Desde alguns anos atrás, tem-se mostrado na sociedade crescente preocupação com os perigos inerentes à dominação pessoal. Controle mental, mau trato a crianças e outros relacionamentos doentios têm recebido alentadora atenção.
Algumas vezes, esses aspectos de controle do pensamento praticamse em nome da religião; as trágicas mortes em Jonestown, na Güiana, por exemplo, ocorreram em tais circunstâncias. Esse estratagema do mal não é nada novo. Há dois mil anos, Cristo Jesus preveniu: “Acautelai-vos dos falsos profetas que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores.” Mateus 7:15. Nem é esse método de ataque surpreendente, pois o mal, por sua natureza ilusória, procura não somente negar a autoridade de Deus, mas também imitar esta autoridade, mascarando-se como bem. Como podemos, então, distinguir entre os “falsos profetas” e os verdadeiros?
A Ciência Cristã sustenta quem estiver para tomar essa decisão, mediante sua insistência no livre arbítrio moral, norma que nenhum tirano pode adotar, porque a liberdade de escolha não tolera a tirania. Na Ciência Cristã, todos são animados a volverem-se a Deus, não a opiniões mortais, para receber orientação. Tal posicionamento em favor da liberdade brota daquilo que, a Ciência Cristã revela, é a própria natureza da realidade.
Na verdade, Deus governa completamente Sua criação, mantendo-a, para sempre, em atividade constante, útil e agradável. Todos os filhos de Deus compartilham da união permanente com Deus, como Sua expressão amada. Nesse sentido, o verdadeiro controle nunca pode ficar perdido, pois é um componente do ser do homem, é um dos aspectos de sua identidade.
Humanamente, esse controle verdadeiro parece que vem à luz por etapas. O controle sistemático de Deus se faz ver, no cenário humano, em orientação individual — em intuições espirituais que nutrem, protegem, enaltecem e curam. Ao contrário do mero controle pessoal, essa direção é divinamente inspirada e nunca pode cometer enganos.
Muitas pessoas talvez procurem apenas orientação humana. Algumas vezes, até quem busca o auxílio de um praticista da Ciência Cristã também pode querer obter conselho humano. Por certo ao praticista é facultado, corretamente, discutir com outra pessoa os motivos pertinentes a alguma ação, e, com certeza, não há nada de errado em animar alguém a aderir aos padrões morais cristãos. Não obstante, qualquer decisão deve sempre ser do inquiridor — não do praticista. Por quê?
A Sra. Eddy inclui em Ciência e Saúde um Glossário de interpretações espirituais para alguns termos bíblicos comuns. Para “Levi” — o filho de Jacó cuja tribo veio a ser associada com deveres religiosos — parte da definição diz: “Negação da plenitude da criação de Deus; despotismo eclesiástico.” Ciência e Saúde, p. 590. A criação perfeita de Deus já está aqui e, através de crescente compreensão espiritual, cada um pode conhecer mais acerca desta criação espiritual.
O tratamento pela Ciência Cristã ajuda a dissipar o mesmerismo da vontade e do medo humanos, de modo que o paciente possa perceber a realidade mais claramente. Um dos efeitos dessa visão mais clara é o de remover a discórdia e a limitação mortais e resolver corretamente o problema. Ora, este é o ponto importante: porquanto, ainda que o praticista simplesmente dissesse ao paciente o que fazer, não ajudaria em nada a percepção espiritual do paciente. De fato, isso constituiria uma negação da habilidade do paciente de sentir por si mesmo a orientação de Deus, seria uma “negação da plenitude da criação de Deus”. Mas a prática genuína da Ciência Cristã demonstra tal plenitude, em certo grau, em percepção espiritual mais aguçada.
Entender esse ponto torna claro quão importantes são as razões pelas quais o praticista procura constantemente evitar agir, ou parecer estar agindo, como se ele mesmo fosse o porta-voz de Deus. Eis o erro do indivíduo que provê para outrem uma solução humana específica — aceite tal e tal emprego, diga a sua esposa isso ou aquilo, e assim por diante — e então crê que suas instruções são a revelação de Deus para o paciente. Mas ninguém recebe, e então passa adiante, as revelações do que outrem deve fazer. Ao contrário, praticista e paciente trabalham em conjunto para espiritualizar o pensamento. A percepção espiritual aumentada que disso resulta capacita o paciente a discernir a presença e o poder de Deus, e a, deste modo, ser curado.
Uma das conseqüências dessa percepção é a de deixar o paciente livre de sentir-se na obrigação pessoal de retornar ao mesmo praticista. A direção de Deus em nossa vida por certo não começa somente depois de termos solicitado a outrem que ore por nós. Isso não quer dizer que Deus, o infinito Amor, vê nossos problemas e delineia laborioso processo para removê-los. Deus conhece-nos como somos: Seu reflexo perfeito e perpetuamente harmonioso. Humanamente, nosso desejo de conhecer de maneira mais completa a Deus e a nossa própria natureza espiritual, ajuda a levar-nos a quem nos possa dar assistência em certo momento. Esse é o imensurável e terno cuidado de Deus por nós, evidenciando-se, de modo ordeiro, no cenário humano. Se voltarmos repetidamente ao mesmo praticista para que nos auxilie na demonstração da Verdade, bem está — desde que o escolhamos sob nova orientação e não por falsa obrigação, visto que nenhum praticista é, jamais, “dono” de um paciente. E, certamente, qualquer pessoa que se orgulha de “seus” pacientes necessita desenvolver sentimento mais elevado da “plenitude da criação de Deus”.
Em última análise, cada indivíduo precisa determinar por si mesmo quando está verdadeiramente pronto para confiar de todo em Deus para a cura. Ninguém pode decidi-lo por outrem. Quando o paciente e o praticista sinceramente oram por discernimento espiritual, tornarse-á evidente o rumo certo. Mas tomar a decisão sempre estará nas mãos do paciente, já que fazê-lo de outra forma envolveria violação da ética e constituiria erro muito sério.
A Sra. Eddy deve ter considerado muito importante a questão do controle pessoal. Abordou-a em várias declarações (e, ao menos, em duas cláusulas do Manual de A Igreja Mãe Ver Man., § 2° do art. 26 e § 5° do art. 27.). A norma para seus alunos está expressa em seu livro Retrospecção e Introspecção: “É de regra geral que meus alunos não devem permitir que outros alunos lhes controlem os movimentos, ainda que esses outros sejam professores e praticistas da mesma abençoada fé.” Ret., p. 82.
Desenvolvendo a nossa salvação — confiando em Deus e em nossa própria noção progressivamente mais clara da realidade espiritual, nunca declinaremos de obter a orientação individual imprescindível ao progresso cristão. Desta maneira, estaremos melhor preparados para ajudar a nós e a outros a entrar na gloriosa liberdade do reino dos céus.
O coração do homem pode fazer planos,
mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor.
Provérbios 16:1
