Ao ler a Bíblia, você alguma vez achou que as frases e declarações não passam de mero amontoado de palavras? Já verifiquei, porém, que à medida que continuo a ler com o pensamento receptivo, ou seja, que fico à escuta, o significado espiritual, inédito e verdadeiro irrompe através da monotonia do pensamento limitado ou do pendor material. A partir daí, apego-me ao sentido espiritual e obtenho resultados que dão satisfação e curam. A perseverança tem sua recompensa!
Certa ocasião The Christian Science Journal publicou um resumo do que a Sra. Eddy disse num sermão: "Ela afirmou que as Escrituras não podem ser devidamente interpretadas no sentido literal. As verdades que ensinam devem ser discernidas espiritualmente, para que sua mensagem seja plenamente transmitida à nossa mente e nosso coração. Existe um sentido duplo em todos os trechos bíblicos e os mais eminentes teólogos do mundo concordam nisso. Para chegar ao sentido mais elevado, ou seja, ao metafísico, é preciso ler corretamente o que os escritores inspirados deixaram para nossa instrução espiritual." Extraído de Miscellaneous Writings de autoria de Mary Baker Eddy, p. 169.
Devo ter lido uma dúzia de vezes o relato bíblico em que Cristo Jesus cura o paralítico que se encontrava junto ao tanque de Betesda.Ver João 5:1–14. Foi só então que, certo dia, tive uma percepção mais rica acerca desse incidente. O relato menciona que o tanque tinha cinco pavilhões. Toda vez que lia, a menção dos pavilhões me parecia irrelevante, por isso eu me apressava a continuar com a leitura. Mas houve uma vez em que me apercebi que, tal como havia cinco pavilhões, também há cinco sentidos físicos.
Segundo diz a Bíblia, os pavilhões estavam cheios de "enfermos, cegos, coxos, paralíticos [esperando que se movesse a água]." Confiar nas supostas realidades apresentadas pelos sentidos físicos, diminui nosso conceito de domínio, nossa liberdade de agir e nos dá a impressão, ou a sensação, de desamparo.
No entanto, quando aos nossos olhos parece que a estrada se torna cada vez mais estreita, até terminar num determinado ponto, não acreditamos nessa evidência, pois é errônea. Nós sabemos que não é assim e por isso a informação errada não nos estorva. Da mesma forma, ao adquirirmos o sentido espiritual das coisas, a verdade a respeito de tudo torna-se mais evidente para nós e acreditamos cada vez menos no que os sentidos físicos pretendem impor a respeito de limitação e discórdia.
Perseverei no estudo espiritual e na aplicação dessa história bíblica e o resto do relato também adquiriu novo significado para mim.
Quando Jesus indagou do paralítico: "Queres ser curado?" a resposta indicou que o homem dependia do que os cinco sentidos materiais lhe diziam. Ele estava à espera do que acreditava fossem circunstâncias humanas corretas, "alguém" (do lado de fora) "que me ponha no tanque". Mas quando pensamos em termos do reino de Deus, em Sua harmonia onipresente, infinita, sabemos que "do lado de fora" não existe coisa alguma nem ninguém que possa impedir-nos, ou a quem quer que seja, de "entrar no tanque", ou seja, de desfrutar de nossa experiência de cura. Jesus ensinou a seus discípulos: "Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! ou: Lá está! porque o reino de Deus está dentro em vós." Lucas 17:20, 21.
O que esse homem precisava, acima de tudo, era estar disposto a seguir o Cristo, a Verdade sanadora que Jesus ensinou e demonstrou, obedecer a esse Cristo e deixar de depender de circunstâncias exteriores. Quando o homem obedeceu à ordem de Jesus, de levantar-se, ficou sadio de repente. Até certo ponto, erguera-se acima da necessidade de confiar nas evidências de discórdia. Mais tarde, o Mestre o avisou que não deveria retornar à sua antiga maneira de pensar e agir, para não ter problemas ainda maiores.
Certa feita, nossa segunda filha, em seus primeiros anos de vida escolar, telefonou pedindo que a fôssemos buscar na escola, pois não estava se sentindo bem. A imprensa vinha publicando reportagens detalhadas sobre o que diziam ser epidemia de gripe e nossa filha manifestava esses mesmos sintomas.
No caminho de casa ela contou que se sentira bem até o recreio, quando um colega lhe dissera parecer estar com sintomas de gripe. Nossa filha e eu falamos a respeito do assunto e nos conscientizamos de que, em realidade, ela só refletia o bem oriundo de Deus e portanto a doença não tinha poder real algum. Ao chegarmos em casa, ela já se sentia bem melhor e tinha também melhor aparência.
Mas à hora de dormir, voltou a ter febre. Sentei em sua cama e expliquei que quando sabemos que algo não é verdade, ou seja, que é mentira, nós simplesmente não acreditamos nessa mentira. Mas quando a mentira da doença se apresenta como sensação, em geral não a vemos como mentira e por isso tendemos a aceitá-la como real, isto é, acreditamos na sua veracidade. É que nós não estamos acostumados a dizer "Não" a ume mentira que se apresenta como sensação, da mesma maneira como o faríamos a uma mentira que vem por meio do sentido da audição. Mas sentir-se doente é ume mentira equivalente a ouvir falar da doença, que jamais é verdadeira ou real e, portanto, não precisamos acreditar numa mentira, seja qual for a forma como se apresente.
Enquanto eu falava, a febre desapareceu. No dia seguinte nossa filha estava bem e voltou à escola. Contudo, de novo ocorreu o episódio da hora de recreio, apesar de nossa filha continuar livre dos sintomas de gripe. Ao voltar para casa, eu a fiz lembrar que a doença é uma mentira que ela podia negar, porque Deus não fez a doença. Falamos sobre os seguintes versos de um hino que nosssa filha gosta de cantar, cuja letra original em inglês é de autoria da Sra. Eddy: "Tua voz escutarei / Para não errar." Hinário da Ciência Cristã, nº 304.
Quando seu colega tornou a fazer a mesma sugestão no terceiro dia, nossa filha respondeu simplesmente: "Não vou pegar a gripe." Dessa vez ela sabia o motivo. Com isso, acabou-se o problema.
A Ciência Cristã ensina que Deus é Espírito e que o homem, à semelhança espiritual de Deus, reflete todo o bem e apenas o bem. Que recompensa maravilhosa é perseverar na espiritualização do pensamento! Esse trabalho prossegue à medida que dependemos menos da evidência dos sentidos materiais e mais do sentido espiritual: a verdade e a harmonia do ser.
