“Mãe, você está me devendo a mesada desta semana.”
“E você ainda está me devendo aquelas ligações interurbanas que apareceram na última conta telefônica.” Essa não era a melhor coisa para eu dizer ao meu filho, que estava no último ano do curso médio, enquanto saíamos para fazer uma caminhada pela praia no dia de Natal. Eu deveria ter ficado calada.
Lá fora, no jardim, trocamos mais acusações e comentários desagradáveis. Meu filho voltou para casa dizendo: “Tenho vontade de passar com o carro em cima desse jardim.” Continuei seguindo em direção à praia, acompanhada apenas do meu cachorro, antes que tivéssemos tempo de dizer mais alguma coisa da qual poderíamos nos arrepender depois.
Meus pensamentos estavam cheios de justificativas: “É muita ingratidão, depois de todos os presentes de Natal que ele recebeu hoje. É justo que ele pague os telefonemas que fez.”
Enquanto caminhava, comecei a perceber a necessidade de mudar meus pensamentos. Eu estava precisando de um conselho, mas onde poderia buscá-lo? Desde antes de meu filho nascer, esta notável afirmação de Mary Baker Eddy no livro Ciência e Saúde, a respeito do filho de Deus, a verdadeira identidade de cada um de nós, tinha servido como base para a minha oração: “...Deus é seu Pai, e a Vida é a lei de seu ser” (p.63). Com efeito, Deus é o Pai e a Mãe de todos nós. Agora, tendo de criar meu filho sozinha, eu estava aprendendo a me apoiar cada vez mais nessa fonte divina, para que ela me ajudasse a orientar esse bom filho e prepará-lo para a idade adulta.
Lembrei-me de que, no verão anterior, havia aprendido algumas importantes lições acerca do relacionamento de meu filho com Deus. Ele havia telefonado certa noite de uma cidade a cento e vinte quilômetros de distância de nossa casa, para dizer que chegaria em casa mais tarde. Fui ríspida com ele ao telefone mas, depois de desligar, reconheci que a melhor reação que eu poderia ter seria orar. Durante aquele verão, o estudo da Bíblia havia me proporcionado uma compreensão mais clara do Cristo e do verdadeiro conceito sobre a natureza perfeita do homem. Eu estava adquirindo uma compreensão mais profunda de que o Cristo é quem nos comunica o ser de Deus, que essa comunicação se faz especificamente para cada um de nós e que cada um tem a capacidade de compreender essa mensagem.
À medida que eu orava, a preocupação e a raiva foram dando lugar a uma sensação de alívio e à convicção de que, como filho de Deus, meu filho estava sob o controle da Sua lei e era governado por Sua inteligência e raciocínio. Quando finalmente ele chegou em casa, logo veio falar comigo, explicando que ele e a sua namorada haviam levado para casa a namorada de um amigo que morava naquela cidade distante. Ele disse que havia se sentido “como um pai levando os filhos para casa.”
No dia seguinte, ele soube que a namorada havia sido punida pela mãe, porque não havia telefonado avisando que chegaria tarde; ela estava proibida até mesmo de falar ao telefone. Meu filho ficou furioso com a mãe da garota, dizendo que ela estava exagerando e que ele telefonaria para a namorada assim mesmo. Conversei um pouco com ele sobre as diferentes expectativas e as diferentes regras estabelecidas pelos pais mas, acima de tudo, firmei-me na oração da noite anterior, acalentando sua natureza como filho de Deus e a constante comunicação das boas idéias por parte do Cristo. Ele respeitou a proibição imposta à namorada de não falar ao telefone, a qual foi suspensa antes do prazo determinado.
De volta a minha caminhada pela praia, comecei a modificar o curso dos meus pensamentos. Então, orei da seguinte forma: “Como acontece com todos os filhos de Deus, a natureza real desse filho inclui gratidão e consideração. Ele reconhece todo o bem que tem, como filho de Deus. Ele é responsável porque ele é, de fato, a expressão do Princípio divino, que está sempre pondo em prática a lei divina do bem. Ele é atencioso e demonstra consideração pelas pessoas, como filho do Amor divino sempre atuante. O Amor nunca se deixa distrair pelas emoções humanas nem pelos jogos de poder, nunca age ou se expressa de alguma outra forma que não seja a harmonia, e a criação do Amor, que inclui esse meu filho, está sob o controle dessa lei presente em tudo.”
Continuei caminhando à beira d'água, sempre acompanhada do meu cachorro, regozijando-me com aquele dia ensolarado, fazendo a Oração do Senhor com toda a atenção, linha por linha, como havia feito muitas outras vezes em busca de orientação. Incluí ambos, mãe e filho, nessa oração, esforçando-me para reconhecer e sentir que nós dois somos a exata expressão que Deus tem de Si mesmo. Algumas famílias que estavam caminhando pela praia pararam para me cumprimentar e conversar comigo, o que me fez lembrar que meu filho e eu fazemos parte de uma família universal e que Deus nos envolve a todos em Seus braços.
Quando voltei para casa, sentiame em paz e já havia pensado em propor um acordo com relação ao pagamento da conta telefônica. Porém, meu filho me recebeu com um cheque assinado, em meu nome, que era seu presente de Natal, o qual cobria sua parte das despesas de telefone. Tivemos um almoço agradável e o resto do dia foi muito alegre. Eu me regozijei por ter sido orientada por Deus a ponderar, ouvir e confiar nEle.
Alguns dias mais tarde, percebi que havia no jardim uma parte da grama que apresentava um aspecto diferente. Ao examinar mais de perto, percebi que essa grama estava cobrindo uma marca de derrapagem de pneu. Ela agora já criou raízes. O jardim está lindo. O jovem também está progredindo.
