Já se passou bastante tempo, mas eu me lembro que nos encontramos em vários acampamentos de refugiados próximos à fronteira. Eu me lembro das condições em que vocês viviam naqueles acampamentos. Quando amanhecia, a vida recomeçava e, aos poucos, eram retomadas as atividades diárias. Se chovia durante a noite, formavam-se grandes poças d'água na terra, que logo viravam uma lama negra e pegajosa. Só as crianças se divertiam com a água, brincando despreocupadamente. Todo o acampamento se reunia para a distribuição da comida. Novos refugiados chegavam a cada momento, e a população dos acampamentos não parava de crescer.
O plano de Deus para todos os Seus filhos inclui o direito de viver em paz, de se sentir apreciado, de progredir na vida.
Eram longas as filas de homens, mulheres e crianças que haviam perdido tudo o que possuíam. Será que o anonimato e a adversidade os privaram da dignidade e de toda a esperança? Tendo trabalhado com vocês, tendo orado por vocês, estou certa de que isso não aconteceu.
Vocês são milhares, se não milhões de pessoas de todas as idades e classes sociais, que optaram pela fuga (ou que foram obrigados a fugir) devido a guerras e massacres, e que vivem da ajuda de outras pessoas. Vocês são os herdeiros de pleno direito das promessas que Deus fez a cada um de nós. E Deus não os abandonou, porque Ele jamais deixou de amá-los ternamente. Uma de Suas promessas é a seguinte: “Só eu conheço os planos que tenho para vocês: prosperidade e não desgraça e um futuro cheio de esperança” (Jeremias 29:11, conforme a Nova Tradução na Linguagem de Hoje).
Apesar das aparências, ali mesmo onde a guerra e o desespero parecem reinar, existe uma realidade diferente. Existe o plano de Deus para todos os Seus filhos, que inclui o direito inalienável de viver em paz, de se sentir apreciado, de progredir na vida. Qualquer que seja a situação em que nos encontremos, é sempre possível reivindicar mentalmente esse direito com insistência e confiança, para si mesmo e para os outros. Eu me recordo de ter feito isso praticamente sem cessar, quando percebi as dificuldades que vocês tinham de enfrentar. Às vezes as circunstâncias parecem privar-nos daquilo que conseguimos com muito esforço e trabalho. Em realidade, porém, essas circunstâncias não têm poder verdadeiro. O Amor divino transforma e eleva a existência humana e não nos deixa no ponto para onde as circunstâncias difíceis parecem ternos conduzido. Existe uma promessa que me ajudou, particularmente quando eu pensava ter perdido alguns bens materiais: “Restituir-vos-ei os anos que foram consumidos pelo gafanhoto migrador...” (Joel 2:25). Permanece, pois, o fato espiritual de que Deus não deixa que Seus filhos “vegetem” nem retrocedam. Nossa vida nunca está perdida ou fracassada, pois nós somos, em realidade, a imagem e a semelhança da própria Vida. Nenhuma circunstância pode destruir o plano que Deus tem para Seus filhos, que inclui o bem, e somente o bem, para cada um de nós. Ter a consciência desse fato nos restitui, em realidade, tudo o que aparentemente perdemos e nos faz até esquecer o amargor dos anos de dificuldade!
Mary Baker Eddy, que descobriu a Christian Science, escreveu em seu livro Ciência e Saúde: “Aprendamos do real e eterno, e preparemo-nos para o reino do Espírito, o reino dos céus — o reino e o governo da harmonia universal, que não pode ser perdido nem pode permanecer para sempre invisível” (p. 208). Apesar do caos aparente, o reino e o governo divinos podem ser reivindicados e discernidos. Levamos esse reino da harmonia dentro de nós e o transmitimos aos que nos rodeiam.
Eu me lembro bem, durante o tempo em que estive com vocês, da alegria que vocês expressavam quando falávamos de nunca perder a coragem. É porque não ficávamos apenas dizendo palavras bonitas para manter a calma. Falávamos de realidades espirituais poderosas, das “boas novas”, que têm o poder de modificar situações individuais e nacionais.
Gosto da última parte do Salmo 23, que diz: “Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre.” A bondade e a misericórdia divinas são a herança que nos acompanha até mesmo durante os dias mais sombrios. E, em realidade, nenhum homem, nenhuma mulher e nenhuma criança jamais deixou a “Casa do Senhor”, a consciência do Amor, a doce certeza de que jamais poderemos estar separados da paz, do amor e do progresso que Deus, nosso refúgio verdadeiro, tem em abundância para todos nós.
