Crianças. Alegria. Luzes. Dar e receber. Tudo isso, freqüentemente, faz parte das festas de final de ano. Mas, será que é verdade, como diz uma canção francesa, que “vivemos ao lado de outras pessoas.. . mas acabamos percebendo que estamos completamente sós no mundo”?
Por que, às vezes, nos parece tão difícil ficar sozinhos? Será que é porque sentimos que ficar sozinho não é normal e que sempre precisamos de outra pessoa conosco? Talvez pensemos que necessitamos de uma presença física ao nosso lado, que possa ser vista e ouvida. Contudo, a televisão, que podemos ouvir e ver, não atende satisfatoriamente a essa necessidade. E podemos nos sentir sozinhos até mesmo no meio de uma multidão.
Talvez o que estejamos procurando de verdade seja a presença de alguém que nos possa conhecer profundamente, que nos possa estimar, amar, e que, em troca, nós também amemos. Em resumo: um companheirismo cheio de vida e amor.
No fundo, o que tanto desejamos não é meramente uma presença física. Ao longo dos séculos, muitos homens e mulheres, que passaram por momentos de grande solidão, descobriram que estavam acompanhados de uma presença muito tangível, que não era física, e que, em geral, era chamada de Deus. Há muito tempo, na Palestina, viveu um homem que provou, por palavras e obras, que existe uma presença divina sempre conosco.
Esse homem, Jesus Cristo, cujo nascimento é comemorado no Natal, estava tão consciente da presença constante de Deus com ele, que falava com Deus, quer estivesse sozinho ou rodeado por uma multidão. Em todas as ocasiões, ele reconhecia que era amado e estimado por Deus, a quem chamava de Pai. No momento mais difícil de sua vida, um pouco antes de ser crucificado, ele disse a seus discípulos: “Eis que vem a hora e já é chegada, em que sereis dispersos, cada um para sua casa, e me deixareis só; contudo, não estou só, porque o Pai está comigo” (João 16:32).
Jesus viveu e exemplificou o Cristo, mais do que qualquer outra pessoa que tenha vindo antes ou depois dele. Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da Christian Science, explica em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “Cristo é a idéia verdadeira que proclama o bem, a mensagem divina de Deus aos homens, a qual fala à consciência humana” (p. 332). A missão de Jesus de Nazaré foi única mas, graças aos ensinamentos do Mestre e ao exemplo de vida que ele nos deixou, eu e você podemos reconhecer essa presença divina, que está constantemente junto de cada um de nós.
Cerca de quinze anos atrás, houve uma ocasião em que me senti muito sozinha. Foi nessa época que me tornei mais consciente da presença do Cristo em minha vida. Eu e minha família morávamos em Boston. Todos os nossos parentes haviam ficado na França. Certa ocasião, na época do Natal, surgiu a oportunidade de meu marido, a mãe dele que estava nos visitando e nossos dois filhos pequenos fazerem uma viagem de uma semana para Disney World. Por motivos profissionais, eu não poderia ir com eles. Sinceramente, eu estava feliz por eles, pela oportunidade maravilhosa que estavam tendo. Mas, depois de eles terem viajado, enquanto a mídia se referia constantemente às alegres reuniões familiares, comecei a me sentir muito vazia. Pela primeira vez na vida, eu iria passar o Natal a milhares de quilômetros de todos os meus entes queridos. Comecei a compreender como as pessoas que vivem sozinhas se sentiam. No passado, eu costumava raciocinar que o dia de Natal não era um dia diferente dos outros (o que, de certa maneira, é verdade, uma vez que o espírito do Natal, a idéia relacionada com a alegria e com o “dar e receber” pode ser acolhida, em qualquer dia, em nossos corações). Mas, com a aproximação do dia de Natal, eu comecei a sentir muita pena de mim mesma.
Eu estava orando para livrar-me da angústia, que aumentava cada vez mais, tentando compreender que nada poderia separar-me desse Ser divino, que eu sabia ser a fonte de minha alegria e de todo o bem. Então, tive a idéia de oferecer ajuda a uma casa de repouso, que ficava perto de onde eu morava. Eu poderia passar algum tempo com os residentes que não tinham quem os visitasse. Quando cheguei a essa casa, deram-me o número dos apartamentos de três pessoas que poderiam ser visitadas. Passei momentos maravilhosos com elas! A primeira residente não falou muito, mas pude notar o quanto ela apreciou minha visita. A segunda tirou um pequeno acordeão de seu armário e cantamos juntas diversas canções. E o rosto da terceira pessoa, para quem eu li um pouco, irradiava pura alegria. Eu havia chegado lá com a idéia de oferecer alguma coisa, mas ao sair, senti que havia recebido muito. Até hoje, essa tarde alegre continua sendo para mim uma luminosa lembrança de Natal.
Compreendi mais tarde que a alegria que sentimos ao compartilhar o amor, esse sentimento de comunhão com pessoas com quem temos afinidade, sem esperar nada em troca, independente de quaisquer vínculos familiares, era a manifestação do Cristo, a influência divina na consciência humana. Ela está conosco todos os dias do ano, quer nossa família esteja por perto, quer não.
Algumas vezes, as circunstâncias externas nos dão a impressão de que vivemos num “Deserto”. Mary Baker Eddy começa a definir essa palavra no Glossário de Ciência e Saúde como “Solidão; dúvida; trevas.” Mas então ela continua descrevendo o deserto de uma forma diferente, como “Espontaneidade de pensamento e de idéia; o vestíbulo onde o sentido material das coisas desaparece, e onde o sentido espiritual revela as grandes verdades da existência” (p. 597).
Portanto, se você está se sentindo completamente só, aproveite a oportunidade para permitir que um conceito novo, espiritual, brote em seu coração. Você poderá estar prestes a ter uma experiência maravilhosa. Então, a resposta à pergunta “Você está completamente só?” — será: “Não!” Quando o amor a Deus e ao nosso próximo ilumina nossos dias, descobrimos que nosso Deus, nosso Pai-Mãe verdadeiro, fala conosco, ternamente, por meio do Cristo. Sentimo-nos estimados, amados, protegidos. Em realidade, nunca estamos completamente sós. Nem no dia 25 de dezembro, nem em qualquer outro dia!
