Estava impedido de me mover e enroscado em um emaranhado de espinhos. Há menos de uma hora, saíra para uma caminhada pelas montanhas de New Hampshire, nos Estados Unidos. Era agosto, verão no hemisfério norte, e as árvores e os arbustos estavam em pleno desenvolvimento. A uma pequena distância montanha acima, o caminho estava obstruído por ramos de amora-preta. Contudo, não me preocupei e segui em frente a passos largos.
Quase que instantaneamente minha caminhada foi detida pelo som e a sensação de centenas de espinhos dos ramos dilacerando minhas roupas e ferindo minha pele. Não podia mover-me sem rasgar as roupas ou me arranhar dolorosamente. A única coisa que poderia fazer seria desenganchar cada espinho com muito cuidado e seguir em frente.
Foi isso que fiz. Comecei com um ramo que estava profundamente enganchado no tecido de minha camisa, removendo cuidadosamente os espinhos do tecido, até libertá-lo completamente, deixando-o balançando-se atrás de mim. Fiz isso com vários ramos, até que finalmente fiquei livre para dar o próximo passo. Foi aí que comecei a achar que esse processo de me desvencilhar dos espinhos tinha uma semelhança espiritual profunda com minha própria vida.
Quando tinha uns vinte e poucos anos, alguns relacionamentos particularmente difíceis com mulheres levaram-me a ficar frente a frente com questões sexuais e interpessoais que continuavam surgindo entre nós. Sentia-me enredado no que pareciam ser desejos intensos e irreconciliáveis, confusão e medo a respeito de minha auto-estima. Muito freqüentemente, sentia-me pressionado a ter relacionamentos nos quais não me sentia bem. A forma pela qual via meus colegas viverem, como também a maneira na qual havia vivido no passado, já não me satisfazia.
Desejava um relacionamento feliz e duradouro
Desejava um relacionamento que fosse seguro, feliz e duradouro. Não que não tivesse havido belos exemplos dessas qualidades em todos os relacionamentos que tivera. Contudo, cada um desses ternos relacionamentos havia sido prejudicado, de uma maneira ou outra, por medo de compromisso, de ser a relação errada para mim e, principalmente, medo de sair ferido ou de magoar a outra pessoa.
Durante alguns anos, à medida que continuava a sair com diferentes mulheres, orava em busca de orientação. Como resultado, percebi que precisava colocar meu relacionamento com Deus em primeiro lugar em minha vida. Comecei a deixar que Deus me ajudasse na orientação de minhas escolhas sobre com quem me relacionar e a esperar mais dos meus relacionamentos do que o fizera no passado. Descobri que não tinha de forçar para que um relacionamento desse certo. Podia apenas deixá-lo ajustar-se. Se um relacionamento não era adequado, eu podia abrir mão dele, porque sempre teria o amor de Deus. Conseqüentemente, o caminho ficava cada vez mais claro para mim.
Ficou fácil perceber que o afeto, os gracejos, a inocência, o apoio, e o cuidado que eu compartilhava com as mulheres, estavam totalmente separados do anseio, desejo sexual e necessidade de depender de outra pessoa para elevar meu sentimento de auto-estima. Consegui reconhecer que o lado bom dos meus relacionamentos provinha de Deus e que era totalmente separado de elementos de fraqueza e dor. Eu podia então escolher quais sentimentos queria em minha vida e quais não desejava.
Não tinha de aceitar o ruim juntamente com o bom. Podia aceitar somente o bom e deixar para sempre o ruim para trás. Esse foi meu processo de separar o joio do trigo, e de desenganchar os espinhos de minha vida.
“Na Ciência Cristã jamais se dá passo para trás...”
Uma das grandes verdades na metáfora dos espinhos é que, uma vez que você tenha se desvencilhado e se libertado deles, eles não têm mais nenhum poder para voltar a alcançá-lo e prendê-lo novamente. De volta à montanha, cada vez que desenganchava os ramos espinhosos, eu os deixava se balancar atrás de mim, sem causar qualquer problema. Descobri que o mesmo vale para meu progresso espiritual. Como escreveu Mary Baker Eddy: “Na Ciência Cristã jamais se dá passo para trás; jamais há retorno a posições ultrapassadas” (Ciência e Saúde, p. 74).
Não tinha de aceitar o ruim juntamente com o bom. Podia aceitar somente o bom e deixar para sempre o ruim para trás. Esse foi meu processo de separar o joio do trigo, e de desenganchar os espinhos de minha vida.
Às vezes, parece que existem incontáveis ramos de espinhos a serem removidos de nossa vida, mas podemos fazê-lo. A cada passo do caminho, Deus está conosco, tornando-nos mais fortes, revelando nossa pureza e bondade. Como pude constatar, quando iniciamos o trabalho de nos desvencilhar e colocar a Deus em primeiro lugar, não há nada mais gratificante do que constatar nosso progresso. Minha vida se tornou mais leve e menos oprimida. Meus relacionamentos parecem mais seguros, mais respeitosos e generosos.
Nada nos faz progredir mais em nosso caminho, do que a paciente disposição de remover os espinhos de nossa vida e deixá-los calmamente de lado ou para trás.
