A primeira impressão que tive da Bíblia foi a de que devia ser o maior livro do mundo. Quando visitávamos meus avós todos os anos, sempre encontrava tempo para medir o enorme livro cinza que ficava sobre uma mesa especial na sala da frente, e verificar se ele realmente tinha quinze centímetros de espessura, vinte e cinco de largura e trinta e cinco de comprimento.
Vovó se referia à Bíblia com frequência, e sempre procurava certificar-se de que meu irmão e eu ainda sabíamos recitar os Dez Mandamentos e as Bem-Aventuranças. Em seguida, pedia-nos para falar sobre as novas histórias que havíamos lido na Bíblia. Certa vez perguntou: "Qual é a melhor coisa sobre a Bíblia"? Respondi: "Ora, que ela é minha", principalmente porque acabara de ganhar uma novinha no Natal! Lembro-me da maneira como ela sorriu ao ouvir isso.
De qualquer modo, aconteceu que, durante muitos anos, a Bíblia realmente parecia como se fosse minha, uma boa amiga. Quanto mais a lia, mais me sentia próxima dos personagens das histórias, ou seja, pessoas comuns, pastores, ricose e pobres, pescadores, agricultores, crianças, aqueles que ouviam a Deus, e muitos dos que tiveram experiências extraordinárias.
Estou certa de que meu afeto precoce pelas histórias levaram-me, alguns anos mais tarde e para minha felicidade, a ensinar na Escola Dominical. Ainda me lembro de uma turma de alunos que cursava o ensino médio e gostava de fazer perguntas e discutir sobre as coisas. Certo domingo, duas meninas chegaram cedo e anunciaram que precisavam saber mais sobre segurança.
"Como você sabe se está em segurança?", perguntou-me uma delas, antes mesmo que eu tirasse o casaco. "Será que se sentir seguro e de fato estar em segurança é a mesma coisa?" A outra menina perguntou: "Isso não depende de quem você é e onde está? Acho que você pode estar em um lugar seguro e ainda assim sentir medo. Talvez isso tenha muito a ver com o que você espera".
Um terceiro aluno chegou. Ele trouxe à baila a história de Daniel na cova dos leões, que estava na Lição Bíblica Semanal da Ciência Cristã. Ele disse que apostava que o resultado surpreendente daquela situação insegura dependeu do fato de os leões terem sido alimentados recentemente ou não.
O humor e a honestidade eram naturais em nossa classe, mas também sabia que os alunos eram realmente atraídos aos pontos espirituais da Bíblia. Por isso, citei um versículo do livro de Provérbios: "Quem teme ao homem arma ciladas, mas o que confia no Senhor está seguro" (29:25). Decidimos que Daniel devia ter feito exatamente isso, uma vez que ele disse ao rei: "O meu Deus enviou o seu anjo e fechou a boca aos leões, para que não me fizessem dano, porque foi achada em mim inocência diante dele; também contra ti, ó rei, não cometi delito algum" (Daniel 6:22).
Não posso acreditar nisso", disse a menina que havia iniciado a discussão em primeiro lugar. "Será que isso realmente aconteceu?" Eu nunca duvidara da veracidade da história sobre a cova dos leões, portanto, decidi contar uma experiência real que acontecera comigo na faculdade.
Pensei sobre um provérbio e comecei a sentir que podia confiar em Deus e estar em segurança
Um amigo, que era um exímio nadador, desafiou-me a nadar com ele atravessando um imenso rio que tinha fortes correntezas. A meio caminho, percebi que estava em perigo. Fortes ventos e ondas apareceram de repente. Entrei em pânico e comecei a engolir muita água. Afundei várias vezes. Não havia nenhum sinal do meu amigo. Aquele foi uma espécie de "momento da verdade" em minha vida. Nunca havia estado em perigo antes, completamente sozinha, ou precisando seriamente de ajuda. Contudo, o incrível foi que pensei naquele provérbio e comecei a sentir que podia confiar em Deus e estar segura.
Pensei naquele provérbio e comecei a sentir que podia confiar em Deus e estar segura.
Então, ali mesmo em meio àquelas ondas escuras enormes, algumas das palavras de Mary Baker Eddy vieram-me ao pensamento, palavras muito vivas e íntimas: "Gentil presença, gozo, paz, poder... / Refúgio verdadeiro é o Amor... / Seu braço cinge a mim..." (Hinário da Ciência Cristã, 207). Num minuto eu estava arquejando em busca de ar, no outro estava boiando facilmente. Comecei a nadar lentamente de volta à terra, onde meu amigo esperava ansiosamente por mim.
A classe ficou em silêncio. Uma das meninas calmamente perguntou: "Como você sabe que não foi apenas a sorte que a salvou"? Respondi: "Sei apenas que fui do pânico à total calma e paz. Como você sabe quando uma vela é acesa na mais completa escuridão? Está escuro e, de repente, vem a luz". Um dos meninos acrescentou: "Esse rio pode ser muito perigoso. A sorte não poderia ter ajudado. Foi como na história de Daniel. Deus enviou o Seu anjo".
Foi então que compreendi mais claramente, naquela sala de aula com aqueles alunos honestos, que a Bíblia é de fato minha, e de todos.
