Uma em quatro. Uma em três. Talvez a metade. Essas são as estimativas da proporção em que homens e mulheres são envolvidos em violência doméstica, conforme nos foi apresentado, há algum tempo, durante um painel de debates (“Painel sobre Violência Doméstica: Conscientização e Engajamento de Comunidades Religiosas e Não-Religiosas”, 30 de novembro de 2006), realizado pela Harvard Divinity School (Escola de Teologia de Harvard).
Os Centros Federais de Controle de Doenças estimam que, o que eles denominam “violência íntima do parceiro”, ou seja, física, sexual ou a violência psicológica entre cônjuges, ex-casais ou outros casais, afeta cerca de 32 milhões de pessoas nos Estados Unidos.
Entretanto, esse número não leva em conta o abuso de crianças e de dependentes idosos, o que acrescenta um número enorme de pessoas que são atacadas dentro da própria família, que deveria ser a fonte de cuidados, confiança, conforto e sustento.
O que sabemos com certeza?
Deixei aquele painel de debates sentindo uma grande compaixão pelos vários sobreviventes de abusos, que haviam compartilhado suas histórias. Senti gratidão e admiração por tudo o que cada um havia feito, no sentido de redimir suas próprias experiências e mostrar aos outros como evitar sofrerem como eles haviam sofrido.
Contudo, ansiava também por trazer os ensinamentos de Cristo Jesus e da Ciência Cristã para me ajudar nesse difícil asunto. Quando era criança, meu pai às vezes perguntava: “O que você sabe com certeza”? Isso significava uma maneira alegre de ele perguntar como estava indo o meu dia. Mais recentemente, descobri que esse tipo de pergunta também é útil para questões complexas e confusas, semelhantes a esse tópico sobre “violência íntima do parceiro”. Portanto, perguntei a mim mesma: “O que eu sei com certeza”? Eis o que me veio ao pensamento:
• Que a exigência de Cristo Jesus para que amemos o nosso próximo como a nós mesmos, um dos dois “grandes mandamentos” (ver Mateus 22:39) que ele nos deu, é o padrão-ouro nos relacionamentos humanos. Atingir esse padrão não é tarefa de um momento. Contudo, não existe ninguém que não seja merecedor de tal amor abnegado ou que seja incapaz de oferecê-lo. Tudo o que em nossos relacionamentos esteja aquém desse padrão precisa, em última análise, desaparecer.
• Que precisamos ser claros sobre a diferença entre o amor de Deus, que é o próprio Amor divino, e a afeição humana. “Nós O amamos [Deus], porque ele nos amou primeiro” diz a Bíblia (ver 1 João 4:19). Quando o amor que trazemos aos nossos relacionamentos humanos é a superabundância do nosso amor em resposta ao amor de Deus, estamos sobre terreno sólido. Então, não seremos arrastados pelas marés da inconstância do temperamento humano, das falhas de caráter e do comportamento perigoso. Somos capazes de amar livremente, a partir de uma posição segura e firme, e não de uma carência emocional.
• Que a idéia de Deus como Pai-Mãe, que inclui tanto firmeza quanto ternura, separada dos conceitos humanos de gênero, pode ajudar àqueles que estão em busca de um caminho para fora do deserto da violência íntima. Isso contraria as imagens mentais, difundidas universalmente, de Deus como uma figura masculina autoritária, ameaçadora, distante, sempre censurando, imagens que oprimem tanto a homens quanto a mulheres.
• Que a Ciência Cristã apresenta uma visão de identidade ancorada na inteireza. Homens e mulheres, aos quais Mary Baker Eddy se refere de forma coletiva em Ciência e Saúde como “homem”, não devem ser vistos como fragmentados ou incompletos, ou como um conjunto de impulsos inadequados e anseios frustrados. Ao contrário, o homem é “a representação completa da Mente [Deus]”, sem “uma só qualidade que não derive da Divindade” (ver Ciência e Saúde pp. 591 e 475). Essa plenitude, essa inteireza, permite a cada homem e mulher se relacionar com outras pessoas, de forma completa e segura.
No painel de debates, que incluía alguns membros de igrejas e jovens pastores em treinamento, um dos desafios que vieram à tona foi: “Como falar ao agressor que está no banco da igreja”? Ficou claro que muitos no grupo achavam difícil interferir, de forma construtiva, fazendo com que as pessoas reconhecessem seus próprios problemas e buscassem ajuda.
Essa mensagem do Cristo pode fazer com que tanto as vítimas como os agressores percebam que a propensão ao abuso não faz parte de seu verdadeiro ser...
Sobre isso, podemos afirmar em oração que o Cristo, que, conforme Ciência e Saúde define, é: “a mensagem divina de Deus aos homens, a qual fala à consciência humana” (p. 332), está em ação. Essa mensagem do Cristo pode fazer com que tanto as vítimas como os agressores percebam que a propensão ao abuso não faz parte do seu verdadeiro ser, mas, ao contrário, essa propensão pode ser descartada da mesma maneira como se descarta uma vestimenta que não serve mais.
Como membros da família humana, podemos, com responsabilidade, orar juntos sobre essa questão e esperar encontrar oportunidades de aplicarmos a inspiração que nos advém como resultado. Talvez sejamos levados a participar de alguma organização na comunidade, a proporcionar um apoio prático a um amigo durante uma situação difícil ou a atender a um pedido específico por ajuda espiritual.
À medida que cada um de nós acalentar e elevar o próprio conceito sobre o que a amizade, o casamento e a família podem e devem ser, nossas afirmações melhorarão a atmosfera do pensamento na comunidade mais ampla e farão com que a mensagem do Cristo seja mais facilmente ouvida por todos.
