Há pouco menos de uma década a história médica conquistou manchetes na imprensa quando foi feito o primeiro transplante bem sucedido do coração. De um ponto de vista cirúrgico, parecia ser importante progresso para aqueles que sofriam de doença cardíaca grave, e essa técnica continua sendo empregada, embora para um número muito limitado de casos. O conceito é bem simples; um coração doente é substituído por um coração sadio.
Embora este acontecimento não seja apresentado com estardalhaço nas manchetes dos jornais, há de vir afinal o reconhecimento de que existe um só modo verdadeiro de curar doenças do coração. A bem da verdade, é necessária uma mudança de coração — mas uma mudança que tem significado muitíssimo mais profundo do que simplesmente trocar um órgão do corpo.
A mudança fundamental que é necessária, a verdadeira conversão, é mental. É preciso que essa transformação mental nos deixe uma nova conscientização de que Deus, o Espírito, é quem nos dá vida — e não o coração, que é matéria; e precisamos sentir um novo estímulo para dar à nossa vida uma direção muito mais espiritual. Esses dois fatores são essenciais a uma cura completa. Sua realização não depende da passagem do tempo, mas de um despertar espiritual ponderado.
Embora a matéria pareça ser substancial, a Ciência Cristã identifica o Espírito como sendo a única substância verdadeira. Mas a Ciência Cristã não trata a matéria apenas como mera palavra a ser eliminada do nosso vocabulário. Mostra de que modo é a matéria a expressão da mentalidade material. O corpo físico é essencialmente um quadro da crença errada específica de um indivíduo a respeito de sua identidade — crença combinada com a aceitação generalizada, por parte do mundo, de que a materialidade seja substancial.
O corpo é basicamente um conceito mental. E esse conceito é suscetível de mudança. O coração não é um órgão de matéria substancial, a agir independentemente da consciência. Faz parte do conceito mental que um mortal forma de si mesmo — um aspecto particular da consciência.
Significa isso que o simples ajustamento da consciência humana nos libertará de uma doença do coração? O que isso está nos mostrando na realidade é a necessidade de mudar completamente nosso pensamento, do plano da matéria para o do Espírito. Por ser o Espírito substância verdadeira, toda materialidade — quer a chamemos física ou, com mais propriedade, mental — permanece no reino da crença mortal. E o remanejamento de crenças dentro daquele reino nunca é solução em que se possa confiar.
O homem é o reflexo do Espírito. Expressa o Espírito. Sua substância é inteiramente espiritual, constituída de atributos que provêm diretamente de Deus. A ação, a vitalidade, a vida, todas elas fluem de Deus e são expressas pelo homem. O Espírito nunca depende da matéria para sua existência. A idéia do Espírito, o homem, nunca depende de um conceito mental que identificamos como coração material para exercer atividade propiciadora de vida. Mas precisamos substituir a crença de que o coração sustente a vida por uma compreensão de que a força sustentadora da existência é o Espírito.
Juntamente com essa alteração fundamental do pensamento, relativa à verdadeira fonte da vida, vem uma mudança muito prática nos nossos motivos, afetos e objetivos. Nossas aspirações tornam-se mais espirituais. Quando o reconhecimento profundamente arraigado de que o Espírito é supremo começa a penetrar na nossa consciência, passamos por aquela espécie de experiência que, em certo sentido, podemos denominar mudança de coração. Mas ela é muito mais profunda do que uma simples mudança de atitude.
A espiritualidade torna-se uma força poderosa na nossa vida. Nossas afeições acham significado muito mais elevado — tornam-se arraigadas com muito mais firmeza no amor por Deus e pelo homem. Nosso amor à verdade completa de que o homem está incluído na totalidade de Deus e nela permanentemente preservado, começa a nos libertar da tendência de nos apegarmos a conceitos materiais. Abandonamos a crença de que a matéria seja a provedora de nossa vida, e abandonamos as limitações que tais crenças impõem ao funcionamento do corpo. Amamos mais a Deus, e o resultado é que temos menor receio dos conceitos materiais.
A pergunta: “Acreditais numa mudança do coração?” foi, certa vez, formulada à Sra. Eddy. Ela debateu a necessidade impreterível de se verificar uma mudança, não só desde o ponto de vista de purificar as afeições humanas, mas também o de reconhecer e compreender que Deus é a nossa Vida. A seguir explica: “Essa mudança de coração livraria o homem das doenças do coração, e faria avançar o cristianismo cem vezes mais. As afeições humanas precisam mudar-se do eu para a benevolência e o amor a Deus e ao homem; mudar-se para terem um só Deus, e O amarem supremamente, e ajudarem ao homem, nosso irmão. Essa mudança de coração é essencial ao cristianismo, e terá seus efeitos não só fisicamente mas também espiritualmente, curando a doença.” Miscellaneous Writings, pp. 50–51;
Aqueles que passam por tal mudança descobrem que vasta gama de curas ocorre com naturalidade na sua vida. Exemplos há, tanto no Antigo como no Novo Testamento da Bíblia, que ilustram o poderoso efeito curativo resultante de uma mudança de coração. Por exemplo, Naamã, capitão do exército sírio, foi curado de lepra quando a arrogância deu lugar a profunda humildade (ver 2 Reis 5). O gadareno passou por mudança dramática ao abandonar uma atitude hostil e ameaçadora e postar-se “vestido, em perfeito juízo, assentado aos pés de Jesus” Lucas 8:35;.
Se a mudança de coração é realmente uma profunda transformação espiritual da consciência — se é o resultado dos estímulos do Cristo, ou seja, a garantia de perfeição oferecida pelo Amor divino — então a cura é inevitável. Quando nossos motivos estão espiritualizados e nossa compreensão de que Deus é Vida aumenta suficientemente, a cura de doenças do coração é tão inevitável como a cura da lepra experimentada por Naamã ou a cura da insanidade mental do gadareno. “Criai em vós coração novo e espírito novo” Ezequiel 18:31., ordena a Bíblia. Podemos começar agora já o processo de espiritualização que nos transforma — a ação curativa que nos muda literalmente, formando-nos de novo.
