Recentemente, um amigo e eu visitamos o site Myspace.com, onde visualizamos inúmeras pessoas de todos os perfis. Descobri que esse site é parada obrigatória para quase 200 milhões de internautas que navegam pela rede, a maioria representando a juventude de hoje. Isso significa uma enorme subdivisão da sociedade. Assim como no site Orkut, qualquer pessoa pode criar uma página no Myspace para se expor, por meio de colagem de fotos, lista de favoritos (filmes, canções, times para os quais torce), idéias, blogs, e assim por diante. As pessoas podem, inclusive, publicar gravações de suas próprias músicas ou promover alguma causa favorita.
Cada página era especial e, à medida que as examinava, comecei a ponderar como cada um se identifica a si próprio. Quais são as forças reais, por meio das quais se permite que as identidades individuais sejam moldadas? Muitas coisas podem estar em jogo.
Sob um aspecto positivo, por exemplo, e a exposição do sentimento muito difundido de que, no íntimo, as pessoas são amorosas, compassivas e estão prontas para ajudar o próximo, mesmo que esse esteja do outro lado do globo. Do lado negativo, há forças tais como a mídia, que declara que nossa identidade e dignidade começam e terminam no aspecto físico, em especial no desempenho e apelo sexuais. Essas forças são tão constantes que facilmente passam despercebidas, um pouco semelhante à poluição crônica de uma grande cidade e que, depois de algum tempo, até esquecemos que está presente.
A alegria, que constitui nossa real individualidade, é espiritual
De uma forma geral, as páginas pessoais que visitei no Myspace apresentavam celebrações energéticas da própria pessoa, tais como seus bons amigos, suas festas animadas e as boas causas que defendem. Entretanto, a meu ver, algumas realizações pessoais não eram dignas de ser celebradas; me pareciam de baixo nível, como se alguém tivesse entrado em um shopping virtual materialista, onde as pessoas se identificavam estritamente como seres sensuais, em busca de aventuras sexuais.
Compreender onde a sexualidade se enquadra na vida das pessoas é muito positivo. Contudo, identificar-se inteiramente como um objeto sexual? Isso me parece um ponto de vista um tanto míope. Teriam as pessoas, que se autopromovem nesses termos, inadvertidamente aceitado sem restrições o bombardeamento da mídia? Teriam fechado os olhos para os inúmeros pontos positivos dentro delas mesmas, tais como seus próprios talentos e habilidades especiais para construir uma vida que pudesse fazer a diferença, talentos que poderiam, por exemplo, ajudar na cruzada contra o aquecimento global, projetar uma prancha de surfe melhorada ou tornar agradável o dia de uma pessoa com necessidades especiais, como a invalidez?
À medida que continuava minha pesquisa para descobrir uma maneira mais completa de definir o verdadeiro eu de alguém, esta passagem de Ciência e Saúde se destacou: “A alegria isenta de pecado—a perfeita harmonia e imortalidade da Vida, a qual possui ilimitada beleza e bondade divinas sem qualquer prazer ou dor corpóreos—constitui o único homem verdadeiro, indestrutível, cujo ser é espiritual” (p. 76). Percebi que aqui estava algo extremamente importante.
A alegria que constitui nossa individualidade real é espiritual... Essa alegria não nos afasta da prática de atividades gratificantes e altruístas, ou da nossa dignidade, e é isenta de pecado.
Como a Mente divina, Deus, que tudo sabe, vê cada um de nós?
Sempre me chamou a atenção o conceito de que um dos significados do antigo termo grego para pecado é “errar o alvo”. A alegria que constitui nossa individualidade real é espiritual e, de fato, não pode errar o alvo. Essa alegria não nos afasta da prática de atividades gratificantes e altruístas, ou da nossa dignidade, e é isenta de pecado. Creio que o que as pessoas verdadeiramente desejam ver e sentir é uma identidade que não erra o alvo com relação a quem elas realmente são como filhos e filhas de Deus.
Descobri que tentar absorver aquela passagem inteira de Ciência e Saúde em uma única leitura era como tentar engolir um copo de milk-shake em um só gole. Era melhor saboreálo, pensei, de gole em gole. Foi o que fiz. Um amigo sugeriu: “Faça um diagrama disso como lhe ensinaram na escola. Pegue o sujeito, o verbo e o objeto”. Ótimo conselho! O sujeito: a alegria. O verbo: constitui. O objeto: o homem.
Incrível:“A alegria constitui o homem”. Isso abriu um caminho inteiramente novo para que eu identificasse a mim mesmo, como também as pessoas ao meu redor, como homens e mulheres criados por Deus. Contudo, conseguiria eu verdadeiramente ver a mim mesmo e aos outros como constituídos de alegria isenta de pecado? De perfeita harmonia? De beleza e bondade divinas?
José não acreditou na noção de que era um objeto sexual
Poderia eu realmente ver a mim e a todos como não constituídos de prazer e dor corpóreos? Aqui estava um desafio, porém bem-vindo, o de mudar os padrões pelos quais eu identificava tanto os outros como a mim mesmo, a partir de um ponto de vista de gênero, aspecto físico e de traços pessoais, para o ponto de vista fundamentado na profunda beleza e inteligência que Deus vê em todos.
Realmente, chegamos à questão de fazer a Grande Pergunta: Como Deus me identifica? Como a Mente divina, Deus, que tudo sabe, vê cada um de nós?
Compreendi que,quando alguém se identifica da maneira como Deus o faz, ou seja, como Sua expressão amada, plena de alegria (ao invés de um mortal ansioso para ser aceito), então, a importância de qualidades superficiais começa a perder sua influência. Até mesmo a veiculação contínua na mídia de mensagens do tipo: “você não é nada mais do que um ser sexual”, perde impacto.
Como Deus me identifica? Como a Mente divina, Deus, que tudo sabe, vê cada um de nós?
É a mensagem da verdade que vem de Deus à humanidade que leva a nos identificarmos como nosso Pai celestial o faz
Naturalmente, essas mensagens não são novidade. Hoje em dia, elas apenas vêm acondicionadas na mais nova tecnologia. Consideremos, por exemplo, o relato bíblico da busca contínua de José para encontrar sua verdadeira identidade e missão na vida. Logo no início, ele parece ser uma criança promissora, mas com um enorme ego e pouca sensibilidade com relação aos que estavam ao seu redor, talvez semelhante àquele garoto atacante do time de futebol da escola, que é astro, tanto no campo como na classe, mas que irrita os outros porque se sente superior aos demais. O pai de José o admirava tanto que parecia tratar José com um injusto favoritismo em relação aos seus irmãos, e eles temiam por suas próprias heranças. Seus irmãos então o atacaram e acabaram por vendé-lo como escravo.
Contudo, apesar de ser escravo, José finalmente acaba em uma posição de autoridade na casa de um homem poderoso chamado Potifar. A todo o momento, José volvia-se a Deus em oração. Conseqüentemente, sua identidade real, juntamente com seu propósito na vida, iam sendo moldados e tornavam-se claros.
Então, acontece outro revés. A esposa de Potifar tenta seduzi-lo (ver Genesis 37-39). Embora não tenha lidado com a situação de forma perfeita, ele age corretamente, uma vez que não se permitiu ser seduzido. Evidentemente, José não se vê como um objeto sexual e também não acreditou que ela o fosse. Estaria ele começando a se identificar mais como seu Pai celestial já o identificava? Parece-me que sim.
Como semelhança de Deus, em realidade, permanecemos firmes como o homem e a mulher da criação de Deus, incapazes de se deixarem seduzir
Seguem-se mais adversidades na vida de José, antes que ele finalmente seja alçado a um poderoso cargo de liderança. Mas, o caminho está traçado. Da mesma maneira que ele não se deixou seduzir pela esposa de Potifar, ele não se deixa mais seduzir pelo seu próprio ego. A Verdade, Deus, está se tornando suprema para ele. Como conseqüência, sua identidade, como o homem da criação de Deus, aparece.
Hoje, também, é a mensagem da verdade que vem de Deus à humanidade que leva a nos identificarmos como nosso Pai celestial nos vê, não como sensuais, mas, ao contrário, como a manifestação da pura afeição de Deus, como os jubilosos e realizados filhos e filhas de um Pai inabalavelmente amoroso. Mary Baker Eddy chamou essa mensagem de Cristo.
Sim, às vezes, realmente parece como se influências sutis, e não tão sutis, rodopiam em nossa vida, trazendo promessas de popularidade, beleza e amor, porém de forma estritamente unidimensional ou física. Embora essas promessas talvez nos deixem sentir poderosos, freqüentemente a sensação é temporária e não demora muito para que a exaltação se transforme em um poço de frustração.
Identifiquemos a nós mesmos da maneira que somos vistos aos olhos do Pai, espirituais, satisfeitos, inteligentes, completos, belos e, sim, felizes e realizados.
A identificação espiritual nos possibilita viver a vida que faz uma diferença positiva
Por outro lado, as mensagens do Cristo que provêm de Deus nos alçam a maiores alturas, com a confirmação de que, como semelhança do Pai, realmente permanecemos firmes como filhos e filhas da criação de Deus que não se deixam seduzir, compostos de bondade e harmonia, de imortalidade e indestrutibilidade e de permanente beleza.
Essas qualidades espirituais, que estão no cerne de quem realmente somos, não se apagam nem substituem nossa própria masculinidade ou feminilidade. Elas a enriquecem e são eternamente imutáveis e centrais à nossa identidade. “Essa noção científica do ser”, escreveu Mary Baker Eddy, “que abandona a matéria pelo Espírito, não sugere de modo algum a absorção do homem na Divindade nem a perda de sua identidade, mas confere ao homem uma individualidade mais desenvolvida, uma esfera mais ampla de pensamento e de ação, um amor mais expansivo, uma paz mais elevada e mais permanente” (Ciência e Saúde, p. 265).
Experimentemos isso. Identifiquemos a nós mesmos da maneira como somos vistos aos olhos do Pai, espirituais, satisfeitos, inteligentes, completos, belos e, sim, felizes e realizados. Essa identificação nos capacita a ter uma vida que faz uma diferença positiva, a ser verdadeiramente aqueles que fomos designados para ser, de forma permanente e divina.
