Uma manhã após as férias, justamente quando minha classe do primeiro ano escolar se acomodara alegremente para o início da aula, Samuel entrou na sala. Da sua ficha escolar constava que ele repetira dois anos em sua escola anterior devido ao comportamento ingovernável. Em todos os meus anos de professora numa escola pública, nunca tinha encontrado uma criança com ficha escolar semelhante. As necessidades de Samuel mostravam-se um desafio e tanto, não só para as minhas aptidões na aula, mas para a compreensão da bondade de Deus e do homem, que eu tinha obtido por estudar a Ciência Cristã.
A esta altura quero explicar que, desde o começo de cada ano escolar, eu orava diariamente para estabelecer em meu próprio pensamento o fato de que o governo de Deus engloba tudo. Seu governo inclui a paternidade e a maternidade do Amor, a harmonia e a ordem do Princípio, e a inteligência que se desdobra da Mente divina. Em meu trabalho com as crianças, na aula, bem como nos outros meus contatos, esforçava-me ao máximo para expressar essas qualidades espirituais e para nutri-las nos outros. Graças à minha oração, compreendia cada vez mais que cada um de nós é realmente a criação espiritual de Deus e não uma personalidade material com capacidades e incapacidades pessoais.
Então perguntei-me: “Pode ser ameaçado o governo de Deus?” Quando reconheci o fato espiritual de que Deus é a única Mente e o homem é a idéia espiritual de Deus, Sua imagem, ou expressão, entendi que não podia haver ameaça. Lembrei que a Sra. Eddy escreve: “Os filhos de Deus têm uma Mente só.” Ciência e Saúde, p.470. Se, em realidade nós todos somos filhos de Deus, não podemos ser o produto de grupos raciais, do meio ambiente, da instrução recebida no passado. O homem expressa com naturalidade a inteligência e a bondade de Deus. Todos os dias eu continuava a orar para ver cada um dos que estavam na sala de aula como eles eram em verdade: a idéia espiritual da Mente, em perfeito relacionamento com Deus, vivendo em harmonia. A idéia espiritual de Deus não podia incluir ignorância, injustiça ou falta de amor, porque o homem reflete Deus, a Mente perfeita, o Amor divino.
Após algumas aulas em que Samuel fazia parte de uma leitura em grupo, dei-me conta de que ele já havia aprendido o suficiente para passar de ano. No entanto, era como se ele viesse à aula, tomasse conhecimento das coisas e decidisse não se envolver com nenhuma atividade da classe. Ao invés disso, desperdiçava tempo ou punha-se a interromper a aula de várias maneiras. A professora de sua irmãzinha disse-me de passagem que Samuel sentia imensa raiva porque a irmã já estava cursando o mesmo ano escolar que ele.
Certo dia, quando o diretor da escola me perguntou como iam as coisas em minha classe, respondi com toda franqueza: “Nada bem. Alguma recomendação?”
“Oh não,” respondeu ele. “Continue a fazer o que você vem fazendo.”
Como já disse, uma grande parte do que eu estava fazendo era orar. Eu orava para compreender melhor o governo completo de Deus. Eu orava para ver Samuel tal como eu via os outros, para vê-lo como filho de Deus. Em minha oração encontrei grande consolo nestas palavras de Ciência e Saúde, da Sra. Eddy: “É a Verdade e não o erro, o Amor e não o ódio, o Espírito e não a matéria, que governam o homem.“ Ibid., p. 420. O erro neste caso, de que o homem é material e não um ser criado por Deus, tinha se apresentado a mim sob o disfarce de raiva ou comportamento incontrolado, mas não era de modo algum a verdade a respeito do homem como filho de Deus.
Um dia, Samuel levantou-se de repente, em silêncio, e passou a destruir, de um em um, o trabalho dos outros alunos. No rosto dos coleguinhas estava estampado o medo. No rosto dele transparecia o prazer. No final daquele dia eu estava física e mentalmente esgotada.
Comecei a me perguntar se viria a hora em que a paz voltaria a reinar na escola. Eu sabia, porém, que Cristo Jesus havia provado, de maneira conclusiva, a irrealidade de tudo o que nega o governo harmonioso de Deus. Lucas relata no mesmo episódio que Jesus acalmou uma tempestade violenta no mar e curou um doente mental. Ver Lucas 8:22–40. Essas curas provam que não podemos fundamentar nossas esperanças no ponto de vista material a respeito do homem ou do universo. Precisamos estabelecer nosso trabalho no fato de que a criação de Deus é espiritual e Seu governo é supremo.
Cedo, na manhã após esse incidente, voltei-me para a lição bíblica Encontrado no Livrete trimestral da Ciência Cristã. a fim de preparar-me para enfrentar os desafios do dia. Encontrei esta afirmação em Ciência e Saúde: “Quanto mais material a crença, tanto mais óbvio seu erro, até que o Espírito divino, supremo na sua esfera de ação, domine toda a matéria, e o homem se ache na semelhança do Espírito, seu ser original.” Ciência e Saúde, p. 97. Essa era a resposta que eu precisava! Asseverava-me que o governo do Espírito onipotente nunca muda e que o homem é sempre a semelhança do Espírito. Eu não precisava esperar mais tempo para ver expressar-se a onipresença do Espírito. Senti-me livre, feliz, e, a caminho da escola, declarei a verdade sobre a totalidade do Espírito e a nulidade do erro. Reafirmei o governo completo de nosso Pai-Mãe Deus sobre tudo e agradeci a Deus por isso.
O dia na escola começou calmamente com uma leitura em grupo. Num dado momento, porém, levantei os olhos do livro e vi Samuel de pé entre as carteiras. Pegou uma delas e antes que eu conseguisse me mover, jogou-a contra o quadro-negro. Quando cheguei até onde ele estava, agarrei-o firmemente pelos ombros e olhei bem nos olhos dele. Ele me encarou numa atitude desafiadora. “Ó, Pai,” orei silenciosamente em busca da ajuda que eu tinha tido naquela manhã. O único pensamento que me veio foi: “O Espírito domina a matéria.” Isso assegurou-me de que Deus amava toda a Sua criação. Nada estava fora do governo de Deus e senti-me em paz, mesmo naquele momento emocionalmente carregado.
Samuel relaxou e eu lhe pedi calmamente que recolocasse a carteira no seu devido lugar e se sentasse. E assim foi. Ele deixara de ser rebelde. Voltamos às tarefas escolares. A paz fora restabelecida na sala de aula.
O que acontecera? Creio que algo da natureza real do menino veio à luz. Vi que apesar do quadro mortal, o homem é sempre a semelhança de Deus, Seu reflexo amável e amado. Cristo, a Verdade demonstrada por Jesus, teve domínio sobre a crença na matéria, a crença em algum poder ou inteligência além do governo totalmente bom do Espírito. Minha oração não foi um esforço no sentido de elaborar a salvação de outra pessoa. Minha oração foi um esforço no sentido de colocar meus próprios pensamentos e ações em obediência completa a Deus. Recusei-me a ter outros deuses, a aceitar outros poderes, além do Amor.
Depois que as crianças foram para casa, ponderei com gratidão o progresso feito naquele dia. Todos havíamos sido abençoados, no entanto, senti que precisava fazer algo mais, que precisava orar mais ainda. A oração deixa entrar a luz da Verdade, mediante a qual podemos ver o que antes não víamos, e trilhar veredas novas no encalço da solução desejada.
Continuando a abrir meu pensamento à orientação da Mente, comecei a elaborar um modo de ajudar Samuel. Quando falei dessa nova idéia com o professor do segundo ano, ele concordou em cooperar. Marcamos uma reunião com o pessoal da administração escolar para apresentar-lhes a idéia que me viera. Resultado: o diretor, o consultor de leitura, o conselheiro e o psicólogo da escola, todos eles apoiaram esse plano, que ainda não se havia experimentado, para o progresso contínuo de Samuel. Aí fui falar com o menino.
“Samuel, quero fazer um trato com você.” Ele me olhou com ar de dúvida, mas ficou atento.
Expliquei: “Você é um menino inteligente. Se você me promete continuar a cooperar e dar o máximo de si mesmo nesta aula, você pode passar para a classe do Sr. Smith, para o segundo ano de leitura.” Seu rosto se abriu num sorriso. Apertamos as mãos num acordo, e ele cumpriu sua parte.
Passadas algumas semanas, o Sr. Smith o convidou para ficar o dia todo. Ele havia conquistado seu lugar na segunda série! No final desse ano Samuel passou para a terceira série, onde estavam os de sua idade.
O bom governo de Deus prevalece claramente em nossa vida, quando humilde e persistentemente nos volvemos à Mente divina, ao Amor infinito, em busca de orientação. Daí, a paz vem ao nosso coração, e à sala de aula.
A estultícia está ligada ao coração da criança,
mas a vara da disciplina a afastará dela....
Inclina o teu ouvido e ouve as palavras dos sábios,
e aplica o teu coração ao meu conhecimento.
Provérbios 22:15, 17
    