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Matéria de capa

”Sorria e lhe darei uma flor”

Da edição de março de 2004 dO Arauto da Ciência Cristã


MULHERES

conversou com concepción Matilde Zorrilla de San Martin Münoz, mais conhecida como China Zorrilla, atriz uruguaia de cinema, teatro e televisão. Em dezembro de 2003 ela recebeu dois prêmios: Melhor Atriz Dramática, por seu papel na peça "O caminho para Meca"; e o Ás de Ouro, concedido pela Associação de Cronistas do Espetáculo, como Melhor Atriz, em Buenos Aires, Argentina.

Cheguei a Londres em maio de 1946. Recebi uma bolsa de estudos do Conselho Britânico para estudar teatro na Academia Real de Artes Dramáticas. Também morei em Nova Iorque e em Paris.

Por que a Sra. se tornou atriz?

É algo que está dentro de mim. Desde criança sonhava em fazer algo de destaque. Subir em um palco sempre me deu imenso prazer.

O que faço agora é muito emocionante para mim, pois estou com quase 82 anos e tenho o papel principal em uma peça de teatro. O tema é um desafio nos dias de hoje, visto que muitas pessoas vão ao teatro para se divertir com música, piadas e humor.

A peça se chama “O Caminho para Meca” e foi escrita por Athol Fugard, um autor sul-africano. Conta a história verídica de uma mulher que viveu em uma pequena cidade sul-africana e dedicou sua vida a criar esculturas, sem fins lucrativos.

Essa peça, aqui na Argentina, está fazendo tanto sucesso quanto um musical. Nunca pensei que isso fosse me acontecer, pela simples razão que não há papéis principais para uma pessoa como eu. Na minha idade, tenho de me conformar em representar uma boa avó, uma personagem circunstancial. Mas represento um papel de protagonista, que tem algo de mágico e atrai o público.

Muitas pessoas querem se divertir e rir, por isso são montadas comédias e musicais. Mas, há pessoas que se interessam por temas mais profundos. E para mim, na minha longa vida como atriz (mais de 61 anos), este é um marco.

Nasci no Uruguai e, quando era pequena, não havia teatro uruguaio, propriamente dito. Mas quando voltei, depois de estudar teatro em Londres, uma companhia oficial estava começando a desenvolver o teatro. Pude, então, ganhar a vida fazendo algo que que me encantava.

Depois, fui viver na América do Norte. Em Nova Iorque, trabalhava como professora de francês na Escola Browning e à tarde trabalhava no escritório de um teatro.

Era a década dos sessentas, a época dos hippies. Morei em Nova Iorque de 1964 a 1968. Estava lá quando Martin Luther King e Robert Kennedy foram assassinados.

A Sra. também chegou a ser hippie?

Os primeiros hippies eram encantadores. Antes das drogas, andavam pela Wall Street, distribuindo flores. Quando viam um banqueiro com sua pasta, os hippies lhe diziam: “Sorria e lhe darei uma flor”. E os banqueiros de Wall Street sorriam, talvez pela primeira vez naquele dia, enquanto os hippies colocavam uma flor na lapela de seu casaco. Depois, chegou o fantasma das drogas e tudo mudou. O movimento hippie era essencialmente pacifista. “Faça amor e não guerra”. Na época, não havia nada igual.

Que importância tem a espiritualidade em seu trabalho?

Interesso-me por tudo o que acontece no mundo, inclusive o espiritual, às vezes de forma muito inesperada! Como por exemplo, quando um homem, no Brasil, um trabalhador que o povo elegeu, diz ao mundo: “Vamos deixar de falar em guerras, há gente morrendo de fome”. Isso é tão simples; presidentes e reis, todos deveriam ter dito isso, mas nunca o dissemos.

A peça em que estou atuando agora é uma obra muito espiritual, pois toca o coração daqueles que seguem suas próprias convicções. E hoje em dia, as pessoas querem isso mais do que qualquer outra coisa. Há algum tempo participei de um programa de televisão conduzido por um homem muito atrevido, politicamente, mas também muito respeitado. Eu ia até ele para lhe dizer coisas bonitas. Certa noite, recitei-lhe um poema. A partir desse dia, nunca mais pude dizer nada que não fosse um poema. As pessoas ficaram felizes e começaram a pedir cópias do poema. A moral da história é que estamos dando guerras ao povo enquanto ele está pedindo poemas. Claro que estou simplificando as coisas, mas é assim que vejo o mundo. Isso me faz lembrar daqueles hippies, dizendo: “Faça amor e não guerra”.

Qual é seu gênero favorito de teatro?

Gosto muito do humor. O humor bem feito é uma lição de vida. Não me refiro ao humor debochado ou a piadas sobre sexo. Embora eu seja de descendência espanhola, admiro muito o humor inglês, que é um humor fino. E diria que nasci com o dom de dizer frases para que as pessoas riam. Embora esteja fazendo agora “O caminho para Meca”, já estou sonhando em interpretar uma comédia. O riso é algo que as pessoas necessitam.

Quando estudava teatro em Londres, vi Dolores Gray, a atriz americana, em “Bonita e Valente” (Annie get your gun), na qual fez o papel de Annie Oakley e interpretou a famosa canção “Tudo o que você fizer, posso fazê-lo melhor... Posso fazer tudo melhor que você”. Durante o dia, essa atriz estudava teatro na Academia Real de Artes Dramáticas. Chegava cedo, sentava-se conosco e ouvia os professores falar sobre o teatro inglês. Decorava o texto, assistia às aulas e à noite ia para o teatro atuar. É uma lição de disciplina que nunca esqueci.

O que a Sra. diria aos jovens?

Que continuem estudando, porque o panorama mundial muda muito e com muita velocidade. Às vezes, tantas coisas boas acontecem que temos de esperar até o último minuto. Precisamos ser otimistas, porque as coisas podem se ajeitar de forma inesperada. Diria a eles também que o sol sempre volta a despontar.

Quando vim morar na Argentina, uma senhora me pediu um autógrafo, o que não acontecia no Uruguai. Achei graça e escrevi meu nome, China Zorrilla. E ela disse: “escreva algo bonito, além da sua assinatura”. Debaixo do meu nome, escrevi a palavra “paz”. E a partir daí, já faz 34 anos que vivo na Argentina, toda vez que assino meu nome, acrescento a palavra “paz”. E gostaria de me despedir com essa palavra que hoje, mais do que nunca, é minha palavra favorita: PAZ.

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