Os ideais morais ajudam a formar e definir nosso mundo. Quer gostemos ou não, mais cedo ou mais tarde eles irão definir fatores em nossa vida pessoal.
Talvez usemos palavras como valores e ética. Ou mesmo preceitos espirituais, bondade, virtude. Seja qual for o termo que escolhamos, sua influência é inevitável, quando se trata da profundidade e da substância fundamentais de seu significado em nossa vida. É bem provável que os valorizemos e vivamos de acordo com esses conceitos. Às vezes é possível resistir a eles ou, até mesmo, rejeitá-los. Contudo, eles assumirão o controle do nosso propósito de vida. Eles são forças divinas irresistíveis que inevitavelmente conquistam nossa obediência, bem no âmago do nosso ser.
As analogias normalmente têm suas limitações, mas tente visualizar dois círculos, um acima do outro. Nós os chamaremos de círculos morais. O de cima talvez possa ser descrito como nossa forma de amar, incluindo a nós mesmos e aos outros. O círculo de baixo será nossa forma de respeitar os outros e ser solicito para com eles.
Um amor crístico
O círculo mais elevado poderia simbolizar o chamado de Cristo Jesus para amarmos a Deus de todo o coração e ao próximo, como a nós mesmos (ver Mateus 22:37-39). Expressar o único tipo de amor que Jesus conclamava que expressássemos é um dos maiores mandamentos morais de todos os tempos. Tanto antes como após sua época, as pessoas que tendem à espiritualidade têm ponderado sobre o significado desse amor expansivo.
Pode parecer natural amar as pessoas que nos são próximas. Mas é natural amar o vizinho ao lado também? A vizinhança toda e muitos outros além dela? Em toda a Bíblia, aparece o chamado para ampliarmos o círculo. Cristo Jesus amou como nenhuma outra pessoa jamais amou. Literalmente, sua vida representou o Amor universal que é Deus. Ele amava não somente aos seus concidadãos judeus, mas, contrariamente à tradição de sua época, também aos samaritanos. Eis aqui um símbolo notável de ampliação do círculo. Essa base ampliada da afeição espiritual curava. Essa é a forma pela qual podemos reconhecer o grau e a sinceridade da afeição espiritual e crística que irá curar.
Talvez achemos que estejamos expressando razoavelmente bem o amor genuíno, demonstrando solicitude profunda por outras nacionalidades, culturas, tribos, raças. Entretanto, esse círculo de amigos é apenas um começo. O que dizer das outras formas de vida, por exemplo, que porventura ainda possam ser descobertas no universo? Não será que provavelmente as temeríamos ao invés de amá-las, especialmente se a natureza dessas formas de vida fosse muito além da diversidade apresentada em Guerra nas Estrelas? A esse respeito se pode ponderar sobre o significado da alusão velada de Jesus, enquanto se preparava para passar além desse atual senso de existência, de que ele tinha outras ovelhas para cuidar (ver João 10:16).
Mary Baker Eddy explicou em Ciência e Saúde que: "O Amor é imparcial e universal na sua adaptação e nas suas dádivas" (p. 13). Aprender a adaptar-se e a fazer concessões universalmente, talvez seja a maior demonstração de humildade que possamos fazer. No entanto, é um mandamento divino de que esse círculo se expanda, tanto em profundidade como em amplitude. O senso ilimitado do amor de Jesus destruía o fanatismo, o medo, o preconceito, todos os estados mentais que obscureciam a percepção da individualidade como espiritual. Era isso que Jesus via. Ele via e amava todas as identidades espirituais dadas por Deus. Ora, isso é verdadeiramente abrangente.
Jesus amava, e os resultados eram bênçãos. A mão ressequida de um homem foi curada (ver Mateus 12:10-13). Uma mulher abandonou uma vida promíscua (ver João 8:1-11). Um homem abriu os olhos e viu pela primeira vez em sua vida (ver João 9:1-7). Outro saiu do sepulcro (ver João 11:1-44).
Jesus nos conclamou a amar como ele amava. Nosso círculo é ainda comparativamente limitado. Quanto mais nosso amor for semelhante ao do Cristo, mais curas acontecerão. Deus é Amor e uma consciência verdadeira do amor se move para fora, não para dentro. De fato, ele se amplia rapidamente. Conforme Ciência e Saúde coloca: "... o pensamento se expande em expressão" (p.225).
Solicitude e respeito
Há ainda um outro círculo. Este círculo, a solicitude e o respeito que expressamos a nós mesmos e aos outros, é descrito nos Dez Mandamentos e no Sermão do Monte. Essas regras podem parecer restritivas a uma mente humana que anseia transpor as fronteiras que elas impõem.
O imperativo moral do primeiro círculo é ser cada vez mais inclusivo em nossa abrangência. O propósito moral do segundo círculo é abrigar e proteger. Quando permanecemos dentro desse círculo, estamos protegidos e o progresso é mais seguro. Ele nos proporciona a capacidade para vivenciar o círculo do amor, que cura. Sob um aspecto importante (e em contraste com o primeiro círculo), o segundo círculo permanece uma constante, mesmo em meio a pressões crescentes para impedi-lo e para forçá-lo.
Por exemplo, a disciplina talvez possa parecer severa, se vivermos estritamente dentro do mandamento de não invejar. Quero dizer, como podemos não sentir apenas um pequeno desejo por aquela casa incrível que outra pessoa possui, pelo cargo que alguém alcançou, pelo físico que outra pessoa desenvolveu ou pela vida que certa pessoa tem? Será que não existe pelo menos um pouco de flexibilidade (para a mente humana) nestas duras palavras: "Não cobiçarás..." (Êxodo 20:17)?
O que dizer sobre roubar? Até mesmo uma pequena falsificação em uma dedução do imposto de renda seria um assalto a esse círculo? Ou um comentário feito pelas costas de alguém, que lhe roubaria a alegria se o ouvisse, seria forçar os limites? Além disso, temos realmente de perdoar o próximo uma vez e depois outras 489 vezes (ver Mateus. 18:21, 22)?
Então, vem aquela palavra com "S" (sexo). Poderia mesmo Jesus ter dito que uma pessoa não possa desfrutar de alguns pensamentos sensuais, mesmo que fossem mantidos sob controle, bem escondidos (ver Mateus 5:27, 28)? E o que dizer do mandamento de Moisés sobre limitar a atividade sexual (ver Êxodo. 20:14)! Seria esse um círculo verdadeiramente sério, o sexo mantido liberalmente além dos limites?
Os personagens bíblicos, que discerniram a lei moral, eram mais do que próximos de Deus. Eles o ouviam e, então, viviam Sua presença. Eles não eram pudicos ou apenas um pouco ingênuos sobre sexo. Eles eram profundamente perceptivos a respeito do valor e do significado de disciplinar as tendências sexuais. Eles estavam nos ajudando a descobrir o segredo que nos capacita a despertar da mortalidade e a praticar o amor crístico que cura. Estavam nos mostrando como esse círculo de solicitude protege e desenvolve nossa capacidade de demonstrar aquele círculo maior do amor espiritual.
A Bíblia traça e mantém firme o círculo moral quando se trata de sexualidade. Ela provê uma afeição mais terna entre marido e mulher para que procriem. Contudo, além dessa exceção, a linha é muito clara, limitadora e restritiva. As pressões de hoje são fortes e exigem uma expansão desse círculo, conduzindo para relações pré-maritais e extramaritais, como também para a aprovação pública de uma vasta gama de práticas sexuais. O resultado pode ser de instabilidade individual e coletiva e, eventualmente, confusão sobre o entendimento de como a solicitude e o respeito levam ao amor crístico que transforma espiritualmente a vida das pessoas.
Ceder a essas pressões pode trazer desordem aos relacionamentos. De um ponto de vista legal, político e intelectual, a expansão de práticas sexuais tem lógica e parece, freqüentemente, estar se movendo sem parar, como um rolo compressor! Não se sabe onde isso vai parar. É inconsistente levantar uma sanção contra uma determinada prática sem, em última análise, tolerar outras. Contudo, de um ponto de vista moral, existe um trunfo. No final, descobriremos que as idéias representadas por esses dois círculos, o restritivo que protege a maneira como respeitamos e somos solícitos uns aos outros, e o círculo do amor espiritual que se expande, foram bem concebidos. Eles foram projetados por aqueles que estavam próximos o bastante de Deus para reconhecer o tipo de conduta moral que seria mais adequada para nos afastar para bem longe daquilo que degenera, rumo àquilo que regenera. Para além da materialidade, rumo à espiritualidade.
Não há nada de errado em uma pessoa sentir afeição crística pelo seu próximo. De fato, é correto sentir essa afeição gentil. Todos iremos descobrir finalmente nosso caminho rumo a esse ideal. Contudo, a natureza da mente humana consiste em bagunçar as coisas; deixá-las de cabeça para baixo. Ela encolheria o círculo superior e expandiria o outro. Quando isso acontece, e o círculo inferior se amplia, estamos ativando forças que podem levar a um tipo de desintegração do sistema de imunização mental. Perdemos uma proteção importante.
Por que a moralidade é importante? Por que deve haver esse círculo inferior com regras que permanecem constantes, de fato, imutáveis? Porque honestidade, pureza, integridade, inocência, humildade e disciplina espiritual fornecem um abrigo vital. Elas são qualidades que promovem o progresso individual e coletivo. Elas estabelecem um fundamento para um amor espiritual que cura.
Julgar?
Embora várias escrituras sagradas e indivíduos de visão espiritual reverenciem esses dois círculos, a maioria de nós, em diferentes ocasiões e de maneiras diversas, é tentada a reduzir o círculo maior e a ampliar o círculo menor. Talvez a questão mais importante não seja simplesmente definir os círculos. É nossa atitude mental em relação àqueles que estão perdendo a luta, valorizá-los, ou voluntariamente ignorá-los. Especialmente à luz da advertência bíblica: "Não julgueis...", em contraste com o encorajamento: "...[julgueis] pela reta justiça" (João 7:24), e à do fato de que os pensamentos e as ações daqueles que rejeitam os círculos possam também facilmente afetar, de forma adversa, os pensamentos e as ações de todos os demais.
Cristo Jesus corrigia as pessoas para que agissem corretamente. Mesmo quando suas palavras eram duras, elas eram ditas em um contexto de tanto amor, que naturalmente proporcionavam a cura.
Ninguém na história do mundo tratou esse dilema com tanta eficácia quanto Cristo Jesus. Literalmente, ele corrigia as pessoas para que agissem corretamente. Mesmo quando suas palavras eram duras, elas eram ditas em um contexto de tanto amor, que naturalmente proporcionavam a cura. Ele demonstrava tanto do círculo superior, que levava as pessoas a aceitarem o círculo inferior. Isso estabelecia um curso que finalmente as capacitaria a amar como ele amou.
Não é de se admirar que Ciência e Saúde insista em que: "É preciso ter o espírito de nosso bendito Mestre para falar a um homem acerca de seus defeitos e arriscar-se, assim, a incorrer no desagrado humano por querer agir bem e beneficiar a espécie humana" (p. 571). À medida que nossa vida é aromatizada com mais desse espírito do Cristo, nossas palavras e pensamentos ajudarão os outros a sentir o desejo de viver de acordo com esses círculos bíblicos.
Por mais difícil que possa parecer, este mandamento é tão importante hoje como quando Jesus o proferiu: "... que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros" (João 13:34). Na linguagem dos círculos, talvez a orientação do Cristo nos dias de hoje seja: Abençoar e curar a todos que ignoram os círculos, da mesma forma que você espera ser abençoado e curado. Acalentar a moralidade e contemplar os outros à luz da inocência espiritual nos ajudará a agir corretamente, abençoará e nutrirá nossa própria espiritualidade e nossa capacidade de curar com um amor como o do Cristo.
