É difícil imaginar um bebê inocente deitado em uma manjedoura, conforme diz a tradição, como alguém que viria transformar o mundo, sem contudo ter se tornado presidente de uma multinacional, de uma grande nação, ou um profissional de comunicação eloquente. Mesmo quando Jesus ainda era menino, a clareza de seu pensamento e sua confiança em Deus eram excepcionais. Ele estava sempre "em ação", mas nunca buscava sua própria glória. Ao contrário, ele "cuidava constantemente dos negócios do Pai", como declarou aos 12 anos de idade (ver Lucas 2:49, conforme a versão da Bíblia King James).
Para aqueles que têm fome de fama e glória, quer seja na área da política, dos negócios, do entretenimento ou em muitos outros setores, a vida de Jesus oferece uma poderosa mensagem. Existem vitórias de curto prazo, mas também vitórias para a eternidade, uma diferença sutil, porém importante. A turbulência financeira que ainda repercute na economia global e o egoísmo expresso nos negócios, na política, e em outros setores, exemplificam o que acontece quando vencer acima de tudo se torna o único interesse, e a um alto custo. O antídoto para essa tentação é visto na vida dessa criança judia que, prosseguindo em sua carreira, passou a pregar a todos que o quisessem ouvir, e a oferecer sua vida para salvar a humanidade. Não importa o quão materialmente humilde tenha sido sua origem, suas realizações não puderam ser ignoradas.
Mary Baker Eddy escreveu detalhadamente sobre a humildade de Jesus, em "Um Sermão de Natal": "Aquele que serviu de ponto de partida para datar o tempo, ou seja, a era cristã, e que abarca a eternidade, foi o homem mais manso sobre a terra. Ele curava e ensinava pelos caminhos, em lares humildes: ao que era hipócrita por completo e aos discípulos lentos em aprender, ele explicou a palavra de Deus, a qual desde essa época tem amadurecido em interpretação por meio da Ciéncia Cristã" (Miscellaneous Writings [Escritos Diversos], 1883-1896, p. 163).
Humildade não significava falta de vontade de exercer a autoridade espiritual que Deus lhe outorgara. Em seu diálogo com uma mulher samaritana na fonte de Jacó, ele se identificou abertamente como o Messias, quando disse: "Eu o sou, eu que falo contigo" (João 4:26). Além disso, em alguns dos mais beligerantes embates com os escribas e fariseus, Jesus foi um oponente difícil de derrotar.
A diferença era que seus comentários não tratavam, em realidade, do seu "eu", Jesus, mas sim "dEle", da bondade, da permanência e do amor de Deus, não apenas dirigidos a esse Filho especial, mas a todos os Seus filhos. Tudo o que dizia e fazia se referia diretamente a seu Pai celestial. Quando aquele a quem chamamos de "Mestre" disse: "Eu nada posso fazer de mim mesmo..." (João 5:30), ele não estava sendo simplório. Ele implicitamente confiava em Deus em todos os momentos, até para enfrentar a tortura e a crucificação.
Devido à sua espiritualidade, obediência e convicção do poder infinito e da boa vontade de Deus, Jesus estava disposto a entregar tudo a Ele. O resultado dessa confiança foi a fama que transcendeu até a própria fama, e a glória que transcendeu até a própria glória.
Diante da atmosfera moral de hoje, existem muitas tentações, uma das quais é o desejo de se tornar mais rico, mais poderoso, mais audacioso, ou mais bonito que todos os demais. Para alguns, isso leva a uma concorréncia impiedosa que degrada colegas e humilha rivais. Para outros, pode levar à fascinação pela remodelação corporal e pela última moda. A desvantagem dessas abordagens é que elas estão fundamentadas no medo, certamente no medo do fracasso, mas também no medo de não atingir o objetivo ou no de que outros nos derrotem e se tornem vitoriosos. Qualquer uma dessas abordagens desencadeia uma reação e, por fim, um resultado. Enquanto o medo estiver no comando, não existe nenhuma segurança e o impulso para eliminar os rivais a qualquer custo é intenso.
Isso representa um contraste muito marcante quando comparado à vida de Jesus. Claro, dificilmente sua vida esteve livre de pressão. Com um grande número de pessoas vindo até ele em busca de cura, ele não pôde ter uma vida inteiramente tranquila. Mas, talvez ele tenha tido, pelo menos em alguns aspectos, essa tranquilidade, uma vez que Jesus não confiava em sua personalidade física ou intrepidez metafísica. Ele confiava em Deus.
Como a época de Natal oferece oportunidades de se ponderar o poder do Cristo que Jesus expressava, essa mensagem sobre o humilde poder do Mestre e sua fama espontânea, não procurada, é um padrão a ser seguido. Ela nos faz lembrar da nossa própria necessidade de conhecer a mensagem do Cristo mais plenamente na vida diária, de trazer seu toque sanador e transformador a este mundo cansado. Isso pode parecer uma tarefa hercúlea, mas encontraremos um caminho seguro e inspirado, se pudermos nos lembrar apenas de uma coisa: nunca se trata de nós, mas dEle.