Quando criança, eu freqüentava a escola dominical de uma igreja cristã e ouvia avidamente as histórias bíblicas repletas de esperança e inspiração, e a confortadora asseveração de que Deus nos salva por intermédio de Seu Filho. Essa visão da ajuda divina nos assuntos humanos esmaeceu-se quando, aos onze anos de idade, comecei a comparecer aos cultos para adultos. Sermões contendo opiniões pessoais a respeito de Deus pareciam tomar o lugar das verdades bíblicas. Puzme a imaginar se Deus não era um conceito ilusório estabelecido por um pequeno grupo de homens a fim de conseguir seus próprios fins.
Um ano mais tarde, comecei a freqüentar a escola preparatória de uma renomada academia. Foi-me incutida uma maneira de pensar “científica”, que analítica, lógica e acirradamente dissecava as opiniões e o dogma a fim de chegar a uma prova concreta e conclusiva. No segundo ano, eu era um estudante brilhante e ateísta.
Quando contava catorze anos, comecei até mesmo a escapulir da capela à qual o comparecimento era compulsório, e a esconder-me no mato. Por vezes era ridículo, para não dizer desonesto, ficar ao relento numa temperatura muitos graus abaixo de zero, mas eu me dizia que me iria sentir ainda mais ridículo e desonesto ajoelhado, em oração para algo que eu não acreditava existir.
No início do meu terceiro ano de faculdade, foi realizado o primeiro sorteio que determinaria quem iria servir no Vietname. Fui sorteado com o número seis. Esse acontecimento afetou minha vida de duas maneiras: Primeiro, decidi-me, a saber por completo quem eu era, quais eram os meus valores e encontrar um sistema de pensamento que libertasse o mundo de tais barbarismos como a guerra. Segundo, minha vida tornou-se muito mais condescendente e lancei-me à busca do prazer, visto que eu pensava, como sem dúvida pensavam muitos outros jovens, que talvez jamais vivesse para gozar a vida de adulto. Dois anos e meio mais tarde eu ainda não me sentia seguro de quais eram os meus valores, porque rejeitara todos os ismos e ologias estudados, tão logo percebera neles alguma incoerência, falta de inteireza ou imperfeição. As escolas podem ter-me ensinado que Deus era um conceito ilógico, mas não ofereceram, em troca, nenhuma panacéia. Então, devido a uma mudança temporária no sistema de conscrição, fui colocado no fim da lista dos conscritos e vi que não seria convocado. No entanto, sentia-me desanimado com minha vida pessoal. Devido à condescendência para comigo mesmo eu me havia cercado de tudo o que desejava, mas não conseguia satisfazer aos meus anseios. Como o Pregador em Eclesiastes, sentia: “Tudo era vaidade e correr atrás do vento.” Ecles. 1:14.
Nesse estado de espírito, orei: “Deus, não sei se estás aí ou não, mas se estás, mostra-me, por favor, porque preciso de Ti.” Hoje vejo que essa foi a direção em que minha busca intelectual da Verdade me havia movido durante vários anos. Por fim, depois que tantas contrafações terrenas da Verdade haviam ruído sob intenso escrutínio, eu estava preparado para aceitar o fato de que a Verdade é divina. Comecei a sentir que havia realmente um Ser divino bem próximo, à espera de ser entendido.
No mês seguinte mudei-me para outra cidade, matriculei-me numa escola de direito e comecei a investigar diversas igrejas. Minha primeira escolha recaiu na Igreja de Cristo, Cientista. A certa altura, eu havia pensado que os Cientistas Cristãos eram fanáticos; mas, quando conheci um deles, minha opinião mudou. Um ex-colega do 2º grau havia se tornado Cientista Cristão e começara a partilhar comigo a Ciência Cristã durante nossas visitas pouco freqüentes. No verão que precedeu minha prece a Deus, esse amigo levou-me a uma festa onde se achavam alguns amigos dele que também eram Cientistas Cristãos. Essa gente era descontraída e feliz, e eles me trataram com muita gentileza, sem dependerem de muletas como o álcool ou o fumo. Não havia nada de falso a respeito daquele grupo! Prometi-me que seria assim algum dia (pois nessa época eu pensava que necessitava da bebida para superar a timidez.)
Menciono isto porque talvez, a certa altura e em circunstâncias bem comuns, nos encontremos causando alguma impressão mais significativa do que pensamos. Esse único acontecimento, combinado com uma amizade à distância, levaram-me aos cultos da Ciência Cristã. Uma vez neles, a lógica do livro-texto, Ciência e Saúde de autoria da Sra. Eddy, atraiu-me ainda mais, e, dentro de um mês, fiquei curado de uma enfermidade que durante anos tinha sido meu flagelo.
Fiel ao meu treinamento intelectual, pus-me a explorar outras igrejas cristãs e outras interpretações das Escrituras. Mas só a Ciência Cristã tinha coerência lógica e bom senso que se recusavam a romperse quando escrutinados de perto.
“A razão é a mais ativa das faculdades humanas” Ciência e Saúde, p. 327., escreve a Sra. Eddy em Ciência e Saúde, e o mesmo raciocínio que me tinha afastado de um sentido imperfeito de Deus levou-me a concluir que Deus tem de ser Espírito infinito, perfeito Amor e Mente onipotente.
Houve retrocessos ocasionais que me levaram de volta a velhas práticas, mas isso foi diminuindo na medida em que comecei a compreender a diferença entre o prazer humano e a satisfação divina, entre o estímulo materialista e a pura inspiração. Tal prazer e tal estímulo são fugidios e momentâneos. A satisfação e a inspiração, por outro lado, são duradouras. Fortalecem a auto-estima de uma pessoa e sua independência de fatores externos. A verdadeira satisfação provém de uma fonte interior inexaurível, fonte de que podemos, a qualquer hora, nos servir livremente. Negar um prazer sensual momentâneo é um dos atos que mais satisfação proporciona, e a calma alegria que resulta do agir correto permanece por muito mais tempo do que qualquer prazer material.
Um obstáculo que tive de vencer para estabelecer meu compromisso com a Ciência Cristã foi a sugestão de que esta Ciência é uma religião de gente velha, de que é difícil ser jovem e ser Cientista Cristão ativo. “A Ciência Cristã salva-nos das tentações da carne”, dizia-me pensamento, “mas quem deseja ser salvo dessas tentações num estágio em que a carne promete tanto?” Esse é o argumento do eu mortal a clamar por indulgência às suas pretensões de vida e inteligência.
Sendo honesto para comigo mesmo, dei-me conta de que, se admitisse que as pretensões de pecado (o prazer num conceito materialista de vida) eram por demais difíceis para serem vencidas em minha juventude, a mente mortal talvez encontrasse maneiras de me fazer conceder, quarenta anos mais tarde, que as pretensões de envelhecimento também me seriam demasiado difíceis de superar. Por que esperar para lutar com a crença em vida na matéria, pensei, até que esta crença me ataque mediante a doença e a decrepitude? Iludir-se, pensando que a vida na matéria possa ser-nos benéfica em dado momento, é, num sentido intelectual, perigoso sofisma e, num sentido moral, desobediência direta ao mandamento de Cristo Jesus: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.” Mateus 22:37; conf. Deuter. 6:5.
Nenhuma racionalização humana pode vergar a vontade de Deus para que se conforme aos desejos da mente mortal, e assim o pensador precisa continuar seu esforço para obedecer às leis divinas do Princípio, o bem sempre ativo. Em meu caso, foi necessário obter um entendimento mais claro do que é a cura. Muitas vezes pedi a Deus que modificasse determinado estado material e no entanto nenhuma mudança ocorria. Isso acontecia porque eu estava basicamente procurando “os pães e os peixes”, não as idéias divinas subjacentes ao desejo humano de saúde. Eu estava realmente disposto a remover de minha consciência uma idéia nociva. Aprendi, porém, que não podemos simplesmente remover algo da consciência e deixar em seu lugar um vazio. É preciso expulsar ativamente o conceito errôneo introduzindo em seu lugar o verdadeiro conceito, algo de substância real. Então dá-se a cura. Para mim, a discórdia é apenas uma tentiva da mente mortal de obscurecer a nova revelação da Verdade na vida de uma pessoa. Tão logo compreende esse aspecto da Verdade, o indivíduo encontra-se não só humanamente bem, mas mais perto de uma compreensão plena do Espírito.
O orgulho humano foi outra grande barreira que tive de remover antes de sentir-me pronto para unir-me à igreja. Educado a confiar apenas em mim mesmo, encontrei dificuldade em pedir ajuda a praticistas ou, até mesmo, ao Próprio Deus. A crença machista de fazer tudo sempre por mim mesmo não se coadunava com a humildade da negação que Jesus fazia do poder pessoal: “Eu nada posso fazer de mim mesmo.” João 5:30. O Amor divino, no entanto, foi desfazendo gradativamente essa resistência, e hoje sinto-me um homem liberado, livre para admitir que só Deus pode fazer o bem.
Após três anos da data em que comecei a estudar esta Ciência e depois de muita luta com as questões acima descritas, filiei-me em A Igreja Mãe. Fi-lo por gratidão a Deus, que me havia redimido a vida mediante o Cristo e revelado a Ciência Cristã à Sra. Eddy, provendo assim as lentes por meio das quais eu e todas as pessoas podemos começar a compreender a totalidade de Deus.
