saúde, p. 91;

Ora, o ficar absorvido em si mesmo a que a Sra. Eddy se refere, evidentemente não se originou em nossa época. Mas provavelmente em nenhuma época anterior foi isso tão amplamente proclamado como um bem positivo. Através de grande variedade de processos e de modos sutis e não-tão-sutis, incita-se-nos a que nos absorvamos no eu material — que exploremos, expressemos, liberemos, gratifiquemos e, de outras formas, condescendamos com o que julgamos ser o eu material. Atrás dessa tendência esconde-se a crença superficial de que a vida não tenha propósito ou significado fundamentais, que a devoção a qualquer coisa além do próprio eu seja inútil, e que, portanto a satisfação só pode ser encontrada em se explorar as potencialidades do eu material e se prevalecer delas. O historiador Christopher Lasch, no seu livro The Culture of Narcissism, resume sobriamente esta tendência de o indivíduo se absorver no próprio eu, dizendo que ela “define o clima moral da sociedade contemporânea” The Culture of Narcissism (New York: W. W. Norton & Company, Inc., 1978), p. 25;.

Como evitar o pântano do próprio eu

É claro, talvez acreditemos que não somos afetados por esse clima de absorção no próprio eu. Podemos até criticar acerbamente a exibição ou os modos de comportamento imoral que com ele associamos. Mas tal atitude subestima a sutileza e a disseminação da tendência, no mundo atual, de ficar absorvido no próprio eu. Pensemos, por exemplo, em que estamos constantemente expostos aos anúncios dirigidos à multidão, e na atitude que os anúncios refletem. Por exemplo, uma propaganda na T.V., mostrando uma mulher atraente e bela completamente absorvida em si mesma e que fala em voz calma e reverente sobre um jeito especial de conseguir maior beleza, é mais do que uma instigação para comprar um produto específico. Instiga a tendência de pôr o próprio eu em primeiro lugar e serve-se dela. Essa tendência é reforçada de tantas maneiras no mundo dos nossos dias que algumas pessoas consideram esta época como a Era do Eu.

Podemos sentir repulsa por muitos aspectos da vida de nossa época. Mas estar constantemente expostos às influências mentais que agem nessa vida pode induzir-nos a justificar as tendências de preocupação com o próprio eu e de interesse pelo próprio eu, em modos que certamente não admitiríamos se as víssemos como elas realmente são. A constante preocupação com nossos próprios corpos e com seu aspecto, e a condescendência para com nossas necessidades emocionais, nossos programas de divertimento ou a opinião de outros a nosso respeito — todas essas tendências são fases do sentido pessoal. De fato, é tão grande a preocupação com o próprio eu no mundo de hoje que precisamos fazer um esforço consciente para não sermos enredados por ela, e para ajudar outros, especialmente as crianças, a ficarem livres dela. A mente mortal gostaria de nos induzir a tolerar ou mesmo legitimar essa preocupação, que por certo não faz parte da estatura da verdadeira condição de homem perfeito.

Hoje em dia é obrigatório para todos os verdadeiros cristãos e Cientistas Cristãos recusarem-se a descer para o pântano do próprio eu. São chamados a dar prova convincente daquela satisfação genuína que se encontra somente mediante o viver em Cristo. Cristo Jesus declarou: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.” João 10:10; Mas ele nunca identificou o viver da natureza espiritual do homem com a absorção no eu material. Pelo contrário, deu a entender que a extinção da crença na personalidade material é a única vereda veraz para a efetivação da verdadeira identidade. Quando Jesus disse: “Eu nada posso fazer de mim mesmo” 5:30; declarava para todos os tempos a sua absoluta dependência de Deus e a falta de poder e a irrealidade de um sentido finito do eu egoístico que alega haver mente e vontade separadas de Deus.

Vivendo o Cristo

A imensa autoridade das palavras do Mestre decorre do fato de que tais palavras eram inteiramente apoiadas pela demonstração de sua filiação consciente com Deus. Em toda a sua carreira, Jesus provou sua completa vontade de servir a Deus e não ao eu — de buscar e fazer a vontade de Deus em toda situação. Bem no começo de seu ministério, justamente antes de escolher seus discípulos, Jesus foi tentado a utilizar o poder espiritual a fim de gratificar e glorificar o eu. Mas no Evangelho lemos que Jesus rejeitou a última das três tentações decisivamente — a de servir a Satanás em troca de poder temporal — empregando as palavras: “Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele darás culto.” Mateus 4:10; Foi depois dessa decisiva repulsa às pretensões do eu material que Jesus iniciou a atividade do seu ministério.

Esse abandono da crença num eu separado de Deus era intrínseco à corporificação ímpar com que Jesus manifestava o Cristo na história humana. Perceber a magnitude da experiência de Jesus e lhe sentir a radiância, ainda que em pequeno grau, humilha de tal maneira o eu humano que abre nosso pensamento para as possibilidades infinitas da vida em Cristo. Porque é em Cristo, a idéia espiritual da filiação, e não numa assim chamada psique humana, ou seja, o eu, que encontramos nossas genuínas possibilidades espirituais. E é o despertar da crença em absorção no eu humano, a nos conduzir à vida em Cristo, o que nos abre as gloriosas possibilidades do homem na Ciência.

Repetidamente a Sra. Eddy chama nossa atenção para as ilimitadas possibilidades da verdadeira condição de homem e mulher espirituais. “A Ciência”, declara ela, “revela as gloriosas possibilidades do homem imortal, que nunca é limitado pelos sentidos mortais.” Ciência e Saúde, p. 288; E ela estende ainda mais este ponto quando declara: “O homem é imagem e semelhança de Deus; tudo quanto é possível a Deus, é possível ao homem como reflexo de Deus.Miscellaneous Writings, p. 183; As possibilidades do homem o definem, e a verdadeira natureza de Deus define essas possibilidades. Portanto, não é o perscrutar o eu humano mas o compreender a filiação espiritual o que desvenda as verdadeiras capacidades e possibilidades do homem.

Esta compreensão não exclui nenhum dos valores verdadeiros ou permanentes de nossa vivência presente; pelo contrário, enriquece e transforma toda aspiração e realização justificáveis. A Sra. Eddy declara: “As capacidades humanas ampliam-se e aperfeiçoam-se na proporção em que a humanidade consegue o verdadeiro conceito acerca do homem e de Deus.” Ciência e Saúde, p. 258; E, num trecho notável em que se refere não só ao homem de negócios como também ao homem de grande cultura, ela põe em destaque esta asserção: “Um conhecimento da Ciência do ser desenvolve as faculdades e possibilidades latentes do homem. Estende a atmosfera do pensamento, dando aos mortais acesso a regiões mais amplas e mais elevadas.” ibid., p. 128;

No entanto, as esferas mais amplas do ser que a Ciência nos revela não são os recessos de um eu interior, uma psique humana, uma esfera subjetiva ou privativa, sentimentos e emoções pessoais. O acesso às possibilidades infinitas do ser liberta-nos da tirania do eu e dos limites que este quer impor em todo campo natural do esforço humano. Assim, a Ciência antes abre do que fecha as possibilidades da verdadeira afeição. Mostra-nos que a afeição genuína não é uma emoção pessoal que vai e vem entre personalidades, mas é, em certa medida, a demonstração da presença, em uma situação concreta, do Amor infinito, que é Deus. Ela fortalece também radicalmente a criatividade artística mediante a compreensão de que a arte genuína não é a expressão da individualidade do artista, mas seu reflexo individualizado do infinito poder criador.

Ao curar, negar o eu material

Da maior importância para a prática específica da Ciência Cristã é a iluminação do pensamento a fim de que perceba as “regiões mais amplas e mais elevadas” reveladas pela Ciência. Isso amplia enormemente nossa compreensão das possibilidades de cura. Pois, subjacente a todo problema corpóreo, está o conceito errado de haver um eu pessoal, privativo, num corpo destrutível, sujeito à dor e à doença. Nosso fracasso em nos levantarmos contra a doença é apenas outra forma de nosso fracasso em nos erguermos contra o eu pessoal. Especialmente no ambiente dos dias atuais precisamos ter o maior cuidado a fim de nos mantermos livres das preocupações generalizadas com o eu, as quais tantas vezes estimulam a sugestionabilidade e atraem a crença em doença. É elemento fundamental na cura que o “negar o eu material ajuda a discernir a individualidade espiritual e eterna do homem, e destrói o conhecimento errôneo obtido da matéria ou através daquilo que se chamam sentidos materiais”.

Claro, essa negação do eu material e o discernimento e a demonstração de nossa verdadeira identidade não se conseguem de um só salto. A perfeição espiritual do homem na Ciência já está intata agora. Mas nossa demonstração dessa perfeição só se leva a efeito gradativamente. Não temos desculpas, todavia, se nem sequer esboçamos o gesto de quem vai começar, porque temos um modelo ideal na vida de Cristo Jesus para fazer essa demonstração, e na Ciência Cristã temos plena compreensão daquilo que é seu requisito.

O que realmente necessitamos é da vontade e do desejo de parar de servir ao eu e começar a servir a Deus em situações específicas, à medida que surgem. Quando o fazemos, conseguimos a força espiritual que liberta nossas capacidades individuais, torna-nos sanadores mais eficazes, e dá-nos a habilidade de fazer contribuição genuína para o movimento da Ciência Cristã. A Sra. Eddy, com muitos dos seus seguidores iniciais que participaram da estruturação do movimento, possuía em grande proporção a capacidade de esquecer-se do próprio eu. Esse esquecimento de si mesmo libera a visão individual e faz com que estejamos à altura das tarefas mais difíceis. É incontestável que essa mesma qualidade é vitalmente necessária para fazer face aos desafios com que nosso movimento se defronta hoje em dia.

A Era do Amor

As necessidades do momento atual são prementes, e são grandes as exigências feitas a todos os que querem enfrentá-las. Não podemos atender a essas exigências e ao mesmo tempo servir ao eu. São palavras decisivas da Sra. Eddy: “Precisamos exterminar o eu antes que possamos ser bem sucedidos na guerra com a humanidade.” Message to The Mother Church for 1900, p. 8; Muito menos podemos pensar em converter a própria Ciência Cristã num veículo para a consecução de finalidades egoístas meramente pessoais. A verdadeira prática da Ciência Cristã satisfaz a toda necessidade humana legítima como nenhuma outra coisa o pode fazer. Mas certamente não podemos pensar em praticar a Ciência eficazmente para que sirva aos propósitos do eu. A hora presente requer não tanto que utilizemos a Ciência Cristã senão que a ela nos submetamos.

Se de boa vontade deixarmos que o propósito redentor deste ensinamento configure nossos verdadeiros motivos para praticá-lo, não mais seremos servos do eu mas servos de Deus. Então, e somente então, estaremos em posição de oferecer prova individual de que a época atual não é a Era do Eu, mas a Era do Amor. Porque as evidências maciças das preocupações narcisistas do eu na nossa época não são realmente os fatos fundamentais desta época, mas meramente a evidência da resistência da mente mortal ao imperativo divino de que as coisas inerentes ao Amor se tornem realidade na nossa vivência. Tal imperativo — e não as evidências de resistência — define verdadeiramente o impulso espiritual que está em ação em nossa época.

Sentindo esse impulso e trabalhando para a sua concretização prática, sejam quais forem as circunstâncias em que possamos estar, participamos literalmente do desenrolar da história espiritual de nossa época. Seja qual for a evidência humana em contrário, convencemonos de que esta é a Era do Amor e não a Era do Eu, pois ativamente testemunhamos e demonstramos o poder desse Amor para triunfar sobre toda resistência e fazer valer seu pleno direito de reinar em todo coração. Então descobriremos que o fascínio da absorção no próprio eu foi rompido, e veremos com maior clareza como ajudar a rompê-lo para o bem de outros. E sentiremos a realização da promessa contida nas palavras de Jesus, como consta na tradução da New English Bible: “Se alguém deseja ser meu seguidor, precisa deixar para trás o seu eu; precisa tomar a sua cruz e vir comigo. Quem quer que cuide de sua segurança se perde; mas se um homem se deixar perder por minha causa, achará o seu verdadeiro eu.” Mateus 16:24, 25.

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