Nossa amiga indonésia viu a estatueta esculpida em mogno, quando passávamos pelo meio de uma fileira de barracas, num mercado perto do lago Toba, na região norte de Sumatra. “Olhe!”, disse. “Ela dá uma idéia do sentimento do povo indonésio em relação aos filhos. Desejamos erguê-los bem alto, acima de nós mesmos. Desejamos colocá-los em primeiro lugar!”
Gostei da estatueta assim que a vi. Ela consiste de três figuras entrelaçadas: um garoto, seu pai e um bebê, que deve ser seu irmão ou irmã. No alto está o garoto, com a cabeça bem acima da de seu pai. Ele tem os pés firmados solidamente nos ombros do pai, e suas mãos estão agarrando firmemente o chapéu que o pai tem na cabeça; ele encara o mundo à sua frente com serena confiança. De frente para os dois está o bebê, balançando-se sobre os joelhos do pai. Você quase consegue ouvir os balbucios de um bebê de verdade.
Atualmente, a estatueta ocupa um lugar de honra sobre minha lareira. Gosto de pensar no ideal que ela representa. Gosto também de lembrar como o artesão que esculpiu a estatueta e sua família ratificavam a mensagem desse trabalho. Ele e sua mulher tratavam os filhos como hóspedes especiais. Eles os apresentaram a nós. E, enquanto eu comprava a estatueta e algumas outras lembranças, eles continuavam a servir o almoço para as crianças, atrás da barraca. Eles realmente valorizavam seus filhos.
Erguer nossos filhos, nossas crianças, bem alto. Valorizar seu lugar especial em nossa vida e em nosso mundo. Esse é um ideal que a humanidade nem sempre tem alcançado. Especialmente hoje, quando cerca de 200 milhões de crianças em todo o mundo trabalham muitas horas, praticamente como escravos. Outras são forçadas a lutar nas guerras. Outras a se prostituir. Além disso, durante a última década, milhões de crianças se tornaram refugiadas, em decorrência dos conflitos pós-guerra fria. E existem milhões de crianças desabrigadas, até mesmo em algumas das nações mais ricas do mundo (ver “World View: The Littlest Victims of Global Progress”, de Robin Wright, Los Angeles Times, 11 de janeiro de 1994, p. 1; “It's a Child's World”, de Roslyn Guy, The Age, John Fairfax Group Pty Ltd., 22 de outubro de 1996, p. 8).
Pode parecer que existe muito pouco que eu e você possamos fazer para ajudar as crianças que se encontram perdidas nessas condições. Mas podemos, pelo menos, começar a fazer algo. Podemos decidir que a humanidade não tem de tolerar essa situação. E, ao fazer isso, podemos volver-nos a Jesus Cristo como nosso modelo. Quase dois mil anos antes de as Nações Unidas aprovarem a “Declaração dos Direitos da Criança”, Jesus defendeu esses direitos. Ele apoiou o que um estudioso da Bíblia chama de “a santidade da infância” (A Commentary on the Holy Bible de J. R. Dummelow, Nova Iorque: Macmillan, 1936, p. 689).
Aconteceu assim. Alguns pais trouxeram os filhos até Jesus para uma bênção especial (ver Marcos 10:13–16). Os discípulos, porém, acreditavam que as crianças não eram importantes o bastante para que o Mestre lhes dedicasse tempo e atenção. Então, eles pediram que os pais impedissem as crianças de incomodar Jesus. Mas este não aprovou a atitude dos discípulos, e lhes disse com firmeza: “Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus.” Então, tomou as crianças nos braços e as abençoou.
Jesus reconhecia a santidade nas crianças. Sentia que elas estavam mais preparadas do que muitos adultos para entrar no reino de Deus. Esse é um lembrete importante ainda hoje, para que respeitemos o que as crianças representam; para que respeitemos sua inocência e seu afeto natural, que vem de Deus. E nunca, jamais, violar a santidade de sua confiança sincera na bondade da humanidade, na nossa bondade.
O fato é que existe uma relação entre o conceito que temos sobre as crianças e o conceito que temos sobre nós mesmos. Valorizar nossos filhos e as crianças do mundo ajuda-nos, de certa forma, a ter maior estima por nós mesmos. Seria difícil valorizarmos verdadeiramente a nós mesmos e aos outros, como adultos, sem valorizar as crianças.
Por quê? Porque aos olhos de Deus, crianças e adultos, ou seja, todos nós, estamos na mesma posição. Todos temos o mesmo valor. O Pai-Mãe do universo considera cada um de nós como Seu filho, nem mais, nem menos. Somos filhos de Deus desde toda a eternidade e continuaremos a ser Seus filhos para toda a eternidade, Para Deus, não existe nenhuma diferença de idade entre nós. Não existe “eu sei mais (ou menos) do que você”. Não existe “eu sou mais (ou menos) importante do que você”. Existe apenas um, um único Pai-Mãe, que ama cada filho e cada filha igualmente. Que protege cada um com o mesmo cuidado. Que eleva cada um bem alto para que vejamos um ao outro como a semelhança espiritual da divindade.
A compreensão disso, mesmo que pequena, muda a maneira como encaramos uns aos outros e a nós mesmos. Melhora a maneira como interagimos com as outras pessoas. Capacita-nos a ajudar os outros, incluindo aquelas crianças que possam parecer muito vulneráveis às circunstâncias que as oprimem. Tem o poder de ressuscitar crianças da pobreza, da doença, da exploração, da falta de um lar, da falta de esperança.
Eu gostaria de lhes contar a experiência de algumas pessoas que passaram por essa ressurreição espiritual. E isso as capacitou a trazer a ressurreição, de formas maravilhosamente práticas, a diversas crianças “perdidas”. Aqui estão suas histórias:
Uma mulher na Venezuela reconheceu que suas orações pelas crianças de rua, em sua cidade, leva-ram-na a ajudar a criar uma organização que fornece alimentação, abrigo, roupas e estudo a centenas de jovens. Nesse trabalho, ela conheceu um menino de três anos, que não estava recebendo os cuidados necessários e tinha uma doença de pele. A mulher e seu marido levaram o menino para casa para cuidar dele, e oraram por ele. Em pouco tempo ele ficou completamente bom. Mais tarde, o casal adotou esse menino.
Membros de uma igreja no Brasil, há diversos anos recebem na Escola Dominical crianças da vizinhança que vêm sozinhas à igreja. Esses jovens estão se tornando membros produtivos e úteis de sua comunidade. Em alguns casos, por intermédio delas, a família dessas crianças ficou conhecendo a Ciência do Cristianismo, que elas aprendem na Escola Dominical.
Uma senhora que praticava a cura espiritual havia muitos anos, se deu conta que não havia nenhuma criança em sua vida nem em sua prática curativa, e que algo muito valioso estava faltando. Quando ela começou a orar para expressar de forma mais ampla as qualidades infantis em sua vida, sua experiência mudou. Ela começou a encontrar crianças brincando na calçada do prédio onde mantinha seu escritório, e estas se tornaram amigas importantes. Começou também a receber pedidos de crianças para que orasse por elas. E começaram a ocorrer belas curas instantâneas com aquelas crianças e também com outras pessoas que lhe pediram ajuda. Sua existência tornou-se mais completa.
Toda ressurreição é importante. Cada vitória de cada criança contribui para a salvação universal que precisa vir para toda a humanidade. E eu sou grata ao artesão da Indonésia, cujo trabalho me impele diariamente a me unir a ele e a muitos outros, para erguer bem alto as crianças do mundo.
