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Não esqueça de usar a pá!

Da edição de outubro de 1991 dO Arauto da Ciência Cristã


O primeiro dia de aula era sempre tão emocionante! Não via a hora desse dia chegar. Já tinha preparado tudo, meu material escolar estava completo e tinha colocado meu nome em cada coisa.

As aulas iriam começar na terça-feira e, no domingo anterior, vesti a roupa nova da escola e lá fui eu para a Escola Dominical. No carro, fiquei o tempo todo olhando para meus sapatos novos e refazendo o laço do vestido xadrez.

Quando chegamos à igreja, minha mãe disse: "Judith Ann" (se o assunto era sério ela usava meu nome completo), "pare de olhar sua roupa, pelo menos por uma hora. Faltam dois dias para o início das aulas, enquanto a Escola Dominical é agora; por isso, preste atenção."

Cheguei na classe antes dos outros e minha professora da Escola Dominical (Dona Marta) perguntou-me se eu estava pronta para o novo ano escolar. Contei-lhe tudo sobre meu estojo novo e sobre meus lápis novinhos com borracha (não mais aqueles velhos lápis roídos na ponta). Contei-lhe que Dona Fernanda (a professora mais querida de toda a escola) ficaria com minha classe e minha amiga Daisy também estaria na mesma classe!

Aí Sandra e André (os outros dois alunos) chegaram e a aula da Escola Dominical começou. Dona Marta disse: "Hoje vamos conversar sobre pás".

Ora essa, queríamos falar sobre o começo das aulas e ela vinha falar de pás! Acho que ela percebeu que não estávamos interessados, pois parou de falar. Todos ficaram em silêncio.

"Vocês pensam que estão prontos para voltar às aulas, na terça-feira. Mas vão precisar de pás, mais do que de canetas, lápis e cadernos."

A única pá de que eu me lembrava era a que os operários usam, nas construções.

Aí Sandra lembrou das pequenas pás que as crianças usam para brincar na areia. A professora, porém, disse que havia outro tipo de pá e mostrou esta figura que aparece no dicionário bíblico:

Disse que se chamava pá de joeirar e que provavelmente nunca veríamos uma na vida. (Então, pensei eu, por que falarmos a respeito disso?) Mas Dona Marta disse que precisávamos saber o que essa pá fazia. Ela separava a palha, isto é, a parte inútil, do trigo. Com ela, as pessoas jogavam o trigo para o ar. O grão, sendo pesado, caía, enquanto o vento levava a palha embora, por ser bem leve.

"Como vai demorar para passar esta hora", pensei comigo mesma. "Preferiria estar falando da escola e de meus sapatos novos e de meus lápis de cor." Distraí-me um pouco, mas a professora me pediu para ler algo em voz alta, na Bíblia, no livro de Isaías: "Eis que farei de ti um trilho cortante e novo, armado de lâminas duplas; os montes trilharás e moerás, e os outeiros reduzirás a palha. Tu os padejarás e o vento os levará."

Ela explicou que "padejar" significava justamente usar aquela pá especial. Então perguntou qual era a relação entre essa idéia e nosso primeiro dia de aula. Ninguém respondeu. ("Absolutamente nenhuma", pensei comigo, mas não disse nada. Não via a hora de ir embora dali.)

Dona Marta deu-nos uma pista: Cristo Jesus não ia a parte alguma sem a pá e a usava sempre. Nós continuamos em silêncio. A pá que ele usava não era de madeira, era mental, acrescentou. E explicou que essa pá servia para separar aquilo que é real, daquilo que não é. E disse que nós também tínhamos essa pá. E nós, quietos. Aí ela explicou que a pá poderia representar aquilo que sabemos a respeito de Deus. Isso é que era nosso "trilho cortante e novo, armado de lâminas duplas." "As lâminas duplas cortam melhor" acrescentou, e "os montes" poderiam significar grandes problemas, que às vezes parecem insuperáveis.

A seguir, Dona Marta perguntou o que nós sabíamos a respeito de Deus. Essa pergunta era fácil e todos tínhamos uma resposta. Ele é bom, disseram todos. E cuida de Seus filhos. Ele nos ama e nos protege e não nos deixa esquecer que somos bons e honestos, nunca maus, nem bobos, nem medrosos, nem doentes.

Dona Marta leu para nós uma explicação de Ciência e Saúde. Era dali que ela tirava suas idéias! "PÁ. Aquilo que separa a fábula do fato; aquilo que dá ação ao pensamento," escreve a Sra. Eddy.

Bem, então, era a pá que Jesus usava, isto é, o fato de ele saber a diferença entre o que é real e o que não é, que o fazia ver que não estava em perigo quando teve de andar em meio a uma multidão enfurecida. Devido à sua pá, ele entendeu que a vida era real e sempre preservada por Deus, mesmo quando lhe disseram que uma menina de doze anos havia morrido. Por isso foi capaz de ressuscitá-la. Tempos depois, usando a mesma pá, Jesus foi capaz de amar até aqueles que o crucificaram.

Então a professora perguntou quantas vezes havíamos visto acontecer alguma coisa injusta na escola. Todos nós já tínhamos visto isso.

"Alguém brigando? Alguém chorando, doente ou com dor?" Todos nós tínhamos bastante experiência nisso. "Então, vocês estão vendo como precisam de uma pá?" disse Dona Marta. "Quando algum colega parece não entender as coisas, é necessária sua habilidade de saber o que é verdade acerca do filho de Deus. Os filhos de Deus são puros, e se alguém tenta ser desonesto, ou se alguém se machuca durante o recreio, vocês poderão, usando a pá, separar a fábula do fato real e ter certeza de que Deus está aí, cuidando de Seus filhos."

Como o tempo passou rápido! De repente, a aula da Escola Dominical tinha acabado. Ao se despedir, Dona Marta ainda lembrou: "Não esqueçam de levar a pá junto com os livros e cadernos."

Finalmente, a terça-feira chegou. Lá fui eu com a roupa nova, minha mala e todo meu material escolar. Mas esqueci de levar a pá. Assim que cheguei, descobri que a escola havia errado e Dona Fernanda não ia ser minha professora! Meu irmão gêmeo ficou com Dona Fernanda e eu fiquei com a única professora de quem tinha medo: Dona Juliana que, eu achava, estava sempre olhando feio para todo o mundo. A primeira coisa que ela fez foi determinar quem se sentaria aonde durante o ano todo. Eu acabei ao lado do menino mais prepotente da escola. Durante a aula inteira ele repetiu que eu era magricela.

Como eu estava arrasada, no fim do dia! Antes do jantar, Dona Marta telefonou perguntando como tinha sido o primeiro dia de aulas. (Foi tão gentil de parte dela!) Simplesmente desandei a chorar. Ela me consolou e disse que Deus só tinha o bem programado para mim e eu não poderia perdê-lo. Ela nem mencionou a pá, mas seu telefonema me fez lembrar da aula da Escola Dominical.

Antes de dormir, mamãe veio me dar boa noite e eu disse que precisava usar minha pá. (Ela sabia o que isso significava porque eu havia contado.) Ela me ajudou e começamos relembrando que "Deus é Amor". Essas palavras estão pintadas na parede da Escola Dominical. Aí lembrei de Dona Juliana. Deus, o Amor, havia criado a ela também, logo ela não podia ser má. Mas ainda sentia a tentação de achar que seria muito melhor se ela fosse mais parecida com Dona Fernanda.

Então minha mãe lembrou quantos tipos diferentes de flores havia em nosso jardim: lírios do campo, violetas, peônias, lilases, e cada flor era bonita a seu modo. Prometi a mim mesma que iria aprender a perceber a beleza de Dona Juliana, também. Mamãe disse que refletir o amor de Deus sempre ajuda.

Também lembrei de Gilberto, o menino prepotente que se sentava perto de mim e me xingava. Mamãe disse que alguém que age assim deve sentir muita necessidade de ser amado e eu poderia amá-lo, pois Deus o ama. Não importava o que Gilberto dissesse, eu poderia ver boas coisas a respeito dele e, quem sabe, ajudá-lo a vê-las também.

O dia seguinte foi melhor. Procurei me esforçar para usar a pá. Dona Juliana sorriu três vezes e não me pareceu tão rude como eu havia pensado. Ela até disse que nossa classe era boa.

Gilberto estava vestindo uma camisa vermelha muito bonita. Gostei dela e disse isso a ele. Além disso, a caligrafia dele era muito boa para um menino. Esse esforço de notar coisas boas me ajudou muito. E continuei fazendo assim. Uma menina da primeira série estava chorando no banheiro e eu conversei com ela. Disse-lhe que a escola precisava dela tanto quanto ela precisava da escola.

Aquele ano acabou sendo bastante bom. Certa vez, durante o recreio, Gilberto correu para me ajudar, quando um menino muito maior me fez tropeçar e cair. Dona Juliana deixou que eu cuidasse de seus bichos-daseda durante todo o verão, enquanto ela estava viajando. (Dava-lhes folhas de amoreira para comer e até cheguei a vê-los fazendo o casulo.)

Muita coisa aconteceu desde essa época. Agora sou adulta e se fosse contar quantas vezes precisei usar minha pá para separar o que é verdade do que é fábula, encheria dezenas destas revistinhas. Agradeço realmente a Deus por ter nos dado "um trilho cortante e novo, armado de lâminas duplas."

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