A capacidade de ver e ouvir com clareza é uma meta viável para quem busca obter cura. E igualmente viável é preservar a visão clara e a audição aguçada. Mas a consecução de tais metas está inteiramente livre de quaisquer facetas de espiritismo.
No entanto, a menos que nossos esforços se baseiem na oração científica, a cura verdadeira não se realiza. Se apenas tentamos aumentar a capacidade de ouvir de um par de ouvidos, ou a capacidade de ver de um par de olhos, não estamos enfrentando cientificamente a discórdia. Só poderemos chegar até onde se estendem as crenças da mente mortal. Se a crença mortal se expande um dia, ainda assim ficamos sem garantia alguma de que no dia seguinte não se irá contrair. A crença nunca é fixa. À luz da Verdade, vemos que ela flutua constantemente.
A matéria não vê nem ouve. A mente mortal — uma suposta mente independente de Deus — atribui à matéria a capacidade de ver e ouvir. Como uma criança talvez presuma que a voz proceda do boneco do ventríloquo, assim os mortais aceitam que a matéria tenha tal encargo. Independente de quão certos possamos estar de que os órgãos materiais vêem a matéria ou ouvem o som, o fato é que a visão e a audição verdadeiras são inteiramente espirituais. Originam-se no Espírito, na Alma, e são os sentidos espirituais específicos do homem. A vida e a sensação não pertencem realmente à matéria, e a impressão de que pertencem é apenas a objetivação da crença mortal. Todos podemos exercer o sentido espiritual, mas não como meros mortais. Exercemos esse sentido puro na medida em que nos despojamos da mortalidade.
O homem vê de fato. Ele ouve de verdade. Mas sua capacidade de ver e ouvir não é independente de Deus. Trata-se de expressão, de reflexo. Porque o Espírito é a única fonte da existência do homem — de sua identidade total — cada faceta do ser representa a natureza de Deus. Deus vê tudo e ouve tudo. O homem apresenta essa verdade; ele é, de fato, a prova de que ver e ouvir procedem do Espírito — apenas do Espírito. O Espírito não seria Tudo se a matéria pudesse produzir visão e audição.
Em última análise, dificuldades com os olhos e os ouvidos são, essencialmente, esforços da mente mortal para desacreditar o Espírito — para reivindicar crédito por aquilo que só o Espírito provê. Quando, consciente ou inconscientemente, damos peso às pretensões da matéria, talvez nos deparemos com sentidos corpóreos enfraquecidos ou amortecidos de várias maneiras. Mas, ao nos identificarmos inteiramente com o Espírito, ao reconhecermos e compreendermos que o homem é a idéia espiritual de Deus, verificaremos que as restrições dos sentidos materiais caem uma após outra. Esse processo de identificação feito regular, contínua e, até mesmo, persistentemente, é essencial à transformação da consciência de uma base material para uma espiritual. É essencial à conscientização cada vez maior de que nossos sentidos não são corpóreos — de que não estão em um corpo. Eles próprios incorporam atributos espirituais — clareza, perspicácia, discernimento, compreensão. E são expressados pelo homem.
Para seus discípulos, que estavam adquirindo certo grau de compreensão espiritual, Cristo Jesus pôde dizer: “Bem-aventurados, porém, os vossos olhos, porque vêem; e os vossos ouvidos, porque ouvem.” Mateus 13:16; Mas noutra ocasião disse: “Tendo olhos, não vedes? e, tendo ouvidos, não ouvis?” Marcos 8:18; Diariamente, cada um de nós tem oportunidade de ampliar essa qualidade de discípulo que levou à bênção de Jesus — e assim enaltecer nossa visão e compreensão espirituais. Da mesma forma, somos obrigados, diariamente, a abandonar os elementos do pensamento que possam ter dado origem à sua reprimenda — elementos tais como a dúvida, a voluntariosidade, o desamor, que cegariam e ensurdeceriam nossa aptidão de expressar o sentido espiritual.
Ver e ouvir — são puramente espirituais. Procedem do Espírito divino. O que, pois, tem o espiritismo a ver com a questão de cura de visão e dos problemas de audição? Toda vez que as facetas da mente mortal, em suas crenças variáveis e errôneas, interferem com a saúde e o bem-estar normais, é preciso dar passos específicos para negar e destruir essas crenças.
O livro Ciência e Saúde de autoria da Sra. Eddy mostra como as teorias do espiritismo repousam numa base errada. O livro refuta, por exemplo, a pretensão de mediunidade e mostra a impossibilidade de um médium servir de elo de comunicação entre os vivos e os mortos. A Ciência Cristã contesta, porém, algo muito mais fundamental do que essa teoria superficial do espiritismo. Nega o conceito todo, todas as implicações básicas da mediunidade — até mesmo a crença de que um ente físico ou uma personalidade mortal possa servir de médium, ou meio, da doença.
Num sermão intitulado Christian Healing, nossa perspicaz Líder, a Sra. Eddy, rejeita, não só o que as pessoas normalmente pensam ser a mediunidade, como também outras implicações desse conceito. Diz: “O homem crê que é um médium da doença; que, quando está doente, a doença lhe controla o corpo e produz toda e qualquer manifestação visível.” Hea., p. 6; A Ciência torna claro que o homem nunca pode ser um meio pelo qual a discórdia se evidencie. O homem é a expressão perfeita da Mente divina. A saúde e a inteireza são a essência de seu ser, porque Deus é Tudo e a verdadeira substância de seu ser está arraigada na perfeição.
Quando afloram determinados tipos de discórdias, inclusive problemas pertinentes à visão e à audição, volvemo-nos para Deus, para o Espírito, e afirmamos com convicção baseada no entendimento, o fato de que essas faculdades são inteiramente espirituais. E negamos a crença fundamental de que a matéria possa servir de meio para o funcionamento da visão e da audição. Tal crença não só obscurece a visão e a audição verdadeiras, mas também coloca esses sentidos numa base tênue e instável.
Os sentidos corpóreos, sempre baseados na matéria, não servem à Mente, Deus. Só o sentido espiritual capacita o homem a verdadeiramente ver e ouvir. Os sentidos corpóreos, como prolongamentos da mente mortal, são fictícios. Referindo-se àqueles sentidos, a Sra. Eddy escreve: “A Ciência Cristã demonstra que são falsos, porque a matéria não tem sensação, e nenhuma construção orgânica pode dar-lhe ouvido e vista, nem fazer dela o instrumento da Mente.” Ciência e Saúde, p. 489. Quando refutamos e negamos especificamente que as pretensões subjacentes aos sentidos corpóreos sejam “instrumentos da Mente” e quando desafiamos efetivamente as teorias que apoiam a mediunidade, pisamos solo muito mais firme para usufruir um sentido espiritual puro.
A conscientização de que as faculdades da Mente nunca sofrem interferência, de que elas são perpetuamente perfeitas, livra as faculdades de nosso sentido de corporalidade e dá-nos a aptidão de ver e ouvir com maior clareza. E, o que é mais importante, revela mais da natureza imaculada do homem como puro filho de Deus.
