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Uma Crítica Literária Sobre Ciência e Saúde

Da edição de agosto de 2001 dO Arauto da Ciência Cristã


Quando, há alguns meses, telefonaram-me perguntando se eu poderia fazer uma crítica literária sobre Ciência e Saúde, eu estava trabalhando na versão final da coletânea dos meus contos para publicação e, para fazer uma pausa, havia aceitado fazer a crítica de um romance para o jornal The New York Times. Há anos faço críticas de livros para jornais americanos e, como gosto de ser tratada com justiça quando meu trabalho é criticado, também tento ser sempre justa.

A tarefa de escrever uma crítica justa e honesta sobre Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras de Mary Baker Eddy, me parecia assustadora. "Lamento", eu queria dizer aos redatores. "Não me atreveria a fazer essa crítica"! Leio e estudo Ciência e Saúde desde a adolescência e, juntamente com a Bíblia, ele já me ajudou a encontrar conforto, orientação e cura inúmeras vezes. Talvez pelo fato de significar tanto para mim, sempre achei difícil falar sobre esse livro com outras pessoas, quanto mais escrever a respeito dele.

Ler Ciência e Saúde é uma experiência muito pessoal. Creio que ninguém que o leia pela primeira vez conseguiria descrevê-lo duas vezes da mesma maneira. O último capítulo, intitulado "Frutos", contém relatos originais que datam do final do século XIX e início do século XX, feitos na primeira pessoa, sobre o efeito que o livro teve em alguns de seus leitores.

Outra razão para recusar-me a fazer a crítica deve-se ao fato de que, via de regra, as críticas literárias sérias estão relacionadas com o tempo. Devem ser feitas antes da publicação do livro, ou seja, antes de o resto do mundo ter a oportunidade de formar uma opinião coletiva a respeito dele. E muita coisa já foi dita sobre Ciência e Saúde desde sua primeira publicação, incluindo os agora famosos comentários de Mark Twain, que foi contemporâneo de Mary Baker Eddy, e sua não tão famosa retratação posterior. Assim, naquilo que, eu espero, se enquadre na melhor tradição da crítica literária — a oportunidade de um escritor enaltecer outro escritor, cujo trabalho ele respeita — tentarei fazer o melhor possível.

Como o título sugere, o livro compõe-se de duas partes. A primeira, Ciência e Saúde, tem 14 capítulos e um prefácio, que começa com uma afirmação encorajadora: "Para os que se apóiam no infinito sustentador, o dia de hoje está repleto de bênçãos" (p. vii). Evidentemente, o leitor pode muito bem questionar essa promessa, porém a maneira inteligente como o livro está estruturado nos convida a um aprofundamento, e não a uma mera observação superficial. Entre os assuntos abordados, como depreendemos dos títulos dos capítulos, encontram-se "A Oração", "O Matrimónio", "A Fisiologia" e "A Criação". A autora se solidariza com pensadores e artistas de vários séculos ao debater as questões mais primordiais da existência humana. Por que estamos aqui? Perante quem somos responsáveis? Existe algum poder que esteja acima de nós? O capítulo "Recapitulação" é composto de perguntas como essas, acompanhadas de respostas, no melhor estilo socrático.

A segunda parte do livro traz A Chave das Escrituras, incluindo os capítulos intitulados "Gênesis" e "O Apocalipse", além de um glossário de termos bíblicos. Uma das definições que mais aprecio é a do termo Mente: "O único Eu, ou Nós; o único Espírito, Alma, Princípio divino, substância, Vida, Verdade, Amor; o único Deus; ...a Divindade, que delineia, mas não é delineada" (p. 591).

Mas, a despeito da seriedade do tema abordado, o ponto forte desse livro é o fato de ele permanecer acessível a uma vasta gama de leitores, e por um período de tempo extraordinário. Há 125 anos, ele vem atraindo tanto pessoas de vida mais simples quanto profissionais de várias áreas. Crianças pequenas compreendem suficientemente algumas de suas explicações sobre o amor de Deus por elas, conseguindo curar a si mesmas, e até a outros, de problemas que vão de resfriados e picadas de inseto ao medo do escuro.

Ciência e Saúde é um livro que fala sobre possibilidades. Longe de prometer uma panacéia mística, sugere que as verdades atemporais que ele apresenta podem ser comprovadas pelo leitor. Em certo ponto, afirma: "Um conhecimento da Ciência do ser desenvolve as faculdades e possibilidades latentes do homem" (p. 128). Mesmo que a pessoa leia o livro, não com o objetivo de conseguir algo, mas para aprender a crescer espiritualmente, os "efeitos colaterais" da leitura podem ser ótimos! (Certa vez, li o livro do começo ao fim, apenas com o propósito de encontrar uma definição de humildade. Antes de terminar a leitura, estava curada de um problema no estômago que me incomodava havia uns dois anos, e que me causava dores constantes.)

Tanto do ponto de vista histórico quanto literário, Ciência e Saúde merece ser lido no contexto de outras obras do período Romântico americano do século XIX. Sua autora, que estudou desde pequena com o irmão, foi uma leitora voraz durante toda a vida. Uma rápida leitura revelará extensas citações que demonstram conhecimento não apenas da Bíblia (o que é, no mínimo, impressionante, dado o fato de as mulheres serem relegadas ao papel de ouvintes passivas nas questões teológicas da época), mas também das grandes obras da tradicional literatura ocidental. A Sra. Eddy se refere especificamente a Homero, Virgílio, Shakespeare, Milton, Chaucer, Sir Walter Scott e Alfred Lord Tennison, para citar apenas alguns. Leitores bem versados nas grandes obras também reconhecerão várias outras referências cuja fonte não é mencionada. A autora também faz ampla menção a personagens históricos, matemáticos e cientistas, compositores e artistas.

Evidentemente, como acontece com muitos livros, pessoas que estiverem lendo Ciência e Saúde pela primeira vez, provavelmente encontrarão trechos com os quais não concordam. Mas, se a leitura for feita considerando-se o contexto da história e da literatura, os detalhes do livro assumirão seu devido lugar, e o leitor poderá avaliar o livro pelo que ele representa, ou seja, um extraordinário empenho para encontrar uma resposta à inquietante pergunta que, diz-se, o magistrado romano Pilatos fez a Jesus: "Que é a verdade?" (João 18:38).

Afinal, talvez não seja má idéia fazer uma crítica literária a esta altura da trajetória de Ciência e Saúde. É preciso creditar à Igreja que a Sra. Eddy fundou, o fato de que seus seguidores são os responsáveis pelas contínuas publicações do livro. Mas esses mesmos seguidores costumavam, no passado, manter o livro para si mesmos, ou só compartilhálo em particular com aqueles que estavam em busca de alguma forma de cura. Talvez esteja na hora de dar a todos a oportunidade de ler e apreciar Ciência e Saúde.

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