O Que É Necessário para que a Escola Dominical seja espiritualmente ativa?
Inúmeras crianças reunidas num ambiente alegre? Publicidade? Comunicação entre os pais? Professores “sintonizados” nas últimas teorias e métodos educacionais usados nas escolas leigas?
Numa única frase de Miscellaneous Writings Mary Baker Eddy elimina a preocupação com a aparência e chega ao cerne da questão: “A Mente infinita e a visão espiritual que devem guiar e, de fato, guiam Seus filhos, não são influenciadas nem pelo refinamento, nem pela opinião, nem pela perspectiva material.”
As crianças pertencem à Mente, Deus, e a demonstração desse fato espiritual muda tudo. A missão e o propósito da Escola Dominical, seu conteúdo e capacidade de progredir têm origem em Deus. A necessidade fundamental, portanto, é de uma radical reorientação da consciência humana, que deve afastar-se das preocupações e referenciais mortais rumo à Mente, fonte criadora de tudo.
Um superintendente vislumbrou esse novo conceito do trabalho na Escola Dominical e anotou o seguinte, num domingo pela manhã, enquanto as classes estavam reunidas: “Que sentimento maravilhoso, a ponto de eu ter de me esforçar para conter lágrimas de alegria. Esta é a obra de Deus, estes são os filhos de Deus, é a hora de Deus. Estamos todos sendo conduzidos e elevados; o poder de Seu amor se amplia em nós. Esse é o poder que levantou Jesus do sepulcro e demonstrou a imortalidade do Cristo e da vida. Como a Vida é Deus, não pode haver nenhum ser que esteja vivo, que não seja imortal. Nós nos reunimos aqui para perceber um pouco dessa glória, glória que pertence inteiramente a Deus. Nessa glória Deus nos envolve ampla, desprendida e prazenteiramente. Todos vivemos nessa gloriosa e envolvente luz que é o amor.”
Que reação esperamos de uma criança que encontra uma atmosfera onde os professores ativamente expressam o amor instantâneo de Deus por Seus filhos? Como será a atitude da criança diante da energia compassiva e do genuíno calor da verdadeira espiritualidade?
Partir rumo à Escola Dominical no domingo pela manhã, com otimismo diante da expectativa de estar com as crianças por uma hora, não é suficiente. Temos uma lição extremamente importante a aprender com a vida do Mestre. Antes de iniciar seu apostolado de cura e ensinamento espiritual, foi necessário que Cristo Jesus fosse ao deserto e se defrontasse com as tentações do diabo. A experiência mostra que algo semelhante se faz necessário, para que ocorra uma atividade de genuíno progresso na igreja.
A influência mental que tenta prejudicar o bem-estar espiritual das crianças assume formas diferentes em épocas diferentes. Nem sempre é tão aberta e autoproclamada como o decreto de Faraó na época do nascimento de Moisés, ou como a ordem de Herodes por ocasião do nascimento de Jesus. Nem sempre é oficialmente sancionada como em determinadas partes do mundo, onde a educação religiosa foi banida por lei. Essa influência pode, por vezes, ser bem menos óbvia. É bem provável que hoje em dia não apareça sob a forma de perseguição externa e direta à educação espiritual. Em vez disso, a oposição ao progresso espiritual manifesta-se sob a forma de indisciplina, cinismo, indolência, distração ou preguiça que alegam não reconhecer o Cristo. Esse ataque pode atingir, com a mesma veemência, tanto a superintendentes e professores, quanto a alunos.
Mais do que qualquer outra coisa, expor pacífica e honestamente essa resistência mortal à luz da espiritualidade e confrontá-la, abre o caminho para o progresso da Igreja em todos os aspectos. A Sra. Eddy, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, diz por que: “O mal não é algo para ser temido e do qual precisamos fugir; nem se torna mais real quando confrontado. O mal, relegado ao esquecimento, torna-se mais real, agressivo e incrementa suas reivindicações; confrontado, porém, com a Ciência, pode ser e será vencido pela Ciência” (Miscellaneous Writings).
É encorajador lembrar que nós, apoiados em recursos humanos limitados, não somos responsáveis pela vitória. O poder espiritualmente científico que expõe a nulidade do mal é a ação da Verdade, ou Mente divina. Descobrimos que estamos envolvidos pela luz espiritual, não pela escuridão, à medida que entregamos nossa vida a essa Mente onipotente, abrindo mão da impressão mortal que percebe uma multidão de mentes existentes na matéria. Tornamo-nos assim espiritualmente fortes e suficientemente sábios para não nos deixar afetar pelas maquinações e encenações sem sentido da mente mortal. Esse despertar espiritual traz imensa liberdade e poder, não apenas para nós mesmos, mas para todas as atividades de nossa Igreja: Sala de Leitura, Escola Dominical, Cultos Dominicais, Reuniões de quartas-feiras e assim por diante.
A luz da Mente atravessa a neblina mental do sentido mortal. Os fatos que se relacionam com crianças, Igreja, comunidade e progresso se destacam, então, de forma vívida dos falsos conceitos humanos. Passamos a perceber quão natural é para as crianças e para nós encontrar, seguir e amar essa luz. E pouco a pouco, a impressão de que a Escola Dominical luta em vão contra desafios intransponíveis — essa impressão vai ficando mais frágil e impotente.
Deus não criou em Seus filhos inocência espiritual, bondade inata e pureza intrínseca para depois abandoná-los e deixá-los a confrontar-se com as influências agressivas do mundo mortal. O que Deus expressa em Seus filhos Ele mantém e protege continuamente. Seja o que for que percebamos em contrário, apenas indica que precisamos de arrependimento, purificação espiritual e batismo.
Deus expressa em Seus filhos, agora mesmo, uma total receptividade ao bem, que os atrai. Precisamos descobrir essa receptividade em nós mesmos, em nossos corações, em nossa vida. À medida que nosso desejo inato de estar próximos de Deus torna-se a influência dominante a modelar nossa vida, estamos também na posição de perceber a aceitação à espiritualidade que está no coração de cada criança. Ao mesmo tempo compreendemos que o amor de Deus que envolve cada criança tem de ser ilimitado. Esse amor ilimitado é a sabedoria que educa espiritualmente. É por isso que a humanidade afinal descobrirá que a educação espiritual das crianças, tal como a luz do sol, não pode ser nem reprimida nem dispensada. Essa educação espiritual está despontando e vai continuar a despontar à medida que a radiância espiritual do Espírito Santo opera para substituir gradual e completamente as trevas do materialismo.
UMA CONVERSA COM DOIS PROFESSORES DA ESCOLA DOMINICAL
Ao falar com dedicados professores da Escola Dominical sobre o trabalho que realizam, vemos a Ciência Cristã maravilhosamente ativa no que está fazendo e pode fazer pelas crianças. Essas pessoas não se apresentam aos domingos pela manhã para um encontro com os jovens simplesmente por um sentimento de dever! Estão, na realidade, constatando que seu sentido espiritual ganha ímpeto e suas qualidades inatas de criança são renovadas. Estão progredindo com as crianças, aprendendo com elas, dando-lhes parte do amor e apoio que sentiram ao serem eles mesmos alunos da Escola Dominical ou visitantes de uma igreja filial da Ciência Cristã.
A seguir apresentamos trechos de uma conversa que tivemos com duas pessoas que estão trabalhando na Escola Dominical da Ciência Cristã.
Por que você dá aula na Escola Dominical? Dou aula na Escola Dominical porque amo as crianças. Encanta-me ver como são receptivas a Deus. Gosto de ouvir falarem de suas vidas e sobre o que estão fazendo e aprendendo. Gosto de como me desafiam para crescer. Cheguei a um ponto em que não consigo pensar em não dar aula na Escola Dominical.
O que você aprendeu com as crianças? O que mais se destaca para mim é a espiritualidade inata que há nas crianças. Na verdade, há nos costumes atuais muita coisa que tenta inteferir nessa espiritualidade, formando como uma cortina de fumaça sobre ela. A espiritualidade, porém, muitas vezes atravessa essa cortina e acabamos constatando que não é humanamente que se aprende espiritualidade. Temos de aprender a curar e eliminar essa resistência, para permitir que o que é tão natural possa expressar-se. Com as crianças aprendi a aguardar espiritualidade com expectativa e a ter disposição para perceber que certos acontecimentos são, de fato, provas de uma espiritualidade crescente.
Você pode citar um exemplo? Em minhas classes vi jovens se rebelarem contra o materialismo da década de 80. Vi seu anseio por algo mais profundo. Auxiliei-os a discernir seus sentimentos com mais clareza, de forma que pudessem perceber o que de fato satisfaz. Vi jovens de minha classe expressar amor; deixar de lado suas prioridades para expressar amor a quem não era tão popular, nem tão amado. Vi jovens lutar por um conceito correto de identidade; buscavam a identidade que Deus outorga, não a que os outros desejam que expressem.
Para mim a oração e o crescimento espiritual são sempre um ato de descoberta. A única forma de dar aula é fazer essas descobertas junto com os alunos. Isso não significa trazer um fato conhecido e simplesmente jogá-lo em cima dos alunos. Requer, porém, que junto com eles façamos a descoberta do que há de novo na Bíblia e em Ciência e Saúde. Nossa atitude tem de ser isenta de dissimulação, mas exige nossa disposição de buscar o que há de novo e inexplorado sobre o assunto.
Como é que você sabe se sua classe está progredindo? Por vezes determinamos como o progresso da classe deve ocorrer; estabelecemos um quadro em nosso pensamento e nos decepcionamos se as coisas não acontecem como imaginamos. Talvez o mesmo ocorra com a cura. Temos uma idéia de como a cura deve acontecer e imaginamos uma espécie de linha ascendente ou gráfico. Decepcionamo-nos, porém, se aparecem obstáculos e solavancos. Em outros casos poderá haver um grande progresso, mas depois nos decepcionamos se ocorre a quimicalização. (Em Ciência e Saúde a Sra. Eddy escreve: “Por quimicalização quero dizer o processo pelo qual passam a mente mortal e o corpo mortal na mudança da crença, de uma base material, para uma base espiritual.”) Precisamos ter mais confiança. Por vezes, a quimicalização é o que provoca o maior crescimento. Com freqüência, os alunos estão aprendendo mais do que deixam transparecer.
Há algo mais, além da persistência, que auxilia a enfrentar um período de quimicalização, exercendo assim o papel de catalisador do progresso? Além da persistência, o que se faz necessário é uma disposição, por parte do professor, de volver-se a Deus em busca de um conceito correto sobre a classe. Quando ocorre um problema físico, talvez sejamos tentados a observar a evidência física. No caso da Escola Dominical, a tentação poderá ser a de procurar pela evidência humana de progresso. Precisamos, de fato, ser Cientistas Cristãos e viver o que professamos ser. Não podemos ser enganados pelos momentos de inatividade e falta de reação dos alunos.
Um dos momentos mais difíceis para um professor, ou para a classe, é quando o assunto parece enfadonho e os alunos não têm nada a dizer, ou parecem não reagir ao que o professor está dizendo. Essa situação assemelha-se a um véu: você sabe que eles estão sentindo e pensando sobre a vida com muito mais profundidade do que manifestam.
Como podemos atravessar esse véu? Expressando amor pelos alunos. Evitando ficar impressionados com esse amortecimento. Outra forma de romper o véu é fazer perguntas profundas e diretas aos alunos e a nós mesmos. Faço perguntas sobre suas vidas e sobre o que estão vivenciando; as mesmas perguntas faço a mim mesmo.
Segundo nos consta, você desenvolveu um projeto especial com sua classe no ano passado, não foi? De fato. Eu estava à procura de uma forma de fazer com que minha classe, constituída de alunos da oitava e da nona séries, se aprofundasse mais no estudo da Bíblia e de Ciência e Saúde. Sugeri, então, que preparassem uma reunião de quarta-feira. Primeiro definimos qual é o propósito dessas reuniões, como o Leitor seleciona os temas e como a lição é preparada. Um dos alunos sugeriu que a lição tratasse dos processos contra Cientistas Cristãos. (Nos Estados Unidos, em vários estados, há pais que estão sendo processados criminalmente por se apoiarem na Ciência Cristã para a cura, em vez de buscarem métodos convencionais de medicina.) Era um assunto que já havíamos debatido e os alunos não conseguiam entender como alguns Cientistas Cristãos podiam ser considerados criminosos por se voltarem a Deus em busca de ajuda e cura e como podiam ser julgados de acordo com critérios bem diferentes daqueles que se aplicam aos indivíduos que se apóiam na medicina. De posse do assunto, procuramos traduzi-lo para um tema metafísico. Finalmente concluímos que deveria ser: “Todo medicina é Mente, não matéria.” Quando mostramos os trechos escolhidos à Superintendente da Escola Dominical, ela sugeriu que revelássemos o projeto à igreja. Foi o que fizemos. Seis dos alunos prepararam para os membros uma reunião sobre a Escola Dominical sob o formato de uma Reunião de Testemunhos. Foi realizada numa quinta-feira à noite na sala da Escola Dominical.
Foi simplesmente maravilhoso! Não tínhamos idéia de quantas pessoas compareceiram, mas acabou acontecendo que muitos ficaram de pé por falta de lugar. Vários adultos sentaram nas cadeirinhas dos alunos pequenos, pois foram as últimas que restaram. No final do primeiro hino havia pessoas sentadas no chão na lateral da sala. A atmosfera que reinava era muito especial, estavam todos unidos na mesma idéia. Houve testemunhos de cura, um após o outro.
O tema tocava em algo que preocupava os adultos. Esse era um assunto que fazia com que homens e mulheres de nossa igreja examinassem suas consciências em busca de respostas profundas sobre como agir como pais Cientistas Cristãos num ambiente cheio de dissensão e onde predominam os conceitos médicos. Eis, no entanto, nossas próprias crianças tomando uma posição e dizendo: “Aqui está a resposta, na Bíblia e em Ciência e Saúde.”
O que você acha que os alunos aprenderam com esse projeto? Creio que pela primeira vez perceberam que a Ciência Cristã não é algo para outra pessoa compreender e praticar por eles. Creio que perceberam que a Ciência Cristã está aqui para fazerem uso dela eles mesmos, agora, onde quer que estejam. Creio que perceberam que, ao usar os livros para buscarem suas próprias respostas, podiam partilhar idéias renovadas com alguém mais, inclusive adultos.
