A tarefa do profeta é perceber fatos espirituais e reais, e ver a irrealidade dos indícios errôneos, apresentados, muitas vezes convincentemente, pelo sentido material. A Sra. Eddy define “profeta” como “um vidente espiritual; desaparecimento do sentido material ante a consciência dos fatos da Verdade espiritual” (Ciência e Saúde, p. 593). Estou aprendendo a descrer das mentiras da mente mortal ao pesá-las contra o padrão de perfeição de Deus e de Seu reflexo perfeito, o homem.
A necessidade de confiar nos fatos espirituais do ser mesmo diante da representação pictórica errada de que o homem seja mortal e desonesto apresentou-se-me, recentemente.
Visitava eu amigos com quem passaria a noite, numa grande cidade metropolitana. Naquela noite fomos ao cinema e quando chegamos ao estacionamento onde deixáramos nosso carro, constatamos que uma das janelas havia sido quebrada com uma pedrada. Minha mala, que ficara no assento trazeiro, havia desaparecido. A outra mala que estava no carro e que não fora subtraída, continha minha carteira de dinheiro. Senti-me grata por essa proteção.
Notificada a polícia, compareceu ao local um policial que nos mostrou boa dose de simpatia. Lançou a culpa do incidente nos moradores de um conjunto habitacional do outro lado da estrada de ferro, próxima ao estacionamento. Valeu-se até de uma expressão desabonadora para descrever o tipo de gente que ali morava e disse-nos que toda aquela área não oferecia segurança à noite.
Decidi dar uma vista de olhos na estrada de ferro e, por um vão existente na cerca, subi com minha amiga até a estrada. No meio dos trilhos encontrei a mala vazia. Só a escova de cabelos havia sido deixada para trás. Alegrei-me por recuperar a mala, embora minhas roupas e cosméticos tivessem sumido. Minha amiga e eu decidimos voltar pela manhã e à luz do dia dar uma olhada um pouco mais adiante.
Mais tarde, naquela noite, quando tive algum tempo para mim mesma, ponderei a situação. A perda de meus bens não era tão desanimadora como o “gosto amargo na boca” que me deixara o sentimento de me haver tornado vítima indefesa de alguns ladrões malvados. Orei para corrigir a visão depressiva do homem como um ente desonesto, simplesmente para ter paz de espírito. Pensei então no homem real, cheio de integridade, que expressa Deus em tudo. Silenciosamente neguei que no dia de hoje pudesse haver algum poder maldoso às soltas no mundo ou que alguma pessoa pudesse ser instrumento do erro ou sua vítima. Afirmei, de todo o coração, que a lei do bem de Deus, a lei do Amor, é o único poder em ação. Adormeci enquanto assim pensava, e quando despertei na manhã seguinte, pensei outra vez brevemente no mesmo sentido.
Como havíamos planejado, minha amiga e eu retornamos ao estacionamento no meio da manhã. Cruzamos outra vez a cerca e começamos a caminhar nos trilhos da estrada de ferro. À distância vimos um jovem que, abaixado, levantava do chão alguma coisa. Erguendo os olhos, perguntou-me: “Que é que a senhora procura?” Repliquei, com uma sacudidela de ombros: “Minhas roupas.” Convidou-me a segui-lo e disse que havia visto um monte de roupas e alguns cosméticos. Ora viva, no acostamento arenoso, de um lado dos trilhos, encontravam-se todas as minhas roupas, intatas. A seguir, o jovem levou-me ao local em que o conteúdo da minha bolsa de cosméticos fora atirado ao longo dos dormentes da ferrovia. E, solícito para que eu não perdesse nem um só artigo, ajudou-me a recolher tudo, até mesmo um frasquinho de perfume. Todas as minhas coisas foram recuperadas. O jovem repetidamente perguntava: “A senhora tem certeza de que encontrou tudo?”
Espero que o amor que havia em meu coração fosse visível nos meus olhos quando olhei para ele e lhe agradeci pela ajuda. O Pai me havia mostrado a prova irrefutável do homem espiritual, real, onde antes parecia ter havido apenas evidência de um mortal que fizera algo de errado ou a quem fora feito algo de errado. A Sra. Eddy afirma (Ciência e Saúde, p. 406): “A Ciência do ser desvenda os erros do sentido, e a percepção espiritual, auxiliada pela Ciência, alcança a Verdade. Então o erro desaparece.” A verdade a respeito do homem perfeitamente formado por Deus é o único fato que o profeta, o vidente espiritual, pode perceber.
Norwalk, Connecticut, E.U.A.
