Após demorada conversa com minha namorada, desliguei, furibundo, o telefone. Ela estava errada, eu tinha a certeza. Minhas palavras haviam sido mal interpretadas por ela, que, além do mais, me acusava de a criticar, a mim, que nem sequer tivera essa intenção. .. .
Quando me sentei para orar sobre esse incidente, pretendia encontrar uma maneira de ajudar minha namorada a enxergar seus erros e mostrar-lhe que minha interpretação dos fatos é que estava certa. Então, apercebi-me de que aquilo que verdadeiramente necessitava de cura era minha reação, aliás, muito pouco cristã. Vi que os conceitos humanos sobre o que está certo e o que está errado constituem, em si mesmos, base inadequada para uma cura real. Se meu desejo era obter a cura puramente cristã, e não apenas levar avante minha idéia preconcebida, a cura teria de se basear na compreensão cientificamente cristã da realidade e não numa concepção humana de retidão.
Essa oração, esse desejo de deixar que se faça a vontade de Deus, curou em mim o ressentimento e a raiva, e permitiu-me conversar com minha namorada, com humildade e ternura, sobre os problemas pendentes. Dispus-me a confiar no carinhoso toque curativo e na orientação do Amor divino, em vez de forçar minha solução. Quando a cólera e a argumentação, causas básicas da discussão, se dissolveram em meu pensamento, esses problemas deixaram de ter tanta importância e resolveram-se facilmente.
Um dos grandes erros da atualidade consiste na tendência de solucionar problemas de relacionamento exigindo automaticamente que os outros mudem. Se para curar nossos próprios defeitos puséssemos esforço proporcional ao que dedicamos a identificar e tentar corrigir os erros dos outros, certamente se verificaria uma melhoria radical nos assuntos individuais e mundiais. Numa de suas obras sobre a Ciência Cristã, a Sra. Eddy explica a base dessa cura: “Todo pensamento humano tem que se voltar instintivamente para a Mente divina como seu único centro e inteligência. Até que isso se produza, nunca se constatará que o homem é harmonioso e imortal.” Miscellaneous Writings, pp. 307–308. Apenas a cura espiritual e a regeneração individual produzem harmonia duradoura nas relações humanas. Essa cura requer a disciplina contínua da humildade e da obediência, as quais alinham nossos pensamentos com a Divindade.
O Princípio divino, o Amor, é o ponto de partida para viver harmoniosamente. Quando empreendemos nossos esforços a partir de um sentido de auto-justificação daquilo que está certo ou, pelo contrário, errado, freqüentemente reforçamos a crença em muitas mentes mortais e personalidades individuais em conflito. O autorespeito não se encontra por realçarmos os contrastes entre nós e os outros (isto é, que os outros nos aprovem ou nos condenem), ou até mesmo no próprio conceito que temos de nós mesmos. O autorespeito surge em virtude da compreensão crescente que adquirimos da identidade espiritual do homem, ou seja, a certeza de que todos são reflexo de Deus, e por expressarmos Suas qualidades espirituais em nossa vida. Crescendo na demonstração de nossa identidade verdadeira, amaremos e respeitaremos esse verdadeiro ser nos outros.
É evidente que devemos ter sempre o objetivo de ser espiritualmente exatos em pensamento, sensação e ação, e a Ciência Cristã fornece-nos a chave para alcançar esse objetivo. Em Ciência a Saúde a Sra. Eddy assevera: “O homem material é composto de erro involuntário e de erro voluntário, de um bem negativo e de um mal positivo, intitulando-se este último o bem. A individualidade espiritual do homem nunca está errada. É a semelhança do Criador do homem.” Ciência e Saúde, p. 491. O homem é a expressão vivente do ser de Deus, inteiramente perfeito, incluindo, aqui e agora, apenas idéias perfeitas. Esse modo de ver o homem parece à primeira vista difícil de entender, porque contradiz a base fundamental da convicção de que somos mortais. Mas a verdade é que o homem espiritualmente perfeito é nossa única identidade real. E a Ciência Cristã não apenas expõe essa verdade, mas dá-nos os meios de comprovar essa verdade mediante obras de cura.
Quando baseamos nosso pensamento nesse modelo do homem espiritualmente perfeito, raciocinamos com mais eficácia e escutamos com maior sinceridade o que o Amor divino nos revela como a forma acertada de proceder em determinada situação, a resposta terna, honesta e curativa, que dissolve a justificação dos seus próprios atos, a pretensão de ser justo e os melindres. Será muito mais satisfatório e “certo” decidir ser verdadeiramente mais amoroso, paciente, magnânimo, em vez de discutir com insistência e de fazer valer nosso ponto de vista pessoal.
A oração humilde e persistente fornecer-nos-á um guia de confiança para uma maneira de viver que cura as dificuldades de relacionamento. A Ciência Cristã mostra-nos, contudo, que é um engano orar acreditando em muitas mentes ou personalidades, cada qual com suas próprias motivações, vontades e opiniões. Na proporção em que o fizermos, reproduziremos esses falsos conceitos em nossa própria experiência. Pelo contrário, devemos reconhecer uma única Mente divina, e Sua criação infinita, que exprime e é mantida pela Mente. A Mente, Deus, é Tudo-em-tudo e inclui todos. Nem um só de nós jamais existe fora dessa Mente infinita.
Às vezes belas, outras vezes não, as personalidades materiais são sempre um conceito falso da criação de Deus. Essas falsidades precisam ser negadas, não aceitas como reais ou verdadeiras. Tal negação exige de nós esforço persistente para expulsar de nossas próprias vidas os impulsos mortais que com freqüência vemos inflamarem-se nos outros, como a voluntariosidade, o ódio, a justificação própria, o orgulho da nossa noção pessoal do ego. Ao negarmos esses falsos conceitos, abrimos o caminho para a ternura, a sabedoria, a pureza e o amor, os quais propiciam a cura.
Toda a cura científica cristã tem que ocorrer em nosso próprio pensamento. É no nosso próprio pensamento que cedemos à harmonia da Mente única, Deus. Qualquer sugestão que se apresente como mente oposta a Deus, o bem, é uma crença falsa, a qual precisa ser curada. Sempre que essa crença se apresentar em nossa consciência, é nosso dever rejeitá-la, não rejeitar a pessoa, mas sim rejeitar a mentira segundo a qual alguém possa estar separado da Mente ou ser excluído de Sua sábia e terna orientação.
Cristo Jesus disse: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Marcos 12:31. Penso que esse mandamento pode ser redigido da seguinte forma: “Amarás o teu próximo em sua verdadeira natureza de homem espiritual, como deves amar a ti mesmo.” Espiritualmente somos um em Deus, mas temos que prová-lo se quisermos cumprir nosso papel na promessa de paz do cristianismo. Ciência e Saúde afirma: “Um só Deus infinito, o bem, unifica homens e nações; constitui a fraternidade dos homens; põe fim às guerras; compre o preceito das Escrituras: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’; aniquila a idolatria pagã e a cristã — tudo o que está errado nos códigos sociais, civis, criminais, políticos e religiosos; estabelece a igualdade dos sexos; anula a maldição sobre o homem, e não deixa nada que possa pecar, sofrer, ser punido ou destruído.” Ciência e Saúde, p. 340.
Mas que objetivo! Que oportunidade! Em última análise, essa demonstração da unicidade e totalidade do Amor é a única solução permanente e completa para determinar o que está certo ou errado.
