Há alguns meses, enquanto dirigia na bela região rural de Cotswold a caminho da Escola Dominical da Christian Science onde leciono, pensava, em espírito de oração, sobre a aula que daria. Ponderava sobre o papel das perguntas e respostas, tanto no ensino como no aprendizado. Dou aulas para alunos maiores e, naquela manhã, iniciei a aula perguntando-lhes se gostariam de falar sobre algum assunto específico. Um dos alunos perguntou como orar, com relação aos ataques terroristas ocorridos em Londres. A Lição Bíblica daquela semana, constante do Livrete Trimestral da Christian Science, incluía o relato da luta de Jacó com o anjo, em Peniel (ver Gênesis 32). Concordamos em que a situação de Jacó era muito relevante para o que iríamos analisar. Jacó estava em perigo e, por isso, com medo. Contudo, sua oração prevaleceu (versículo 28). Ele e sua família foram salvos. Passamos o resto da aula discutindo a experiência de Jacó, como uma ilustração da orientação e da proteção de Deus, quando as circunstâncias nos causam medo.
Algumas vezes, uma história e um personagem bíblicos podem parecer muito distantes da nossa realidade. Decidi partilhar com a classe um exemplo em que as circunstâncias nas quais me encontrava eram ameaçadoras.
Certa vez, quando estava em um local de escavações arqueológicas de ruínas romanas, em Cartago, na Tunísia, uma colega e eu fomos convidades para jantar com um professor universitário, que estava visitando o norte da Āfrica durante suas férias de verão. Foi uma oportunidade para lhe mostrar a parte antiga da cidade de Tunis e ter uma refeição característica da região. Minha amiga e eu éramos viajantes experientes e ambas falávamos um pouco de árabe. Depois de uma noite agradável, voltamos para a estação de trem e embarcamos para nossa curta viagem a Cartago.
Era muito tarde e, naquela cultura, não era normal mulheres andarem sozinhas, tarde da noite. Via-se claramente que não éramos residentes locais. Quando entramos, o trem estava praticamente vazio, mas inesperadamente, começou a lotar de rapazes. Mais tarde, soubemos que houvera um show de Rock na cidade, que acabara exatamente naquela hora. O vagão não tinha assentos, portanto minha amiga e eu fomos para um cantinho. O trem saiu da estação e pouco depois, parou. Pela janela não conseguíamos ver nada. Alguns homens saíram do vagão para ver o que havia causado a parada imprevista. Alguns retornaram, mas o trem não prosseguia.
A atmosfera no vagão mudou. Começaram a nos empurrar e intimidar. O tom da conversa se tornou hostil. Naquele momento, alguém gritou: “Fora ianques”. Éramos as únicas mulheres e as únicas estrangeiras no vagão. Fiquei em pânico. Ninguém na escavação sabia onde estávamos e não havia nenhuma maneira com a qual pudéssemos nos defender fisicamente. Era como se fôssemos vítimas inocentes em uma situação que se deteriorava.
Essa não era a primeira vez em que me encontrava numa situação que possa chamar de incidente terrorista (nem foi a última) e, como nas outras vezes, orei a Deus por proteção. Lembro-me de ter pensado que aquelas pessoas não poderiam ser incitadas a uma ação pela qual, mais tarde, pudessem ser punidas. Afirmei que tanto aquelas pessoas como minha amiga e eu estávamos protegidas pela lei do Amor divino e por trás da minha oração, estava a convicção de que Deus governa a todos nós, quer saibamos disso ou não. Esse sentido de proteção abrangente foi muito forte.
Naquele momento, um homem mais velho disse algo e os homens começaram a discutir entre si. Estávamos longe da porta aberta. À medida que as pessoas se voltaram para conversar umas com as outras, abriu-se uma passagem para a saída. Senti-me impelida a pegar na mão de minha amiga. Juntas, caminhamos por entre a multidão e saímos do trem. Ninguém nos seguiu. Encontramos a estrada principal e caminhamos o resto do caminho até o local da escavação. Mais tarde, lembrei-me da história de Jesus passando incólume pela multidão que tencionava jogá-lo penhasco abaixo (Lucas 4), como também da ocasião em que ele passou intacto por uma multidão que planejava apedrejá-lo (João 8). Esses dois relatos bíblicos tornaram-se muito reais para mim e continuam a servir como uma convicção de que estamos seguros, mesmo quando o perigo parece iminente. Lembro-me, freqüentemente, da clareza da oração de proteção que fiz por todos nós, naquela noite, e como ela se apossou do meu pensamento.
Mary Baker Eddy, a Fundadora desta revista, escreveu: “Os bons pensamentos são uma armadura impenetrável; assim revestidos, estais completamente resguardados contra os ataques do erro de qualquer espécie. E não só vós estais protegidos, mas também todos aqueles sobre os quais repousam vossos pensamentos, são dessa forma beneficiados” (The First Chruch of Christ Scientist and Miscellany, p. 210). Todos nós, naquele vagão, vivenciamos aquela segurança.
Houve também uma ocasião em que levei um grupo de estudantes para visitar a parte antiga da cidade de Jerusalém e, de repente, ouvi gritos da polícia e vi alguém correndo em nossa direção. Outra vez, alguns meses após a guerra Árabe-Israelense, uma multidão de jovens começou a balançar o carro no qual eu era passageira. Nessas ocasiões, e em várias outras, quando me sentia ameaçada e em perigo, recorri à oração e à convicção de que cada um dos envolvidos era governado por Deus. Como resultado dessa oração, nem eu nem ninguém que estava comigo jamais sofreu qualquer dano.
Proteção e segurança não são uma questão de sorte. Deus não nos coloca em situação de perigo e podemos beneficiar a nós mesmos como também abençoar os outros pelo reconhecimento desse fato, exatamente como Jacó o fez. Seja qual for a situação ameaçadora ou perigosa, todos podemos sentir e vivenciar a proteção divina.
