Skip to main content Skip to search Skip to header Skip to footer

Quando é ruim demais para ser verdade

Da edição de abril de 1990 dO Arauto da Ciência Cristã


Há pouco tempo, tive um sonho que me levou a aplicar-me com mais seriedade à questão de como resolver problemas. Sonhei que estava de novo na universidade e tinha acabado de saber que, no dia seguinte, teria ter um exame importante. A questão estava em que eu não me lembrava de ter freqüentado esse curso, muito menos de me haver inscrito nele. Entrei em pânico. Ao mesmo tempo crescia dentro de mim uma dúvida irritante: será que eu me inscrevera, ou não?

De repente, apercebi-me de que não só essa situação, como também todo o contexto em que ela surgira, era falso. A primeira coisa que me veio ao pensamento, foi que eu já não estava na faculdade. Assim sendo, concluí que isso tinha de ser um sonho. Se era um sonho, eu poderia despertar dele. Embora houvesse da minha parte certa relutância em aceitar essa opção, acabei por fazê-lo e acordei.

Se tivesse continuado a dormir, é possível que de alguma forma tivesse obtido autorização para evitar o exame imaginário. O medo talvez tivesse abrandado e eu tivesse continuado a sonhar que ainda freqüentava a faculdade. Mas para chegar à verdadeira solução, tornava-se necessário satisfazer a algo mais do que parecia ser o problema em causa. Era preciso reconhecer o caráter ilusório de todo o contexto em que o problema tinha surgido. O sonho, tal como se apresentara, tinha de desaparecer.

Será que todos nós, ao trazer essa lição para a nossa experiência consciente, já não teremos sentido, numa ou noutra ocasião, que determinado problema era por demais perturbador, assustador ou mesmo demasiado agitado, em resumo, ruim demais para ser verdadeiro? E que a palavra pesadelo poderia perfeitamente descrever não só o caráter terrível da situação, como também a sua própria contextura? Não nos podemos dar ao luxo de desprezar essa intuição.

Por quê? Talvez possamos ver o problema sob o seguinte prisma: foi a lenta tomada de consciência de minha verdadeira condição de pessoa que já concluíra o curso universitário, que me levou a pôr em dúvida a premissa em que se baseava o terror de vir a ser reprovado num exame. Não será possível que a tomada de consciência intuitiva da verdadeira natureza do ser nos leve a encarar o mal de outro modo? Assim sendo, qual seria a falsa pretensão na qual assentam os terríveis pesadelos de medo, pânico e sofrimento, que nos sobrevêm quando despertos e parecem lógicos, até mesmo, inevitáveis? Finalmente, se o sofrimento está, de fato, baseado numa falsa suposição acerca da natureza da realidade, como nos veremos livres dele? Como fazer para despertar?

Numa época em que o livro do Gênesis é geralmente encarado como folclore mofado ou como verdade literal, essa narrativa poderá parecer um local estranho onde procurar respostas. No entanto, em muitos relatos bíblicos brilham facetas com novos significados, quando a luz da pesquisa espiritual sincera as ilumina. A primeira vez que o sono é mencionado na Bíblia, aparece relacionado com a história alegórica de Adão e Eva, que se encontra do 2° ao 4° capítulo do Gênesis. Ao compreender que apesar da criação dos animais, Adão continuava solitário, a Bíblia relata que o Senhor Deus fê-lo cair num "pesado sono", tomou uma das suas costelas e transformou-a numa mulher.

A Sra. Eddy meditou profundamente sobre essa alegoria e no seu forte contraste com o relato da criação, que abre o primeiro capítulo do Gênesis. Longe de descrever o homem como uma criatura formada do pó e animada pelo fôlego de uma divindade antropomorfa, esse primeiro relato descreve o homem como criado "à imagem de Deus", pela vontade de Deus e pelo seu Criador dotado de domínio sobre todas as outras criaturas.

Tornou-se claro para a Sra. Eddy que a versão adâmica da origem do homem, tão profundamente contrária à primeira versão, na qual Deus vê tudo o que Ele fez como "muito bom", resume as premissas errôneas inerentes à visão da realidade pelos sentidos físicos. As palavras da Sra. Eddy, relatadas ao lado do título marginal "Alegoria bíblica", que consta no livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde, são: "A história do erro é uma narrativa de sonho .... Primeiro, essa narrativa supõe que algo surja do nada, que a matéria preceda a mente. Segundo, supõe que a mente entre na matéria, e que a matéria se torne vivente, substancial e inteligente.. .. Este é o erro: que o homem mortal começa materialmente, que a não-inteligência se torna inteligência, que a mente e a alma são ao mesmo tempo o certo e o errado." Ciência e Saúde, pp. 530–531. No mesmo livro, Adão é descrito como a personificação e o símbolo desse erro. Na página anterior, Ciência e Saúde declara: "Adão, sinônimo de erro, representa uma crença de que haja uma mente material." Ibid., p. 529.

Por que considerar a "mente material" como um erro de crença em vez de considerá-la como um fato evidente por si mesmo? Porque, surpreendentemente, há um corolário lógico da revelação bíblica que assenta no fato de haver um só Deus infinito, uma inteligência suprema. De acordo com esse corolário, simplesmente não pode haver, na realidade, outra inteligência senão o Espírito, Deus. Mais especificamente, não pode haver inteligência finita originada de uma forma física. Acreditar nisso, seria pensar que a Nona Sinfonia de Beethoven pudesse ter se originado a partir de um circuito de rádio que por acaso estávamos a ouvir.

A Ciência Cristã revela que a crença que assenta numa fonte de inteligência finita e pessoal, cujo centro é o cérebro, crença geralmente aceita sem contestação, constitui a ilusão básica que nos impede de experimentar a realidade da presença de Deus, assim como a paz e a saúde inerentes a essa presença. (Note-se, porém, que aqui a palavra crença significa algo mais abrangente do que um ser humano possa acreditar ou pôr em dúvida. Neste ponto, crença significa todo o sonho de Adão, a verdadeira ilusão de uma existência separada de Deus.) Ora, como é que a convicção de que temos uma mente separada de Deus, a única consciência infinita, poderia fazer algo senão alienar-nos d'Ele? E o que quer que seja que nos aliene de Deus, da derradeira Verdade, relega-nos a um sentido de existência essencialmente afastado da realidade. Essa versão distorcida e imaginária da realidade constitui a existência mortal e material, o produto do que a Ciência Cristã denomina mente mortal.

Num artigo em que se discutem as extraordinárias ramificações metafísicas e práticas do livro-texto da Ciência Cristã, a Sra. Eddy escreve: "A matéria é apenas o estado subjetivo da mente mortal. A matéria não tem mais substância nem realidade quando sonhamos acordados, do que quando sonhamos dormindo. Em qualquer desses casos, os mortais estão experimentando o sonho de Adão, de que há mente na matéria, o sonho que é mortal, condenado por Deus e não é o fato espiritual do ser." The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 109.

Aquilo que se concebe a si próprio separado do Espírito, de Deus, não pode conhecer a Deus. Está condenado à ignorância espiritual, que é a base de todo o pecado, ou seja, do orgulho, da autodepreciação, da inveja, do medo e dos conflitos. Mas demos graças a Deus, porque Ele é a Mente que tudo sabe, a nossa única e verdadeira Mente agora e para sempre. Portanto, o sonho material terá de desaparecer por fim. Junto com esse despertar progressivo, que Cristo Jesus equiparou a nascer de novo no Espírito, a consciência individual fica liberta da noção de afastamento da sua fonte divina e também de toda agonia que essa noção de afastamento inclui.

Quando alguém procura libertar-se das limitações da mente mortal e da aparente rigidez das condições materiais, o saber que a única capacidade de saber, de sentir ou de estar conscientes que podemos possuir, provém de Deus, a única Mente genuína, constitui grande ajuda e conforto. Essa Mente nunca deu abrigo à ilusão de estarmos revestidos de uma forma finita e mortal. Nunca se sentiu, sequer por um instante, vulnerável a qualquer coisa ou condição exterior à sua totalidade. Podemos antecipar o nosso despertar do sonho de Adão e de todas as distorções que este inclui, contestando a sua premissa fundamental: que possuímos ou que alguma vez tenhamos possuído uma mente finita e pessoal capaz de sentir medo, capaz de qualquer pensamento que seja, por natureza, contrário à harmonia, à inteireza, à pureza e à bondade da consciência divina. Trabalhando e orando a partir dessa base, mantemo-nos cheios de vivacidade graças ao Cristo, a mensagem de que Deus é tudo. Desse modo, o caminho torna-se menos árduo de percorrer, sentimos que Deus está conosco.

É também reconfortante saber que o mal nunca pode alcançar a condição de realidade, pois encontra-se para sempre excluído da consciência divina. O mal nunca pode ultrapassar a condição errônea de um sonho. À medida que através da oração refletimos o único Ego, ou consciência divina, a natureza ilusória de qualquer mal específico que nos esteja afligindo, é posta a descoberto e substituída pelo que é espiritualmente verdadeiro, pelo que é conhecido de Deus. O mal, quer seja este doença, solidão ou conflito, terá necessariamente de desaparecer do pensamento e, portanto, da existência. Uma experiência que tive há pouco tempo atrás ilustra isso.

De manhã, ao acordar, eu sentia o peito congestionado. Levantei-me e comecei a orar. À medida que o fazia, compreendi que o problema envolvia o medo, a que eu tinha dado abrigo por várias razões, de que eu ia pegar um resfriado. Pensei no sonho relatado no início deste artigo e compreendi que, tal como tinha acordado da crença errada de estar de novo a freqüentar a faculdade, também agora poderia acordar, até certo ponto, de toda essa crença segundo a qual eu vivia na matéria e tinha mente separada de Deus, capaz de dar abrigo ao medo de doença e também de sentir os efeitos ilusórios desse medo.

Perguntei a mim mesmo: "De que é que Deus, a única Mente verdadeira que eu reflito, está consciente neste momento? Em lugar do medo, o que é que essa Mente conhece?" Tive um ligeiro vislumbre do fato de essa Mente divina ser incapaz de dar abrigo a várias teorias sobre a doença e que a única coisa de que poderia ter consciência, era a sua própria harmonia e perfeição espirituais. Dentro de poucos minutos, o medo e a congestão tinham desaparecido. Isso aconteceu sem eu ter tossido muito e também sem ter sentido outro mal-estar.

Uma vez que acolhemos a premissa da mente pessoal e finita, todos os acontecimentos provenientes dessa premissa parecem fazer sentido, ou, pelo menos, parecem ser coerentes com essa premissa. Mas a premissa está errada e a mensagem salvadora de Deus, que inclui a totalidade da única Mente divina, põe a descoberto o caráter errôneo dessa premissa e revela, em seu lugar, aquilo que é verdadeiro. "Vida eterna", como Cristo Jesus a denominou, é a existência que Deus conhece e que propõe que conheçamos: completa, pura, alegre, livre, vibrante e eternamente consciente.

Para conhecer mais conteúdo como este, convidamos você a se inscrever para receber as notificações semanais do Arauto. Você receberá artigos, gravações em áudio e anúncios diretamente via WhatsApp ou e-mail.

Inscreva-se

Mais nesta edição / abril de 1990

A missão dO Arauto da Ciência Cristã 

“...anunciar a atividade e disponibilidade universal da Verdade...”

                                                                                        Mary Baker Eddy

Conheça melhor o Arauto e sua missão.