Sempre levei uma vida ativa. Gosto de esquiar no inverno, velejar e passear de caiaque no verão. E, como pai de três crianças cheias de energia, sempre tive bastante exercício em casa.
Então, foi com um pouco de surpresa e desalento que, há alguns meses, uma noite depois do jantar, fui acometido de uma dor intensa na parte inferior do abdome. Era tão severa que comecei a me debater pelo chão. Estava sozinho em casa e fiquei muito assustado.
Consegui engatinhar até o telefone, mas a agonia era tanta que, durante um momento, me perguntei se deveria ligar para um pronto-socorro ou para um praticista da Christian Science, a quem recorrera em muitas ocasiões para me curar por meio da oração.
Logo em seguida, decidi telefonar para o praticista. Rapidamente, descarreguei nele meu relato doloroso. “Onde está Deus em tudo isso?”, perguntei-lhe. “Não consigo sentir a presença dEle, só sinto dor!”
O praticista me ouviu durante alguns momentos. Depois, com muita calma e firmeza, asseguroume que, apesar de tudo, Deus certamente estava presente. Deus é o único poder, portanto, eu estava a salvo.
Ele sugeriu que orássemos individualmente, mas com o único objetivo de reconhecer esses fatos. Pediu que eu ligasse para ele dentro de 15 minutos e acrescentou, com segurança e amor: “Depois você pode me telefonar de 15 em 15 minutos, quantas vezes precisar.”
Apesar das aparências, eu estava lidando, em primeiro lugar, com meu pensamento e não com uma condição física.
Antes de desligar o telefone, expliquei a ele que não era só a dor que me preocupava, mas um medo aterrador: medo de algo que nunca vivenciara antes, medo de estar sozinho durante uma crise como essa, medo de não conseguir lidar com a situação.
Conversamos sobre um trecho em Ciência e Saúde, no qual a fundadora do Arauto, Mary Baker Eddy, escreveu sobre a importância de nos apegarmos a Deus quando somos “tentados” pela “ilusão” da doença. Ela continua: “Não permitas que coisa alguma, a não ser Sua semelhança, permaneça no teu pensamento. Não deixes que o medo ou a dúvida obscureçam tua clara compreensão e tua calma confiança de que o reconhecer a vida harmoniosa — como o é eternamente a Vida — pode destruir toda sensação dolorosa daquilo que a Vida não é ou toda crença naquilo que ela não é” (p.495).
Eu conhecia muito bem essa passagem, mas me ajudou muito ser lembrado dela naquele instante, pois minha atenção foi voltada para uma lição importante que eu havia aprendido em ocasiões anteriores, quando orei para obter a cura: apesar das aparências, eu estava lidando, em primeiro lugar, com meu próprio pensamento e não com uma condição fisica.
Quinze minutos mais tarde, telefonei para o praticista de novo e concordamos que nada era mais urgente do que reduzir o medo e me aproximar de Deus. Ele assinalou a importância das palavras tentação e ilusão. Nem por um minuto eu deveria me sentir tentado a acreditar que Deus me houvesse criado para que eu estivesse preso a um corpo avassalado pela dor. Essa era a ilusão. A verdade era que eu sou filho de Deus e posso confiar, com toda segurança, em que Ele revela a perene harmonia da vida, com a qual todos são abençoados. Depois de vários telefonemas ao praticista naquela noite, pude dormir algumas horas.
No dia seguinte, a dor ainda estava presente, mas menos aguda. Não fui trabalhar, fiquei em casa e pedi que minha irmã viesse me visitar e ler hinos para mim, o que fez com muito prazer. Esta mensagem, em um dos hinos, me confortou bastante:
Quem no Amor habita,
Não sente mais temor;
Confiança irrestrita
Merece o Senhor.
Se ruge a tormenta,
Buscando me prostrar,
Com Deus que me sustenta
Não posso fraquejar.
(Hinário da Ciência Cristã, N° 148).
Em meio à calma que essas idéias me trouxeram, pude orar por mim mesmo com mais clareza. Comecei a perceber como o medo tinha me manipulado. A certa altura o temor era tão forte que não consegui pensar em mais nada. Era como uma voz que insistentemente me ameaçava: “Posso lhe causar tanta dor, que todo o resto desaparecerá; até a sua fé na presença de Deus será eliminada de sua consciência”. Esse era um estado mental no qual eu não sentia amor algum e onde eu não queria estar.
Naquela noite, mais uma vez senti uma dor atroz. Telefonei ao praticista novamente e lhe disse que, apesar de amar muito a Deus, eu não estava certo do que deveria fazer. Será que não fazia sentido, naquela hora, ir até um prontosocorro?
Nunca me esquecerei da resposta do praticista: “Jon, você pode ir para qualquer lugar onde se sinta amado”. Isso foi como um lembrete lindo e nítido de que eu era amado por Deus. Para sentir esse amor, eu não tinha de ir a lugar nenhum. Deus estava ali mesmo comigo, amando-me a todo instante. Eu não estava sozinho em casa. Estava com Deus e Ele comigo. Podia confiar nEle completamente, escutar com atenção o que Ele estava dizendo a meu respeito e sobre minha identidade real como um de Seus filhos.
Nesse momento, consegui me sentar em uma posição um pouco mais confortável e decidi escutar a Deus. Depois de passar uma hora nessa comunicação com Ele, percebi que a dor não estava mais me controlando. Uma sensação de Seu amor estava suplantando a dor. Então, adormeci. No fim do dia seguinte, já não sentia mais nada. Uma semana depois, fiz um passeio de caiaque, antes do final da temporada e levei as crianças a um pomar, numa serra íngreme, para colher maçãs.
O amor de Deus por todos nós é muito real. Esse amor elimina o medo, protege e cura, em todas as circunstâncias.
