Há algum tempo, percebi que eu estava ficando viciado em Internet. Era freqüentador assíduo das salas de conversação e tinha mais de cinco endereços de e-mail. Quando percebi que não conseguia ficar nem um dia sem permanecer, por bastante tempo, diante do computador, dei-me conta de que o hábito chegara às raias do vício. Aí resolvi dar um basta.
Eu havia entrado em vários grupos de bate-papo com a melhor das intenções. Queria expressar idéias boas e elevadas e, se possível, ajudar os outros dessa forma. Como faz a maioria dos participantes, nesses grupos, eu assumi uma identidade "virtual". Havia o fascínio da descoberta de novas amizades, de tantas histórias de vida e de tantos lugares diferentes. A coisa se tornou um verdadeiro ritual diário: passar por todos os grupos, ler e responder com rapidez, para dar conta do movimento de várias "salas".
Aos poucos, fui percebendo que os assuntos discutidos não passavam de futilidades e não traziam nenhum proveito. Além disso, algumas pessoas entendiam mal meu desejo de ajudar, achando que eu tinha algum interesse pessoal ou segundas intenções. E nem sempre era fácil convencê-las do contrário.
Então, percebi que o que estava errado era essa questão da tal "identidade virtual". Ela não correspondia à realidade. Era apenas um exercício de imaginação, uma espécie de máscara. Era a vontade de fazer crer que eu tinha qualidades que, a bem da verdade, ainda não havia comprovado em minha vida diária. A tentação consistia em presumir que, através dessa identidade fictícia, parecia possível conquistar a admiração dos outros e exercer certo poder sobre eles.
O "virtual" é sempre "irreal". E aquilo que é de fato real sobre cada um de nós é nossa identidade espiritual à imagem e semelhança de Deus, que não é feita de matéria nem provém de algo que seja material. O mal não tem identidade espiritual e jamais toca nossa identidade verdadeira. Em Ciência e Saúde, a Sra. Eddy escreveu que "O mal é irreal por ser uma mentira — falso em todas as suas afirmações" (p. 527).
Afinal, percebi que essa identidade virtual, imaginária, era falsa. Uma vez identificado esse equívoco, não foi difícil quebrar o fascínio das salas de bate-papo. Mas precisei de firmeza em meu propósito. Percebi a importância de prestar atenção aos meus pensamentos, pois isso me ajudaria a alcançar o meu objetivo. Hoje, não tenho mais aquela voracidade por acessar a Internet, mas nem por isso deixei de usá-la. A diferença é que agora estou mais vigilante quanto aos meus motivos e propósitos.
A Internet pode cumprir o nobre ideal de unir e permitir que se compartilhem os conhecimentos científicos e é hoje uma enorme janela para o mundo das ciências e do pensamento. Porém, precisa ser usada com sabedoria, para que dê os bons frutos que dela esperamos. Toda a evolução tecnológica não pode nos fazer esquecer que o mais importante é a evolução espiritual. Evoluímos espiritualmente quando cumprimos cada vez mais o propósito bom e grandioso que Deus tem para cada um de nós. É a evolução espiritual que aproxima o pensamento da realidade divina, que é perfeita, harmoniosa, completa e não reside em nada que seja material. A tecnologia só é bem usada quando nos ajuda a aprender o que é útil e promove o bem. Iludir os outros e a nós mesmos, ainda que seja com boas intenções, não nos ajuda a crescer espiritualmente, pois Deus é Verdade. Deus está presente mesmo naquilo que chamamos de espaço cibernético. Por isso, ali também é preciso apresentar aquilo que é verídico, em vez de ilusório.
Por outro lado, o nosso progresso espiritual não depende da tecnologia. As obras e os ensinamentos de Cristo Jesus se difundiram pelo mundo muito antes de haver computadores e antes mesmo de ter sido inventada a imprensa. Isso porque as idéias espirituais têm por trás o poder de Deus. E esse poder é supremo agora, na Internet, como o era no tempo de Jesus. As tentações que às vezes aparecem, através dessa rede de computadores, não são mais fortes do que as outras que encontramos em outros ambientes. Nossa natureza espiritual como filhos de Deus nos dá acesso a um link inseparável da realidade espiritual.
