Se Há Um desafio que possa ser considerado o pior da adolescência, é o de ser rotulado como adolescente! (Com todas as implicações estereotipadas que acompanham tal rótulo.)
Em qualquer idade, há problemas e desafios que requerem solução — solução que realmente seja uma cura. Qualquer que seja o lado em que você se encontre face aos desafios que os jovens enfrentam, isto é, quer você esteja ajudando ou sendo ajudado, a questão não é tanto de idade nem de experiência, como de boa vontade. Boa vontade para confiar e ser confiável. Boa vontade para expressar nosso amor aos outros. Respeito. Intuição. Afeição sincera. Honestidade. Coragem. Quando essas qualidades aparecem, revelam (de forma surpreendente, às vezes) pontos em comum, um fundamento espiritual para procurar e achar soluções em conjunto com os outros.
Nos exemplos seguintes, os adolescentes procuraram a ajuda de pessoas que estavam orando profundamente a respeito de desafios que eles mesmos estavam enfrentando e suas orações não só resolveram os problemas deles próprios, mas também tiveram efeito sanador na vida dos jovens que procuraram auxílio. As pessoas que conseguiram ajudar tinham todas algo em comum: seu amor a Deus e uma disposição genuína para confiar nEle e procurar respostas que trouxessem cura.
“Preciso mesmo de ajuda,” disse o rapaz. “Parece que não há nada. .. quero dizer, não há o que esperar da vida. Então, p’ra quê ficar por aqui? Por que não acabar com tudo e se livrar das amolações?“ Sua voz foi ficando cada vez mais fraca, como se a ligação telefônica estivesse sumindo. Acabou desligando, sem que o amigo conseguisse descobrir onde ele estava.
O amigo começou a orar e, embora se sentisse inseguro a princípio, aos poucos o medo e a preocupação foram substituídos por um senso tangível de segurança e paz. Os seguintes versos de um dos poemas da Sra. Eddy lhe voltavam sempre ao pensamento:
Avisto sobre o bravo mar
O Cristo andar,
E com ternura a mim chegar,
E me falar.
Sabia que o jovem não poderia nunca estar fora do alcance ou fora da vista de Deus, sempre-presente, e isso trouxe a calma confiança na capacidade suprema de Deus, de cuidar do jovem e levá-lo a um lugar seguro.
Mais tarde, o jovem telefonou novamente dizendo que se sentia bem diferente! Disse que se sentia amado e em segurança.
“Uma jovem mãe estava orando com afinco por seu casamento, que parecia instável e destinado ao fracasso. Quando o telefone tocou, atendeu com relutância e ficou surpresa, pois era a enfermeira de uma escola da vizinhança, pedindo para ela ir buscar certa jovem sua conhecida, cujos pais estavam em viagem de negócios. (Eles haviam dado o número de telefone dessa senhora para o caso de surgir alguma necessidade.) No carro a estudante contou que estava se sentindo mal, se sentia pressionada, assustada, completamente perdida e precisando de um porto seguro! A princípio, a jovem mãe achou que não tinha nada a dizer mas, depois de pensar um pouco, compreendeu que, como Cientista Cristã, tinha a única coisa que realmente importava, isto é, confiança no fato de que Deus cuida de nós. Resolveu mencionar o trecho dos escritos da Sra. Eddy que ela própria vinha estudando: “Em Seu porto da Alma não penetra nenhum elemento terrenal que possa expulsar os anjos e silenciar a intuição correta que te guia a salvo para o lar.“ Ela estivera orando para entender isso com mais clareza e, após uma hora aproximadamente, quando a jovem já tinha se acalmado, as duas puderam conversar sobre o Amor de Deus, que consola, corrige e cura. Incluídas no Amor, as duas estavam no verdadeiro lar e ambas se sentiram fortalecidas. Dentro de mais meia hora, a garota disse que estava bem. Essa experiência foi um marco, tanto para a jovem mãe, como para sua amiga adolescente.
Um viúvo com seis filhos pequenos foi chamado a ensinar uma classe razoavelmente grande, de adolescentes, numa Escola Dominical da Ciência Cristã. A classe tinha uma boa mistura de interesses e opiniões. Às vezes, as discussões ficavam um tanto difíceis, como aconteceu num domingo em particular. Um aluno daquela classe lembra assim do caso:
“Estávamos realmente desafiando-o, fazendo perguntas num fogo cruzado, dizendo: ’Como a Ciência Cristã pode ajudar nisso, e naquilo?’ e, por um momento, ele não respondeu nada. Depois, com calma, começou a nos contar, como se nós fôssemos amigos chegados, como ele estava orando por seus filhos, como orava acerca de companhia, suprimento, paz de espírito, segurança, o futuro e outros pontos mais. Deixou claro que ele orava com afinco todos os dias e que essas orações tinham resposta de forma prática e tangível.
“Pensei muito a respeito daquela aula. A honestidade e humildade que ele expressou conosco, como alunos, era exatamente a maneira como ele tratava a todos, inclusive seus filhos. Ele sabia dos problemas que eu vinha tendo em casa e nunca, nem uma vez, me senti criticado ou diminuído. Outros tinham problemas na escola, ou com os pais, ou estavam experimentando bebidas alcoólicas, ou drogas. Numa cidade pequena como a nossa não havia muito a esconder. Entretanto, eu confiava nele; achava que ele me conhecia como sou realmente, isto é, como Deus me conhece. Sentiame à vontade para conversar francamente com ele.
“Depois daquela aula, especificamente, nunca mais pensei da mesma forma sobre os outros adultos, inclusive sobre meus próprios pais e sobre os problemas que os adultos enfrentam. Ele nos abriu uma janela para o amor de Deus e para a forma como Ele provê, protege, guia e consola. Amei-o mais por não querer dar a impressão que ele tinha todas as respostas. Na realidade, tinha tantas perguntas quanto nós! Mas sabíamos que levava suas perguntas para Deus e para o pastor, a Bíblia e Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras de Mary Baker Eddy, e ali encontrava respostas, dia a dia.
“O mais maravilhoso foi ver suas orações atendidas. Conheceu uma jovem muito amável, que se interessou pela Ciência Cristã e, tempos depois, os dois se casaram. Também dedicou-se a novos empreendimentos nos negócios. Tenho certeza de que enfrentou outros desafios pelo caminho, à medida que os filhos foram crescendo, mas nunca esqueci a confiança no poder da oração que tão honestamente nos transmitia a cada semana.”
Os adolescentes não estão à procura de um ser humano perfeito para imitar. Não estão à procura de alguém que tenha respostas para tudo. Como as pessoas de qualquer outra faixa etária, estão à procura de coerência, integridade, ponderação, compaixão, honestidade — qualidades morais que incorporamos e expressamos cada vez mais à medida que elaboramos nossa salvação.
A credibilidade moral é um ponto crucial. Estamos nós interessados e orando a respeito de questões importantes como a fome, a injustiça, a falta de habitação, o desemprego, a poluição? Ou estamos, ao contrário, antes de tudo intensamente preocupados em tornar nossa própria existência humana mais fácil e livre de problemas?
Se em nossa própria vida estivermos dando testemunho do poder da oração, teremos aquela honestidade e afeição sincera que diz, mesmo sem palavras, que estamos disponíveis e dispostos a escutar e ajudar. Nossas palavras serão substanciais e nosso desejo de ajudar será vigoroso.
PARA ALÉM DAS APARÊNCIAS
Fala-se Muito sobre a pressão dos colegas, na adolescência: a pressão que os colegas exercem para que o adolescente faça o que os outros fazem, em geral coisas erradas. Mas a pressão do meio sobre os pais chega a ser igualmente forte. Isso se manifesta no desejo que os pais têm de que os filhos adotem determinadas normas na maneira de vestir e de agir, tenham determinados objetivos e procedam de certa forma. Posso dizer, por experiência própria, que a Ciência Cristã nos ajuda enormemente a nos livrarmos da preocupação indevida pelo que os outras vão pensar de nossos filhos, preocupação essa que tende a nos desviar daquilo que, em realidade, deveríamos estar fazendo: cultivar a individualidade espiritual de nossos filhos.
Lembro-me das discussões que tivemos com nosso filho acerca do comprimento e corte dos cabelos. Eu achava que ficaria melhor e menos controvertido se seu cabelo fosse mais curto.
Afinal, nós três, pai, mãe e filho, fizemos um acordo, comprometendo-nos a não julgar ninguém exclusivamente pela aparência. Havia muitas coisas mais importantes que jamais seriam resolvidas por um simples corte de cabelo. Com toda a seriedade, não podia me imaginar a orar para que nosso filho cortasse o cabelo. Mas eu podia, e foi isso o que fiz, orar para que sua individualidade espiritual se tornasse mais evidente para ele e para nós. Orei também para eu ter a capacidade de apoiar a realidade de seu ser como filho de Deus.
Logo depois de termos chegado a esse acordo, isto é, de que as aparências não eram a prioridade máxima, mas que a verdadeira identidade o era, nosso filho contou algo que aconteceu em seu trabalho. Ele estava trabalhando aos sábados em um posto de gasolina e foi atender um carro que acabara de entrar. Quando perguntou ao motorista em quê poderia servi-lo, o homem olhou surpreso para ele, franziu o cenho e disse: “Quando entrei aqui, pensei que você fosse uma garota.” Nosso filho se surpreendeu, ele mesmo, com a resposta que lhe ocorreu, tanto quanto aquele cliente e por isso, depois, ele ficou ansioso para me contar. Sem nem um pouco de irritação ou azedume, sorriu para o homem e se ouviu a dizer: “Sabe, quando o vi entrar aqui pensei que o senhor fosse um velho.” Um sorriso irrompeu no rosto do cliente. Ele voltava depois todos os sábados e sempre fazia questão de conversar com nosso filho.
A resposta que meu filho deu (e o que está por trás dela) tem me ajudado quando me apresso a condenar alguém ou a mim mesmo. Mostra um pouco da sabedoria prática, do amor e da liberdade que a Ciência Cristã proporciona tanto aos adolescentes quanto aos adultos. A incapacidade de ver além das aparências superficiais, deixa-nos confinados entre as paredes estreitas de nossa percepção e de nossos preconceitos. O desejo divinamente impelido de ver os outros mais como o Pai os vê, começa a nos fazer entender o que significa o fato de que Deus “povoou” Seu universo.
Tenho sentido que a Ciência Cristã é de grande apoio, tanto na “macro“ como na “micro“ educação de filhos. Sei que esses termos parecem estranhos mas o que quero dizer com isso é que a Ciência Cristã ajuda enormemente, tanto na missão mais ampla da educação, isto é, naquele desejo profundo que os pais têm de ver os filhos florescer, levar uma vida útil, moral, livre de egoísmo e de monotonia, de sentir a mão de Deus dirigindo a carreira de cada um, como nas pequenas coisas do dia-a-dia: a necessidade constante de paciência por parte dos pais, de afeição prática para corrigir e encorajar.
O período da adolescência dos filhos faz com que muitos pais se voltem com ainda mais consagração a Deus, o verdadeiro Pai e Mãe tanto dos pais como dos filhos. Para alguns é a oportunidade de realmente aprender a praticar a Ciência Cristã, à medida que olham menos para a aparência material e mais para aquilo que Deus sabe a respeito de Seus filhos, aquilo que a Mente sabe sobre suas idéias. Orando mais cientificamente, as famílias encontram um apoio imenso e cura, além de uma outra perspectiva no que parece ser uma época conturbada. Os adolescentes são receptivos à honestidade espiritual e ao amor sem egoísmo; às vezes correspondem de modo inesperado e famílias inteiras são abençoadas.
AMOR — INSEPARÁVEL DE SUA EXPRESSÃO
Aos dezessete anos, eu tinha um namorado que era poeta talentoso. Em seus poemas, falava muito da vida e da morte. Às vezes, dirigia a palavra à morte de forma direta em seus trabalhos e não conseguia esconder o fascínio que o tema exercia sobre ele. Vivia atormentado por um conflito e separação em sua família. Suicidou-se com um tiro, ao meio dia, deixando a escola chocada e sem saber o que pensar. Em meio à profunda perturbação inicial, achei muito conforto no ensino da Ciência Cristã, de que o homem é um ser imortal e não morre. Sabia que meu amigo estava descobrindo um pouco mais desse fato espiritual e sabia que ele continuaria a crescer e a aprender.
A grande questão da identidade, o significado da vida, o lugar do homem no esquema das coisas, o anelo do coração por amor e harmonia, são correntezas que invadem a experiência humana e parecem ser particularmente fortes no período da adolescência. Apesar disso, a Ciência Cristã deixa claro que não é inevitável que essa época seja confusa, perigosa, ou turbulenta. O homem de Deus não é um mortal infeliz e vulnerável; ele é a própria imagem do que é bom e verdadeiro. Representa a totalidade do Amor em sua variedade de expressões. Nunca está separado do cuidado vigilante e da aprovação do Amor. Deus se agrada de seu amado filho e este não é nem criança, nem adolescente, nem adulto, mas sim uma idéia totalmente espiritual, no zênite de sua condição de homem.
O ponto crucial, ao enfrentarmos essas questões profundas que tocam tanto a razão como o sentimento, é conseguirmos um vislumbre da verdade espiritual de que somente “o Amor é Vida” como diz o poema da Sra. Eddy “Amor”. Vive o amor. Sê amor. Como tem sua origem em Deus, o amor não é uma propriedade que pode ser retida por outra pessoa; ele está dentro da consciência. Inseparável de sua expressão, o amor, com sua bondade, consideração e gentileza, nos mantém tão entretidos em viver, que a convicção de que o homem é necessário e valioso para Deus e, portanto, para o próprio homem, se torna natural para nós.
As grandes questões não são eliminadas, mas achamos uma maneira de satisfazê-las por expressões do Amor. A única coisa que é eliminada é a atração pelo suicídio, pois esta não pode sobreviver em meio a tanta vitalidade.
“CONTINUAMOS A AMÁ-LO E A NOS INTERESSAR PELO BEM-ESTAR DELE, COMO ANTES.”
Quando eu era adolescente, meu irmão ficou seriamente viciado em drogas. De ótimo aluno que era, chegou a ser quase reprovado e por pouco não abandonou a escola. O pior é que, de meu amigo, passou a ser um indivíduo que, às vezes, eu desejava nem ter conhecido. Nossa família teve de enfrentar muitos dos tormentos que quase sempre acompanham as drogas: furto, destrutividade, indiferença, transtorno na vida doméstica.
Com a ajuda da Ciência Cristã, entretanto, algo de notável aconteceu: continuamos a amá-lo e a nos interessar pelo bem-estar dele, como antes. Em vez de estilhaçar a família, ao contrário, aconteceu que a necessidade de orarmos e nos compreendermos melhor trouxe-nos mais afeição e nos uniu mais. A ameaça que pairava sobre nossa vida em família feznos ver um pouco cruamente o que é que estava em jogo. Esforçamo-nos muito para não perder de vista a força e o afeto que o lar e a família representavam.
A Ciência Cristã nos possibilitou encontrar um meio de nos rebelar contra o uso de drogas, não aceitando que elas tivessem domínio sobre meu irmão e não tolerando a presença ameaçadora delas em nossa vida. Não foi fácil vencer essa luta e levou tempo. Mas a persistência em não perder de vista a identidade espiritual inviolada de cada membro da família, acabou vencendo. Atualmente meu irmão está bem casado e tem filhos. E nossas reuniões de família não trazem memórias tristes. São, pelo contrário, ocasiões para continuar a compartilhar aquela alegria que sempre fez parte de nossa família.
